terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Edições de 2009 - (Poesia)

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A Prespectiva da Morte:
(20-2) Poetas Portugueses do Século XX

selecção e prefácio de Manuel de Freitas
Assírio & Alvim, Lisboa
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O Anel do Poço

Paulo Teixeira
Edit. Caminho, Lisboa
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Os Cantos de Maldoror (Poesias I & II)

Isadore Ducasse (Conde de Lautréamont)
tradução de Manuel de Freitas
Prefácio de Silvina Rodrigues Lopes
Antígona, Lisboa
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Um Circo no Nevoeiro

Renata Correia Botelho
Averno, Lisboa
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O Viajante sem Sono

José Tolentino Mendonça
Assírio & Alvim, Lisboa

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Jukebox 1 & 2

Manuel de Freitas
Teatro de Vila Real, Vila Real
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Axis -Mundi
O Jogo de Forças na Lírica Portuguesa Contemporânea
(ensaio)

Nelson de Oliveira
Ateliê Editorial., S. Paulo, Brasil

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Puer natus est nobis

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Puer natus est nobis




Dos contos de fadas da
minha infância, este da Divina
Criança era dos mais maravilhosos. Não
faltaram os exóticos magos guiados
pela mística estrela, a noite gelada, os
mansos animais, o desvalido ermo, a pobreza
transformada em glória. O bem
sucedido parto de uma virgem, tantos séculos
antes das pesquisas genéticas. O pior
foi quando quiseram contar o Tempo
a partir desta história. Podiam ter escohido
outra, com um fim menos cruel. Antes
a da Cinderela ou a do Príncipe Sapo, onde
todos viveram felizes para sempre. Sempre?
E o que é

Sempre?

I. L.

A Disfunção Lírica, & etc, 2007, Lisboa

sábado, 19 de dezembro de 2009

Novas edições

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Poemas Portugueses
Antologia da Poesia Portuguesa do séc XIII ao séc XXI

Selecção, organização, introdução e notas de Jorge Reis-Sá e Rui Lage
Prefácio de Vasco Graça Moura
Porto Editora, 2009

Retratos de Álvaro Cunhal
(por vários artistas plásticos e escritores)

Modo de Ler ed. & livreiros e Edições Afrontamento, Porto, 2009

sábado, 12 de dezembro de 2009

A imprevisão do fruir

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«Se leio com prazer esta frase, esta história ou esta palavra, é porque todas foram escritas no prazer (este prazer não entra em contradição com os lamentos do escritor). Mas o contrário? O escrever no prazer garantir-me-á - a mim escritor - o prazer do meu leitor? De modo nenhum. Esse leitor é necessário que eu o procure, (que eu o "engate"). Sem saber onde ele está. Cria-se então um espaço da fruição. Não é a "pessoa" do outro que me é necessária, é o espaço: a possibilidade de uma dialéctica do desejo, de uma imprevisão do fruir: que os dados não estejam lançados, que exista um jogo».

BARTHES, Roland, O Prazer do Texto, ed. 70, Lisboa, 1980, p. 37

Edição original: Le Plaisir du Texte, Éditions du Seuil, Paris, 1973

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

"Texto-tagarela"?

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Há dias, relendo Barthes, no seu "O Prazer do Texto", reencontrei a definição ajustada para certas "escrevências" (outra definição barthesiana), com que, às vezes nos deparamos, nas livrarias, nos suplementos cultuirais e nos blogues; pequenos intimismos familiaes pacóvios, ou ainda mais pacóvios e mesquinhos incidentes de trabalho ou de cama, alinhavados com "boutades" de pechisbeque e topónimos ou antropónimos reconhecíveis, para dar uma ideia de actualidade e de novo.
Velho esquema, que nem nos dá o prazer do reencontro com os topos culturais, nem a fruição sobressaltada do inusual, do que sendo fora-de-si, será também fora-de-nós.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Florbela Espanca










(Vila Viçosa, 8: dez:1894 - 8: dez:1930, Matosinhos)



Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!




quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Schiller/Beethoven

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Ludwig van Beethoven estava quase totalmente surdo quando compôs a sua nona sinfonia.
A Philharmonic Society of London ("Sociedade Filarmônica de Londres"), atual Royal Philharmonic Society (Sociedade Filarmônica Real"), comissionou originalmente a obra, em 1817. Beethoven começou a trabalhar nela no ano seguinte, e a terminou no início de 1824, doze anos depois de sua sinfonia anterior. Seu interesse pela Ode à Alegria, no entanto, se iniciou com suas inúmeras tentativas de musicar o poema, ocorridas desde 1793.
O tema do scherzo pode ter suas origens traçadas a uma fuga escrita em 1815. A introdução para a parte vocal da sinfonia causou diversas dificuldades para Beethoven. Foi a primeira vez que se tentava utilizar um componente vocal numa sinfonia. Anton Schindler, célebre amigo de Beethoven, disse posteriormente: "Quando ele começou a trabalhar no quarto movimento, a batalha recomeçou, mais intensa do que nunca. Sua meta era a de encontrar uma maneira apropriada de introduzir a ode de Schiller. Um dia ele [Beethoven] entrou na sala gritando: 'Consegui, consegui!' E então me mostrou um caderno com as palavras cantemos a ode do imortal Schiller'". No entanto, esta introdução acabou nunca chegando à obra final, e Beethoven ainda passou muito tempo reescrevendo aquela parte até que ela atingisse a forma conhecida atualmente.

Beethoven estava ansioso para ver sua obra executada em Berlim o mais rápido possível, após terminá-la. Acreditava que o gosto musical de Viena estivesse dominado por compositores italianos como Gioacchino Rossini. Quando seus amigos e patronos ouviram isso, insistiram para que ele estreiasse a sinfonia em Viena.
A Nona Sinfonia foi executada pela primeira vez no dia 7 de maio de 1824, no Kärntnertortheater, juntamente com a abertura Die Weihe des Hauses ("A Consagração da Casa") e as primeiras três partes da Missa Solene. Esta era a primeira aparição do compositor sobre um palco em doze anos; a casa estava cheia. As partes para soprano e contralto da sinfonia foram executadas por duas jovens e famosas cantoras da época, Henriette Sontag e Caroline Unger.
Embora a performance tenha sido regida oficialmente por Michael Umlauf, mestre de capela do teatro, Beethoven dividiu o palco com ele. Dois anos antes, Umlauf havia presenciado a tentativa do compositor de reger um ensaio de sua ópera, Fidelio, que terminou em desastre, e desta vez pediu aos cantores e músicos que ignorassem Beethoven, então já totalmente surdo. No início de cada parte, Beethoven, sentado ao palco, dava indicações de tempo, virando as páginas de sua partitura e dando marcações à uma orquestra que não podia ouvir. O violista Josef Böhm escreveu: "O próprio Beethoven regeu a peça; isto é, ele ficou diante do atril e gesticulou furiosamente. Em certos momentos se erguia, noutros se encolhia no solo, e se movimentava como se quisesse tocar ele mesmo todos os instrumentos e cantar por todo o coro. Todos os músicos não prestaram atenção ao seu ritmo enquanto tocavam."
Alguns relatos de testemunhas sugerem que a execução da sinfonia na noite de estréia teria sido pouco apurada, devido ao pouco número de ensaios que haviam sido realizados (apenas dois com a orquestra inteira). Por outro lado, foi um grande sucesso. Enquanto a platéia aplaudia - os testemunhos não deixam claro se isto teria ocorrido no final do scherzo ou da sinfonia - Beethoven, que, em sua "regência", ainda estava atrasado em diversos compassos em relação à música que havia acabado de ser executada, continuava a reger, acompanhando a partitura. Então, a contralto Caroline Unger teria ido a ele e o virado em direção ao público, para aceitar suas exortações e aplausos. De acordo com um dos presentes, "o público recebeu o herói musical com o mais absoluto respeito e simpatia, e ouviu às suas criações maravilhosas, gigantescas, com a mais concentrada das atenções, irrompendo em jubilantes aplausos, frequentemente durante os movimentos, e, repetidamente, ao fim de cada um." Toda a platéia o aplaudiu de pé por cinco diversas vezes; lenços foram erguidos ao ar, assim como chapéus e mãos, para que Beethoven, que não podia ouvir o aplauso, pudesse ao menos vê-lo. Beethoven deixou o concerto extremamente comovido.


Estrutura

A sinfonia está estruturada em quatro movimentos, marcados como:
Allegro ma non troppo, un poco maestoso
Scherzo: Molto vivace - Presto
Adagio molto e cantabile - Andante Moderato - Tempo I - Andante Moderato - Adagio - Lo Stesso Tempo
Recitativo: (Presto – Allegro ma non troppo – Vivace – Adagio cantabile – Allegro assai – Presto: O Freunde) – Allegro assai: Freude, schöner Götterfunken – Alla marcia – Allegro assai vivace: Froh, wie seine Sonnen – Andante maestoso: Seid umschlungen, Millionen! – Adagio ma non troppo, ma divoto: Ihr, stürzt nieder – Allegro energico, sempre ben marcato: (Freude, schöner Götterfunken – Seid umschlungen, Millionen!) – Allegro ma non tanto: Freude, Tochter aus Elysium! – Prestissimo: Seid umschlungen, Millionen!
Beethoven mudou o padrão costumeiro das sinfonias clássicas, ao colocar o scherzo antes do movimento lento. Esta foi a primeira vez que ele fez isso numa sinfonia, embora tivesse feito o mesmo em outros tipos de composições, como os quartetos op. 18 números 4 e 5, o trio para piano "Arquiduque" op. 97, e a sonata para piano op. 106 "Hammerklavier").


"Ode à Alegria" de Friedrich Schiller, em alemão
(segundo o manuscrito de Beethoven)

Baixo

O Freunde, nicht diese Töne!
Sondern laßt uns angenehmere
anstimmen und freudenvollere.
Freude! Freude!

Baixo. Quarteto e coro

Freude, schöner Götterfunken
Tochter aus Elysium,
Wir betreten feuertrunken,
Himmlische, dein Heiligtum!
Deine Zauber binden wieder
Was die Mode streng geteilt;
Alle Menschen werden Brüder,
Wo dein sanfter Flügel weilt.
Wem der große Wurf gelungen,
Eines Freundes Freund zu sein;
Wer ein holdes Weib errungen,
Mische seinen Jubel ein!
Ja, wer auch nur eine Seele
Sein nennt auf dem Erdenrund!
Und wer's nie gekonnt, der stehle
Weinend sich aus diesem Bund!
Freude trinken alle Wesen
An den Brüsten der Natur;
Alle Guten, alle Bösen
Folgen ihrer Rosenspur.
Küsse gab sie uns und Reben,
Einen Freund, geprüft im Tod;
Wollust ward dem Wurm gegeben,
Und der Cherub steht vor Gott.

Tenor e coro

Froh, wie seine Sonnen fliegen
Durch des Himmels prächt'gen Plan,
Laufet, Brüder, eure Bahn,
Freudig, wie ein Held zum Siegen.

Coro
Seid umschlungen, Millionen!
Diesen Kuß der ganzen Welt!
Brüder, über'm Sternenzelt
Muß ein lieber Vater wohnen.
Ihr stürzt nieder, Millionen?
Ahnest du den Schöpfer, Welt?
Such' ihn über'm Sternenzelt!
Über Sternen muß er wohnen.
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(tradução em português)

Baixo

Ó, amigos, mudemos de tom!
Entoemos algo mais prazeroso
E mais alegre!

Baixo. Quarteto e coro

Alegria, formosa centelha divina,
Filha do Elíseo,
Ébrios de fogo entramos
Em teu santuário celeste!
Tua magia volta a unir
O que o costume rigorosamente dividiu.
Todos os homens se irmanam
Ali onde teu doce vôo se detém.
Quem já conseguiu o maior tesouro
De ser o amigo de um amigo,
Quem já conquistou uma mulher amável
Rejubile-se conosco!
Sim, mesmo se alguém conquistar apenas uma alma,
Uma única em todo o mundo.
Mas aquele que falhou nisso
Que fique chorando sozinho!
Alegria bebem todos os seres
No seio da Natureza:
Todos os bons, todos os maus,
Seguem seu rastro de rosas.
Ela nos deu beijos e vinho e
Um amigo leal até a morte;
Deu força para a vida aos mais humildes
E ao querubim que se ergue diante de Deus!

Tenor e coro

Alegremente, como seus sóis voem
Através do esplêndido espaço celeste
Se expressem, irmãos, em seus caminhos,
Alegremente como o herói diante da vitória.

Coro

Abracem-se milhões!
Enviem este beijo para todo o mundo!
Irmãos, além do céu estrelado
Mora um Pai Amado.
Milhões se deprimem diante Dele?
Mundo, você percebe seu Criador?
Procure-o mais acima do Céu estrelado!
Sobre as estrelas onde Ele mora!

(extraído da Wikipédia)

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Bestas-feras

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Uma besta-fera em versão masculina, assassimou a mulher, dentro da ambulância que a ia transportar, já sovada e ferida ao hospital da Figueira da Foz, acabando por assassinar mais um soldado da GNR e ferir outro. Foi em Montemor-o-Velho, PORTUGAL, Europa, quase em 2010! Não estamos no Afeganistão, no Paquistão e noutros sítios de "sharia" e "fatwas".

Para quando a PRISÂO PERPÉTUA para estes psicopatas perigosos?

Não há "casas -abrigo" nem campanhas contra a violência doméstica, que erradiquem esta selvajaria sanguinolenta, se não houver penas severíssimas para estes assassinos brutais.
Com as penas reduzidas a metade, por "bom comportamento", estes malvados, indignos de existir, safam-se ao fim de meia dúzia de anos.


Adenda: A filha do assassino e da falecida, de 5 anos de idade, também ficou ferida, pois acompanhava a mãe, na ambulância.
(Notícia do Telejornal da RTP-1, às 20 horas de hoje).

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

FELINUS

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A Maria Tobias era preta
e branca. Na parte branca era
Tobias e era Maria na preta. Morou
connosco cinco anos. No sexto, numa
quinta-feira santa pôs-se a dormir
depois de um longo jejum. Ficaram-nos
nas mãos festas desabitadas e os poucos
haveres: uma malga, uma manta, um bebedouro,
que não logramos enviar
para a nova morada.


I. L.
2009

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Parábola das "escutas" com vernáculo

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Sim, já sabemos que não contêm qualquer ilícito criminal, as suas conversas privadas, ao telemóvel, durante 6 meses, indevidamente espiadas. Mas, já agora é de grande interesse nacional e patriótico saber se chamou puta a alguém, ou mandou alguém para o caralho.



Nota: Depois de ver o Programa "Prós & Contras", lembrei-me dos Juízes dos Tribunais Plenários e dos "crimes contra a segurança do Estado".
Gente sinistra.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Morte de Franz Schubert a 19 de Novembro de 1828, em Viena, aos 31 anos de idade

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DAS LIED IM GRÜNEN



Amava naquele Lied uma infância
de peixes brilhantes, quedas de água,
incomparáveis prados, poldros
de olhos meigos, o jardim de Inverno
para as confidências e as pequenas
traições. A grande biblioteca
com bafo de capela. O mistério
oculto no vestuário dos homens e
nas lágrimas das mulheres. O dorso
do pai levando-a adormecida
para o leito, no quarto ermo
povoado de infindáveis, a lassidão
melódica feria um corpo
demasiado escasso
para a morte.

in Um Quarto com Cidades ao Fundo, Quasi, 2000
I. L.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Excertos desconhecidos

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Não faço versos por vaidade literária. Faço-os pela mesma razão por que o pinheiro faz resina, a pereira, peras e a macieira, maçãs: é uma simples fatalidade orgânica.

Guerra Junqueiro

(in prefácio à 2.ª edição de "A Velhice do Padre Eterno")

sábado, 14 de novembro de 2009

Furunculose

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Será que alguém, honestamente acredita, que espremer o grande furúnculo da atávica e colectiva trafulhice nacional, pela cabeça de Sócrates, melhora o país?
Saímos de 3 eleições e andam a brincar aos procuradores, aos repórteres justicialistas e às certidões da sucata?
Chega de farisaísmo e cretinice!!!

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

MUROS

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O dito , era na realidade, dois: Um virado para Oeste e outro para Leste. No meio havia a chamada terra-de-ninguém, com arame farpado e minas.
Muita gente não sabe que Berlim era uma "ilha" isolada no meio da Alemanha Oriental. E era uma cidade sobre ocupação: sector americano, francês, russo (os velhos aliados que derrotaram o nazismo). A parte "russa" era a parte oriental da cidade, onde ficava a Iorre da Televisão (200 metros acima do solo, em Alexander Platz), a Deutsche Opera e o magnífico Museu Pergamon, com reconstituições de pasmar, de frisos do Parténon e demais estatuária palmada da Grécia antiga e de outras civilizações do Próximo e Médio Oriente, pelos exércitos e frotas dos conquistadores modernos.

Evidente que os turistas tinham que obter vistos, apresentar passaporte, trocar os marcos ocidentais pelos da DDR, etc. A "vistoria" era rigorosa. Lembra-me que levava numa das orelhas um brinco de artesanato argentino, que tinha comprado em Kantstrasse, do lado "capitalista" e que a funcionária muito teutónica que estava no guichet do posto de controle, fez um gesto imperativo, para que eu mexesse no brinco, não fosse ocultar entre o dito e o cabelo algum objecto de espionagem.... ou projéctil secreto.
Isto foi em 1986.

Em 9 de Novembro de 1989, devo ter sido dos primeiros portugueses, que receberam a notícia cerca das 21 horas, por um telefonema da minha filha, que frequentava, à época, a Escola Superior de Música, na parte ocidental. Corri à televisão, liguei a rádio,...nada.
Telefonei a uma pessoa amiga, que perguntou ingenuamente:
"E caiu, de que lado?".

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Scorpius

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Hoje, 6 de Novembro, fazia anos Sophia de Mello Breyner Anddresen (1919).
Faz anos Mário Cláudio (1941).
Ambos nascidos no Porto.


TRADUZIDO DE KLEIST



Dizem que no outro mundo o sol é mais brilhante
E brilha sobre campos mais floridos
Mas os olhos que vêem essas maravilhas
São olhos apodrecidos

S. de M. B. A.
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CASTELO DO QUEIJO


No labirinto de ferros amolgados,
o submarino repousa,
ao largo do
Castelo do Queijo.

Gira um goraz de pinta,
sobre
a cruz gamada que
o atrito das areias apagou.

E quanto à secreta carga de lingotes de oiro,
duas caveiras aguardam,
de aberta queixada,
no heil derradeiro.

M. C.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Jorge de Sena (2/11/1919 - 4/6/1978)

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CAMÕES DIRIGE-SE AOS SEUS CONTEMPORÂNEOS


Podereis roubar-me tudo:
as ideias, as palavras, as imagens,
e também as metáforas, os temas, os motivos,
os símbolos e a primazia
nas dores sofridas de uma língua nova,
no entendimento de outros, na coragem
de combater, julgar, de penetrar
em recessos de amor para que sois castrados.
E podereis depois não me citar,
suprimir-me, ignorar-me, aclamar até
outros ladrões mais felizes.
Não importa nada: que o castigo
será terrível. Não só quando
vossos netos não souberem já quem sois
terão de me saber melhor ainda
de que fingis que não sabeis,
como tudo, tudo o que laboriosamente pilhais,
reverterá para o meu nome. E mesmo será meu,
tido por meu, contado como meu,
até mesmo aquele pouco e miserável
que, só por vós, sem roubo, haveríeis feito.
Nada tereis, mas nada:nem os ossos,
que um vosso esqueleto há-de ser buscado,
para passar por meu. E para outros ladrões,
iguais a vós, de joelhos, porem flores, no túmulo.


Jorge de Sena


terça-feira, 27 de outubro de 2009

Babel e Sião

Sôbolos rios que vão
Por Babilónia, me achei,
Onde sentado chorei
As lembranças de Sião
E quanto nela passei.
Ali, o rio corrente
De meus olhos foi manado;
E, tudo bem comparado,
Babilónia ao mal presente,
Sião ao tempo passado.

Ali, lembranças contentes
Na alma se representaram;
E minhas cousas ausentes
Se fizeram tão presentes,
Como se nunca passaram.
Ali, depois de acordado,
Co'o rosto banhado em água,
Deste sonho imaginado,
Vi que todo o bem passado,
Não é gosto, mas é mágoa.

E vi que todos os danos
Se causavam das mudanças
E as mudanças dos anos;
Onde vi quantos enganos
Faz o tempo às esperanças.
Ali vi o maior bem
Quão pouco espaço que dura;
O mal que depressa vem,
E quão triste estado tem
Quem se fia da ventura.

Vi aquilo que mais vale,
Que então se entende melhor,
Quanto mais perdido for;
Vi ao bem suceder mal
E, ao mal, muito pior.
E vi com muito trabalho
Comprar arrependimento.
Vi nenhum contentamento,
E vejo-me a mim, que espalho
Tristes palavras ao vento.

Bem são rios estas águas
Com que banho este papel;
Bem parece ser cruel
Variedade de mágoas
E confusão de Babel.
Como homem que, por exemplo,
Dos transes em que se achou,
Depois que a guerra deixou,
Pelas paredes do templo
Suas armas pendurou;

Assim, depois que assentei
Que tudo o tempo gastava,
Da tristeza que tomei,
Nos salgueiros pendurei
Os órgãos com que cantava.
Aquele instrumento ledo
Deixei da vida passada,
Dizendo: – Música amada,
Deixo-vos neste arvoredo,
À memória consagrada.

Frauta minha, que, tangendo,
Os montes fazíeis vir
Pera onde estáveis correndo,
E as águas, que iam descendo,
Tornavam logo a subir,
Jamais vos não ouvirão
Os tigres, que se amansavam;
E as ovelhas que pastavam,
Das ervas se fartarão
Que por vos ouvir deixavam.

Já não fareis docemente
Em rosas tornar abrolhos
Na ribeira florescente;
Nem poreis freio à corrente,
E mais se for dos meus olhos.
Não movereis a espessura,
Nem podereis já trazer
Atrás vós a fonte pura,
Pois não pudestes mover
Desconcertos da ventura.

Ficareis oferecida
À Fama, que sempre vela,
Frauta, de mim tão querida;
Porque, mudando-se a vida,
Se mudam os gostos dela.
Acha a tenra mocidade
Prazeres acomodados,
E logo a maior idade.
Já sente por pouquidade
Aqueles gostos passados.

Um gosto que hoje se alcança,
Amanhã já o não vejo;
Assim nos traz a mudança
De esperança em esperança
E de desejo em desejo.
Mas em vida tão escassa
Que esperança será forte?
Fraqueza de humana sorte,
Que quanto da vida passa
Está recitando a morte!

Mas deixar nesta espessura
O canto da mocidade!
Não cuide a gente futura
Que será obra da idade
O que é força da ventura.
Que idade, tempo, o espanto
De ver quão ligeiro passe,
Nunca em mim puderam tanto
Que, posto que deixe o canto,
A causa dele deixasse.

Mas em tristezas e nojos,
Em gosto e contentamento,
Por sol, por neve, por vento,
Tendré presente a los ojos
Por quien muero tan contento.
Órgãos e frauta deixava,
Despojo meu tão querido,
No salgueiro que ali estava,
Que pera troféu ficava
De quem me tinha vencido.

Mas lembranças da afeição
Que ali cativo me tinha,
Me perguntaram então:
Que era da música minha
Que eu cantava em Sião?
Que foi daquele cantar
Das gentes tão celebrado?
Por que o deixava de usar?
Pois sempre ajuda a passar
Qualquer trabalho passado.

Canta o caminhante ledo
No caminho trabalhoso,
Por entre espesso arvoredo;
E de noite o temeroso,
Cantando, refreia o medo.
Canta o preso docemente,
Os duros grilhões tocando;
Canta o segador contente,
E o trabalhador, cantando,
O trabalho menos sente.

Eu, que estas cousas senti
Na alma, de mágoas tão cheia,
Como dirá, respondi,
Quem alheio está de si
Doce canto em terra alheia?
Como poderá cantar
Quem em choro banha o peito?
Porque, se quem trabalhar
Canta por menos cansar,
Eu só descansos enjeito.

Que não parece razão
Nem parece cousa idónea
Por abrandar a paixão
Que cantasse em Babilónia
As cantigas de Sião.
Que, quando a muita graveza
De saudade quebrante
Esta vital fortaleza,
Antes moura de tristeza
Que, por abrandá-la, cante.

Que, se o fino pensamento
Só na tristeza consiste,
Não tenho medo ao tormento
Que morrer de puro triste,
Que maior contentamento?
Nem na frauta cantarei
O que passo e passei já,
Nem menos o escreverei,
Porque a pena cansará
E eu não descansarei.

Que, se vida tão pequena
Se acrescenta em terra estranha,
E se Amor assim o ordena,
Razão é que canse a pena
De escrever pena tamanha.
Porém se, pera assentar
O que sente o coração,
A pena já me cansar,
Não canse pera voar
A memória em Sião.

Terra bem-aventurada,
Se, por algum movimento,
Da alma me fores mudada,
Minha pena seja dada
A perpétuo esquecimento.
A pena deste desterro,
Que eu mais desejo esculpida
Em pedra ou em duro ferro,
Essa nunca seja ouvida,
Em castigo de meu erro.

E se eu cantar quiser,
Em Babilónia sujeito,
Hierusalém, sem te ver,
A voz, quando a mover,
Se me congele no peito.
A minha língua se apegue
Às fauces, pois te perdi,
Se, enquanto viver assi,
Houver tempo em que te negue
Ou que me esqueça de ti!

Mas ó tu, terra de Glória,
Se eu nunca vi tua essência,
Como me lembras na ausência?
Não me lembras na memória,
Senão na reminiscência.
Que a alma é tábua rasa
Que, com a escrita doutrina
Celeste, tanto imagina,
Que voa da própria casa
E sobe à pátria divina.

Não é logo a saudade
Das terras onde nasceu
A carne, mas é do Céu,
Daquela santa Cidade
Donde esta alma descendeu.
E aquela humana figura,
Que cá me pode alterar,
Não é quem se há-de buscar:
É o raio da Fermosura
Que só se deve de amar.

Que os olhos e a luz que ateia
O fogo que cá sujeita,
– Não do sol, mas da candeia –
É sombra daquela ideia
Que em Deus está mais perfeita.
E os que cá me cativaram
São poderosos afeitos
Que os corações têm sujeitos;
Sofistas que me ensinaram
Maus caminhos por direitos.

Destes o mando tirano
Me obriga, com desatino,
A cantar, ao som do dano,
Cantares de amor profano,
Por versos de amor divino.
Mas eu, lustrado co'o santo
Raio, na terra de dor,
De confusão e de espanto,
Como hei-de cantar o canto
Que só se deve ao Senhor?

Tanto pode o benefício
Da Graça, que dá saúde,
Que ordena que a vida mude;
E o que tomei por vício
Me faz grau pera a virtude.
E faz que este natural
Amor, que tanto se preza,
Suba da sombra ao real,
Da particular beleza
Pera a Beleza geral.

Fique logo pendurada
A frauta com que tangi,
Ó Hierusalém sagrada,
E tome a lira dourada
Pera só cantar de ti;
Não cativo e ferrolhado
Na Babilónia infernal,
Mas dos vícios desatado
E cá desta a ti levado,
Pátria minha natural.

E se eu mais der a cerviz
A mundanos acidentes,
Duros, tiranos e urgentes,
Risque-se quanto já fiz
Do grão livro dos viventes.
E, tomando já na mão
A lira santa e capaz
Doutra mais alta invenção,
Cale-se esta confusão,
Cante-se a visão da paz!

Ouça-me o pastor e o rei,
Retumbe este acento santo,
Mova-se no mundo espanto,
Que do que já mal cantei
A palinódia já canto.
A vós só me quero ir,
Senhor e grão Capitão
Da alta torre de Sião,
À qual não posso subir,
Se me vós não dais a mão.

No grão dia singular
Que na lira o douto som
Hierusalém celebrar,
Lembrai-vos de castigar
Os ruins filhos de Edom.
Aqueles que tintos vão
No pobre sangue inocente,
Soberbos co'o poder vão,
Arrasai-os igualmente,
Conheçam que humanos são.

E aquele poder tão duro
Dos afeitos com que venho,
Que incendem alma e engenho,
Que já me entraram o muro
Do livre alvídrio que tenho;
Estes, que tão furiosos
Gritando vêm a escalar-me,
Maus espíritos danosos,
Que querem como forçosos
Do alicerce derrubar-me;

Derrubai-os, fiquem sós,
De forças fracos, imbeles;
Porque não podemos nós
Nem com eles ir a Vós,
Nem sem Vós tirar-nos deles.
Não basta minha fraqueza
Pera me dar defensão,
Se Vós, santo Capitão,
Nesta minha fortaleza
Não puserdes guarnição.

E tu, ó carne que encantas,
Filha de Babel tão feia,
Toda de misérias cheia,
Que mil vezes te levantas
Contra quem te senhoreia,
Beato só pode ser
Quem co'a ajuda celeste
Contra ti prevalecer,
E te vier a fazer
O mal que lhe tu fizeste;

Quem com disciplina crua
Se fere mais que ua vez,
Cuja alma, de vícios nua,
Faz nódoas na carne sua,
Que já a carne na alma fez.
E beato quem tomar
Seus pensamentos recentes
E em nascendo os afogar,
Por não virem a parar
Em vícios graves e urgentes;

Quem com eles logo der
Na pedra do furor santo
E, batendo, os desfizer
Na Pedra, que veio a ser,
Enfim, cabeça do Canto;
Quem logo, quando imagina
Nos vícios da carne má,
Os pensamentos declina
Àquela carne divina
Que na Cruz esteve já;

Quem do vil contentamento
Cá deste mundo visível,
Quanto ao homem for possível,
Passar logo o entendimento
Pera o mundo inteligível.
Ali achará alegria
Em tudo perfeita e cheia
De tão suave harmonia,
Que nem, por pouca, escasseia,
Nem, por sobeja, enfastia.

Ali verá tão profundo
Mistério na suma Alteza,
Que, vencida a Natureza,
Os mores faustos do Mundo
Julgue por maior baixeza.
Ó tu, divino aposento,
Minha pátria singular,
Se só com te imaginar
Tanto sobe o entendimento,
Que fará, se em ti se achar?

Ditoso quem se partir
Pera ti, terra excelente,
Tão justo e tão penitente,
Que depois de a ti subir,
Lá descanse eternamente!

Luís de Camões

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

"Deus não é boa pessoa"?

Saramago, que nunca foi santo da minha devoção, afunda-se a propósito do seu "Caim", num grotesco e simplório jacobinismo.

O conceito de "pessoa" e "divindade", pelo menos para um Nobel da Literatura, devia merecer alguma lucidez. "Pessoa" é mortal, material, finita; "divindade" é imortal, imaterial, infinita. Falo de conceitos e "topos" culturais e não de "verdades" ou crenças acéfalas..

Que seria da Cultura Ocidental sem os temas bíblicos?
Lembram-se de "Sôbolos Rios" ou de "Sete anos de pastor Jacob servia"? E Dante? E Bach? E o "Requiem" de Mozart? E de tantos outros génios?

Com isto não aprovo Sousas Laras nem outros Torquemadas de pacotilha. Mas a Literatura Portuguesa merecia um Nobel melhor.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Inédito

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Sala Provisória

Nunca se sabe
quando estamos num lugar
pela última vez. Numa casa
que vai ser demolida, numa sala
provisória que vai encerrar, num velho
café que mudará de ramo, numa
página marcada e jamais reaberta, numa
canção demasiado gasta, num
abraço tornado irrepetível, numa
porta a que não voltaremos.

I. L.

sábado, 10 de outubro de 2009

Quadra popular autárquica

_________________
Rio, vai lisboetar
Que o teu Partido precisa;
E deixa-nos cá ficar
O Rivoli e a Elisa.

(anónimo)=

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Outono - Sócrastes venceu campanhas "ad hominem" - 5 de Outubro - "génios" da cultura de massas.

________________
Outono adentro.
Retorno a este canhenho de sinais, não-diário.
Sinais resumidos:

-Sócrates eleito, apesar das campanhas "ad hominem".

- Aniversário do 5 de Outubro de 1910.
Viva a República!!!

- Beatério fadístico.
Confusões discutíveis entre "génios", cultura pop e de massas.
Não passo sem Mozart nem Pessoa, mas passo bem sem a Amália.
Ainda nos "restam" o Marceneiro, a Hermínia, etc

sábado, 26 de setembro de 2009

A nossa flor de eleição

Colhida no "mainstreet"

_____________________

Prefiro as rosas, meu amor, à pátria,
E antes magnólias amo
Que a glória e a virtude.

Logo que a vida me não canse, deixo
Que a vida por mim passe
Logo que eu fique o mesmo.

Que importa àquele a quem já nada importa
Que um perca e outro vença,
Se a aurora raia sempre,

Se cada ano com a Primavera
As folhas aparecem
E com o Outono cessam?

E o resto, as outras coisas que os humanos
Acrescentam à vida
Que me aumentam na alma?

Nada, salvo o desejo de indif'rença
E a confiança mole
Na hora fugitiva.


Ricardo Reis (Odes)

domingo, 20 de setembro de 2009

Sócrates é fixe

A campanha do PS teve ontem, em Coimbra e hoje, aqui no Porto, dois momentos de forte simbolismo, para além de máquinas partidárias e respectivas jotas; análises que as televisões nos seus flashes informativos, não descodificam.
Um deles foi o tom e abrangência do discurso de Manuel Alegre, falando da "esquerda possível" e desmascarando a real regressão democrática dos queixosos da "asfixia"... Mas, para além das palavras, a sua presença, foi o grande símbolo da antiga solidariedade ideológica, dos tempos da ditadura, uma espécie de regresso do "filho pródigo" à casa-mãe.

No Porto, foi bonito ver a aclamação a Mário Soares, com sonoros "Soares é fixe".E foi ainda mais simbólico ouvir o velho leão, depois de desancar Ferreira Leite de "economista fanática ou irresponsável" (o que despoletou caudalosos apupos da assistência), passar o testemunho, tirando a "coroa" da própria cabeça e incitando a multidão a clamar "Sócrates é fixe".

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Mais, acerca do PORTO, com explicação "tripeira".

_________________________
«O topónimo Portucale, síntese de dois vocábulos primitivos (Portus e Cale, referentes a dois aglomerados populacionais fortificados, nas margens norte e sul do rio a que chamaram Douro), tem a sua alusão mais antiga inscrita em moedas visigóticas, Portucale - por extenso, Portucale castrum novum, nome de uma diocese constante em documentos do Concílio de Lugo, em 569 - viria, por abrandamento fonético, a dar origem a Portugal, nome do que é hoje, com as actuais delimitações fronteiriças, o mais velho país da Europa.
(...)
Burgo de resistência, cidade-chave na edificação do reino, matriz, por interposto Infante D. Henrique, da expansão marítima, ninho de ideais voltados para o progresso material e espiritual - foi no Porto operário que, em 1889, se realizou o primeiro congresso socialista e, e em 1890, uma celebração do 1.º de Maio, dois anos após a matança de Chicago - enriquecendo-se em alfobre artístico, berço de guerreiros, navegadores, comerciantes, artistas de todas as artes, o Porto dos Almadas, a "Mui Nobre, Sempre Leal e Invicta Cidade" metamorfoseia-se, na segunda metade do séc. XIX, numa verdadeira metrópole moderna.
(...)
Nos estaleiros do Douro. foi construída, aliás, boa parte da frota que, de Lisboa, rumou a Ceuta, num contributo que não se ficou pelo trabalho e pelo saber dos carpinteiros, calafates e demais artífices ribeirinhos; os porões dos navios encheram-se com carne que os portuenses dispensavam, limitando-se a guardar para si os miúdos, as partes intestinais, enfim, as "tripas das reses". Belo gesto, história ou lenda, que deu como ganho aos portuenses uma honrosa alcunha: tripeiros.»


DIAS, Manuel, Porto Património Cultural da Humanidade - Espaços e Monumentos Clasdsificados pela Unesco, Porto, Norprint, 1999

Sabem por que o PORTO se intitula MUI NOBRE, INVICTA E SEMPRE LEAL CIDADE?

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«D. Afonso V, em alvará de 22 de Fevereiro de 1454, concedeu à cidade do Porto o tratamento de "Leal Cidade" e por alvará de 6 de Julho de 1459 o de "Nossa Mui Nobre e Sempre Leal Cidade". Será D. Maria II quem acrescentará o elogio "Invicta", em razão da resistência ao exército miguelista nos anos de 1832 a 1833.»

BASTOS, Carlos (org), Nova Monografia do Porto, Porto, C.ª Portuguesa Editora, 1938

(referências a esta cidade, desde os tempos visigóticos, para o próximo post)

domingo, 13 de setembro de 2009

Pérolas de (in)cultura

Manuela Ferreira Leite é uma catástrofe a todos os níveis.
(Programa "Eixo do Mal", SIC-N)
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Mais um triste espectáculo. Mais umas gafes leitistas para animar a campanha: desde a hostilidade parola e cavernícola ao nosso vizinhp ibérico, inmadmissível num membro da CE, até aquela de "matar os pais para ser orfão".

Ouvi hoje, na SIC, que a dita senhora fez a Instrução Primária em casa. Que só foi para aulas no Secundário. Que o pai não a deixou ir para Medicina (devia ser impróprio para raparigas, desse tempo...) e que a obrigou a ir para Economia.
Deve ter sido uma criança e uma jovem muito infeliz e marcada por rígida educação. Isso vê-se.
_________
esta imagem perlífera foi colhida no SIMplex.




sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Jorge de Sena

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"SER UM GRANDE POETA"



Ser um grande poeta
morto e nacional
é atrair as moscas
como idiotas e
os idiotas como
moscas.

Ser um poeta medíocre
vivo e universal
é atrair os catedráticos
de literatura como
idiotas e moscas.

Ser um poeta apenas
nem vivo nem morto
ou nacional ou universal
é atrair apenas os poetas
como moscas idiotas.

Moralidade: não há saída.



Jorge de Sena

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Nota: Hoje, não o Jorge de Sena, mas apenas as suas ossadas regressaram a solo português.
Fez-me impressão ver primeiras-damas cavaquensis e outros ex-libris do "comedimento" mental pelintra e da aurea mediocritas, a fazerem "guarda-de-honra", à cerimónia.
Restam-nos os versos, onde esse dissídio é patente.
Vou postar outros poemas deste génio do séc. XX.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Indecente!

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Que a velha catatua fale em "asfixia " ou prisão de ventre, para disfarçar o vácuo e conservadorismo de ideias ou a voracidade das privatizações, ainda se entende; agora o sr. Jerónimo, herdeiro de uma nobre tradição de luta clandestina contra garrotes ditatoriais, pôr-se a ajudar à missa, é repugnante.

Sócrates instituiu debates quinzenais no Parlamento, como nenhum PM tinha feito antes, abrindo-se aos desafios da Oposição. Bateu-se pela Lei da IVG. E foi o único PM que o fez, nesta nação pindérica, que produz catatuas F. Leite e hipócritas encartados, ditos de esquerda.
Só um grande democrata o poderia ter feito, como efectivamente fez.

domingo, 6 de setembro de 2009

Soneto para uma Dama-de-Latão

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Nem sábia, nem formosa, nem segura
Enche o pote de apetites a estadista,
Esta dama trasladada de usura
De farisaicos trejeitos de sacristas.

Nem Luís Vaz, nem Antero, nem Pessoa,
Sena ou Sophia alguma vez pensaram
Que uma Velha-do-Restelo seja a boa
Sucessão dos tempos que passaram.

Nem de ouros, nem de copas, nem valetes
Chegam ao Ás que quer e que promete
Na sua torva e lassa confusão.

Tanta lata para tão pouco dom:
O de compor falhados balancetes,
Ó oxidada Dama-de-Latão.

(enviado por autor anónimo)

sábado, 5 de setembro de 2009

POEMA

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Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura


Mário Cesariny

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Os "pilares da sociedade" ou a inconsciência da bruxa-má

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Um dos argumentos mais enjoativos do discurso de Manuela Ferreira Leite, no encerramento da universidade estival(?) para jótinhas foi aquele, de que o governo actual "minou os pilares da sociedade: o casamento e a famíkia".
Desde os bons tempos da União Nacional, que não se ouvia uma formulação do pensamento conservador, tão claramente retrógrada e desfazada da consciência europeia actual, das sociedades civis.

É voz corrente, que quem só sabe de Economia, nem de Economia sabe. E parece que MFL e os seus acólitos, não sabem de muito mais coisas.
Por exemplo, que provieram de gente "que minou os pilares da sociedade", nomes como:

Sá de Miranda, Camilo Castelo Branco, Eça de Queirós, Camilo Pessanha, Florbela Espanca, Irene Lisboa, Eugénio de Andrade e muitos edecetras importantes para o país e para o mundo.
Olha se os progenitores não tinham minado "os pilares" da sociedade???????
Isto para já não referir D. João I, primeiro da dinastia de Aviz e pai da "Ínclita Geração". Ah, e ia-me esquecendo do Santo Condestabre, filho de uma numerosa prole do Prior do Hospital....

Se os "pilares" não tivessem sido "minados", Portugal seria outro.
Para o bem e para o mal.
Não aturar esta senhora e a sua naftalina encefálica, seria um enorme BEM.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Uma maqiavélica parvoíce

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(...)
«Custa a acreditar, mas Paulo Rangel, eurodeputado e membro do inner circle de Manuela Ferreira Leite, numa atitude que só pode ser entendida como de desautorização de Marques Mendes, afirmou, citando Maquiavel, que não podemos confundir ética com política. Não é extraordinário? Tudo isto se passou ontem numa das sessões da Universidade de Verão do PSD, onde, na véspera, o antigo líder do partido voltara a insistir na necessidade de separar as águas (a propósito da surpreendente inclusão de arguidos nas listas do partido). Por muito que os costumes da tribo o desmintam, Rangel não pode torcer os valores, afirmando que ética e política são dissociáveis. Um desabafo no Snob, às 4 da manhã, percebe-se. Numa prédica institucional em vésperas de eleições, é alarmante. Claro que Rangel não é obrigado a ler Maquiavel. Eu, por exemplo, nunca li Kurt Gödel. Mas também não o cito.Estas guerras do Alecrim e Manjerona são reveladoras da desorientação do PSD. Pretender que a política se reduz à arte de manipular (como, em certa medida, sucedeu no século XVI), dá bem a medida da renovação do maior partido da oposição.»

colhido no blogue "Da Literatura".

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Um poema de António Barahona, na recente "Telhados de Vidro, n.º 12", da AVERNO

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ALFARRABISTA

Hoje comprei um livro de Raul da Carvalho
por um euro, o que considero um escândalo!
Os poetas, regra geral, sempre foram pobres,
mas a sua poesia vale muito mais do que
o peso de mil resmas de rouxinol em oiro.
Isto, evidentemente, pouca gente sabe.
Se muita gente soubesse
os poetas seriam todos ricos.



17-XII-97

António Barahona

http://editora-averno.blogspot.com/

sábado, 22 de agosto de 2009

O power-point e o teleponto...

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« [Propuseram-me mudar] a forma de falar, de contar as coisas, a forma de dizer, para eu falar com power-point... coisas desse estilo. (...) Eu sei que muitas vezes – eu e muitas outras pessoas, se calhar – digo frases que não serão bem aquelas que deviam ser ditas... ou que não conjugo o verbo exactamente como deve ser... Só que eu não estou com as frases decoradas – quando se está com as frases decoradas ou se tem o power-point à frente, nada falha, mas, em compensação, perde-se em naturalidade e eu acho que as pessoas que nos estão a ouvir falam de forma natural, não falam com frases feitas, não falam com power-point para não se enganarem. Todos nós nos enganamos (...) – eu prefiro ser como sou do que transformar-me. »

Manuela Ferreira Leite, na entrevista à RTP.»

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

"M" de Medíocre

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A piroseira habitual, mais os costumeiros sofismas de meia-tijela, de um descaramento simolório.Fiquei a saber que falar "naturalmente" é ter dificuldades de expressão e dar pontapés nas concordâncias verbais. O político, que no passado, nomeou esta senhora, ministra da educação, devia envergonhar-se. Em resumo:-é revoltante e ridículo ver uma senhora da Direita pacóvia e invertebrada, falar em "asfixia democrática"... Devem ser sintomas da sua falta de oxigenação cerebral.

-nada haverá de novo: nem programa, nem cálculo de cenários e probabilidades e modos possíveis de os defrontar.

-Obras públicas, só remendar hospitais e escolas e outras "proximidades".
De resto é o vazio enfeitado com os cómodos e convenientes "valores pessoais" de não falar na "roubalheira" dos seus confrades. Em contrapartida tem o desplante de dizer que Santana é muito melhor que Costa, para Lisboa. Pena que os seus "valores" não cheguem para não fazer campanha ad homoinem, nem adoptar argumento de suspeição e parlapatices de "asfixia" baseados em "sentimentos".

Esta senhora é um perfeito e raso equívoco. Confesso que, como ela, dantes falava pouco, nem imaginava que fosse tão medíocre
E que se esteja a revelar tão nociva para um planeamento sério do que aí vem..

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Isabel Alves Costa

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Morreu uma Cavaleira das Artes.
Isabel Alves Costa, mulher da cultura, directora do Rivoli, ao tempo da gestão socialista da cidade. Actualmente directora do Festival de Marionetes do Porto, responsável do projecto Comédias do Minho, morreu, ontem, vitima de doença repentina, quando se encontrava de férias em Monção.
Foi agraciada pelo governo francês com a ordem de Chevalier des Arts.
Foi afastada do Rivoli pelo actual edil do Porto, Rui Rio.
Mulher controversa, com ideias próprias sobre cultura e artes performativas, filha de um grande cineclubista do Porto,crítico e historiador de cinema, Henrique Alves Costa, partiu ainda com muito que fazer.
O JN traz uma reportagem sóbria sobre a morte e, claramente, incompleta sobre a vida desta senhora do Porto, nascida em Julho de 1946, exactamente com 63 anos, que pode ver aqui
Que se possa falar e escrever muito sobre arte, cultura e teatro, in memoriam, de Isabel Alves Costa.

Nota: texto colhido no blogue "Mainstreet".

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Das coisas marítimas (4 poemas éditos)

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MANTA ROTA

Enquanto molhavam os lábios, contavam
dos barcos, das linhas de água, nessas fonias
brandas do sul, que escorrem em cascata
para os tímpanos, contavam
das madrugadas do arrasto, dos polvos
e outros animais furtivos
que por algas e limos iludem
a presúria das redes.


Teoria da Imunidade (1996)


PREFERÊNCIA

Queriam viver numa casa
ao pé do mar, partilhando
o eco masculino das ondas, o cheiro
das marés, a estridência das aves que restam, a salsugem
matinal dos dedos, pousados os olhos
nas claras praias longínquas.


idem


MIRAMAR

Acender um cigarro na praia, proteger
o difícil estertor da pequena chama. Anular
o vento na manga do teu casaco. Reter
preso entre os dedos o princípio breve
dessa efémera combustão.

idem


PÉLAGO


Contorno-te como um marujo lembra a casa
tão dentro do vento e tão fora de pé
entre mares e ilhas dissipada
pelo corso dos teus olhos, tíbias
dos meus lábios numa bandeira negra
recolhida dessa abordagem a estibordo
no convés de uma figueira brava
onde vives como planta inexorável.

Os Solistas, (1994)

Inês Lourenço

quinta-feira, 23 de julho de 2009

BILROS

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A renda de bilros é uma indústria da beira-mar, destas
mulheres loiras, de olhos azuis e rosto comprido – as da Foz,
as de Leça e as de Vila do Conde – que passavam a vida à
espera dos homens, enquanto as mãos ágeis iam tecendo
ternura e espuma do mar. (…)

Raul Brandão – Os Pescadores







As raparigas da Foz há muito deixaram
de enlaçar os bilros sobre as almofadas.
Já não imitam nos meandros da renda o desenho
das ondas. Nem esperam, rodeadas de filhos pequenos


o regresso do seu modesto ulisses. Hoje
trabalham na pizzaria ou servem pregos e finos
na esplanada. Com um pouco de sorte fazem
um Curso de Gestão ou de outras ciências
ocultas para gáudio da família que as vai
ver desfilar no Cortejo da Queima e noutras
praxes saloias que a turba não dispensa.


Também há as outras, que ao certo não
sei o que fazem, mas que ainda debutam
aos dezoito anos ao som de O Danúbio Azul,
com reportagem na imprensa rosa.


Mas o certo é que o mar da Foz não desbotou
jamais a sua cor atlântica, nem desistiu,
desde há milénios de receber o Douro,
embora os caranguejos, as lapas
e os beijinhos nos tenham abandonado
como as histórias de antigos piratas e Robinsons
deixaram os nossos sonhos.


O mar da Foz envplve na salina rebentação
aquele poderoso rio, que apesar de retido
em comportas de barragem, incorpora
desde a nascente o corpo feminino
das ribeiras que para ele correm ainda
como rendilheiras, no regresso dos barcos.

I. L.
(Junho 2009)

Nota: este poema é dedicado a um ilustre fózeiro, Miguel Veiga, tendo sido destinado a uma prenda/surpresa da iniciativa editorial de José da Cruz Santos, da Editora Modo de Ler.

domingo, 12 de julho de 2009

João Luís Barreto Guimarães

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AS CADEIRAS


À aula de
quarta-feira assistiram 13 alunos e
27 cadeiras. Em resumo: a sala cheia.
Quando a
lição terminou os 13 alunos partiram e
acto contínuo contei 20 casais de cadeiras.
Às aulas que tenho dado nunca faltam
as cadeiras
ficam a ouvir-me atentas
(as costas muito direitas).
É bom de ver que as cadeiras entendem
tudo à primeira
parecem ser mais maduras (mais
pés
assentes na terra).

_______________
O FACTO DA MORTE


Austero sobre o colchão o fato
para levar no esquife
da sua morte. Nem uma nódoa ou mácula. O
fato que lhe pesou na boa-morte de tantos é
esse que o vai levar ao seu
próprio ritual. Atónitos
vamos passando o memento
uns-aos-outros
enquanto a Mãe aturdida à pergunta das gavetas
por uma que camisa com a gravata
que entretanto. Nenhum de nós acredita ainda que
ele morreu. Enquanto estiver vazio aquele
fato da morte
ninguém sequer admite que esteja morto
de facto.



A PARTE PELO TODO,Quasi Edições, VNFamalicão, 2009
________________

Nota: Tive o gosto de publicar 4 poemas inéditos deste poeta (n. 1967) no n.º 4 dos Cadernos de Poesia - Hífen (Abril-Set 89) cf. blogue, textos do seu primeiro livro Há Violinos na Tribo, que seria publicado, ainda, no mesmo ano; textos que me tinham sido recomendados pelo poeta Fernando Guimarães.

Esta poesia, imagética e formalmente muito depurada, introduz-nos num habitat muito próprio, ao surpreender, nos aparentemente banais episódios do quotidiano, todas as inter-faces para as perguntas radicais da existência.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Dói-me o meu país

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Até admito que o governo e Sócrates não tenham sido perfeitos e infalíveis; mas o que acho revoltante e do pior calibre político e cívico, que roça a desfaçatez é o que a Oposição tem para ofertecer em troca:
Santana no Município da Capital; Ferreira Leite a "dirigir" Portugal; o Portas dos submarinos e sobreiros a "assomar" já, em várias coligações nas autárquicas; o consulado bnurlesco madeirense a inchar, etc.
A"qualidade" dos ministeriáveis PSD é confrangedora.Restam-lhe os arautos: Marcelo, Pacheco, e uma vez por outra Ângelo Correia, o "Cardeal Richelieu", como bem o apodou Miguel Veiga, personalidade que junto com Graça Moura, estão na sombra, mas que ainda são o que resta do "sal da terra" do defunto PPD.

Nem o facto de Rio ir concorrer coligado ao CDS, aqui no Porto e se prever maioria absoluta, acorda as "consciências" de esquerda, que querem mas é manter o vereadorzito e o país que se lixe. A esquerda do PS, faz lembrar aqueles maridos patologicamente ciumentos que assassinam as mulheres, dizendo: "Já que não és para mim, antes te quero morta".

Dói-me que o meu país, num momento de crise mundial, cair em mãos inábeis de arrivistas, com defeitos muito maiores que o actual governo, movidos pela fome de poleiros, púlpitos e vantagens atinentes.






segunda-feira, 6 de julho de 2009

Comentários no "mainstreet"

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Mas, parece que a "natureza das coisas" é mesmo assim. Ou será a "natureza humana"? Os partidinhos, as agremiações, etc, querem mas é garantir o "terreno" para eles próprios, por interesses materiais ou narcísicos e quase sempre por estagnação mental. Helena Roseta e "os cidadãos", já para não falar no anquilosado PC e no festivaleiro BE, vão entregar de bandeja a Câmara de Lisboa a Santana Lopes, que sempre "andou por aí " com proveito, como se vê.Aliás, no plano geral planetário, hoje é um dia de vómitos:

-é o espectáculo rendoso, decadente e louco com o funeral Jackson

- mailo o circo espanhol-futebolístico do puto maravilha, com os milhões, os meios, os jactos privados.

- é a chachina de etnias na China (e em tantos lados).

Excepção será a visita de Obama ao Kremlin ou talvez os gestos de abnegação quotidana de tanta gente anónima, para os quais não é preciso notícia nem bilhete de ingresso.Até logo.Ab.I.


De weber a 6 de Julho de 2009 às 18:15
Minha boa amiga, certeira como a flecha do Guilherme Tell.Não falhou nenhum dos itenes que escolheu, mesmo as duas excepções que foram do meu particular agrado (Obama e abnegaç~ão de tanta gente sem nome...).Muito obrigado pela substância com que sempre me brinda.Até logo.Abraço,J.A.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Manuel de Freitas

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SHE LIVES BY THE CASTLE


Meu amor - assim começavam
quase sempre os poemas
de que menos conseguia gostar.
Mas é verdade (a verdade
e a retórica nunca se entenderam)
que um bando de gaivotas atravessa
o pouco céu que vai da aos Clérigos.

Tu dormes; nunca estivemos aqui.
A cortina por levantar, de um amarelo
duvidoso, a varanda sobre ruínas,
casas onde morou gente,
telhados abnatidos que me servem
de cinzeiro. Tu dormes,
rosto abertamente escondido
sob lençóis brancos, almofadas
com brasão, espelhos dos anos vinte.

Não sabes, não sabemos, de melhor castelo.
Ignoras devagar os motivos que
em breve nos farão descer do quarto
209, Grande Hotel de Paris,
atentos aos primeiros sinais do nada.

E assim, meu amor, acaba este poema.

Intermezzi, op. 25, Opera Omnia ed., Guimarãers, 2009

Nota: Manuel de Freitas (n. 1972) um poeta marcante da década de 90, ensaista, crítico, editor da Averno, co-director da revista Telhados de Vidro.
Autor cuja obra acompanho desde o início da sua produção poética (2000). Nela encontram-se refractados os grandes caminhos da poesia actual, contendo embora as "analepses" que a explicam, cultural e imageticamente. Numa sábia linguagem propositadamente não ambígua, nem "preciosa", nem "sublime", acompanha-nos nas perplexidades diárias com a densidade de todas as grandes interrogações.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Morte da convulsa pop-star ?



Michael Jackson, essa figura do show-business, convulsiva e bizarramente andrógina, (há outras androginias belas) desapareceu enquanto ser vivo.

Impressionante o coro de lamentações dos fãs, com certeza proporcional à receita pop- musical e cénica, energeticamente electrizante de que foi capaz.

Porventura, as suas características foram ao encontro de tendências e projeçcões das últimas décadas. Menos para aqueles (e muitos milhões devem ser sobre a Terra), para quem não representou absolutamente nada.

Nota: imagem colhida no blogue "Mainstreet".

sexta-feira, 26 de junho de 2009

"Rebeliar-se" ?

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Ó Dr.ª Manuela Ferreira Leite, eu também me "rebelio", contra as suas faltas de concordância verbal, os seus pleonasmos, o seu parco vocabulário e sobretudo contra a indigência de ideias que o seu psitacismo político-partidário põe a nu.

terça-feira, 23 de junho de 2009

QUADRA SANJOANINA


A roda do nosso abraço
Tem um sentido profundo;
Quanto mais se aperta o laço
Tanto mais se alarga o mundo.

(autor desconhecido)

sexta-feira, 19 de junho de 2009

IRÃO...irão?

(imagem copiada de:
http://weber.blogs.sapo.pt/
que gentilmente postou este meu circunstancial comentário)

Young woman
Where is your vote?
Where is the vote of all my life
For your freedom
For our freedom?


domingo, 14 de junho de 2009

Eugénio de Andrade

Também ontem, 13 de Junho, passaram 4 anos desde a partida do Eugénio. Segunda-feira, 15, haverá na Cooperativa Árvore, no Porto, pelas 18 horas, uma evocação da sua obra, com leitura de poemas.

No prato da balança um verso basta
para pesar no outro a minha vida.

sábado, 13 de junho de 2009

Joaquim Manuel Magalhães

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Acordo para o cansaço da manhã
com o cheiro das primeiras vozes
e os motores acesos da casa que principia.
De novo. Sempre principia. Setas
que segregam luz doente, esfarelam
por dentro de quem não queria
acordar nunca, esquecido na rasura
dos lençóis, o empurrão da voraz claridade

Cada próspera cidade tem no seu meio
uma cidade de subnutrição, crianças mortas,
desalojados, desemprego. E em cada cidade
das mais podres há, num aro de metralhadoras,
uma cidade de tecnologia, rara
costura, sobre finança e medo.

(...)

(estrofes iniciais do poema VALVULINA, que abre o livro ALTA NOITE EM ALTA FRAGA)
Relógio D'Água Editores, Lisboa, 2001)


Nota : Um dos maiores poetas portugueses actuais, nascido igualmente a 13 de Junho.
Fernando António Nogueira Pessoa, nascido em Lisboa, às 15 horas do dia 13 de Junho de 1888.
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AUTOPSICOGRAFIA


O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lèem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

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Nota: escolhi este conhecidíssimo poema do ortónimo, pois a verdadeira iluminação do "fazer poético" que ele comunica, ainda não foi entendida, depois de tanto tempo, por muitos que se julgam poetas e por grande massa de leitores e não-leitores que continuam a considerar a escrita poética um retórico ornamento de paixões ou vazadouro inerme de outros "pathos", ou ainda o pretexto servil e pindérico para dourar qualquer rito.

Ainda muito quem cofunda autor com obra. O "Je est un autre" do Rimbaud, a cisão do "ego" freudiana, nos inícios do séc XX, pouco interessam. Os grandes estudos saussureanos sobre a Língua e tudo que daí derivou, nada aproveitam.

Daí a afirmação da ficção, do fingimento pessoano, que magistralmente, neste poema, faz o roteiro da transmigração dolorosa de um possível acontecimento biográfico" para um texto poético. Nesse texto pode quase nada haver de biográfico, pois a dor inicial, ao lexicalizar-se, ao entrar no jogo de "enjambement" do poema, passou do "deveras sente" para o "fingir que é dor".

"Sentir, sinta quem lê", diz o poeta noutro poema. Isto transporta-nos para a "dor lida". O poeta é o seu primeiro leitor. Logo, as tais ""duas que ele teve": a dor de escrever e a dor de se ler, tantas vezes inconformado com o resultado e destruindo o que escreveu.