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CAMÕES DIRIGE-SE AOS SEUS CONTEMPORÂNEOS
Podereis roubar-me tudo:
as ideias, as palavras, as imagens,
e também as metáforas, os temas, os motivos,
os símbolos e a primazia
nas dores sofridas de uma língua nova,
no entendimento de outros, na coragem
de combater, julgar, de penetrar
em recessos de amor para que sois castrados.
E podereis depois não me citar,
suprimir-me, ignorar-me, aclamar até
outros ladrões mais felizes.
Não importa nada: que o castigo
será terrível. Não só quando
vossos netos não souberem já quem sois
terão de me saber melhor ainda
de que fingis que não sabeis,
como tudo, tudo o que laboriosamente pilhais,
reverterá para o meu nome. E mesmo será meu,
tido por meu, contado como meu,
até mesmo aquele pouco e miserável
que, só por vós, sem roubo, haveríeis feito.
Nada tereis, mas nada:nem os ossos,
que um vosso esqueleto há-de ser buscado,
para passar por meu. E para outros ladrões,
iguais a vós, de joelhos, porem flores, no túmulo.
Jorge de Sena
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2 comentários:
Obrigado por no-lo recordar.
Esta é poesia e da muito boa.
Sente-se o "ressentimento" do exilado, que nunca desembarcou nas terras alheias, que sempre ficou agarrado à Pátria, que o desmereceu...conjunturalmente?
Também depois do 25 de Abril foi mal tratado pela Universidade: mas isto são outras histórias.
Fica a impressiva poesia e este belíssimo poema.
Abraço,
J.A.
Obrigada JA. Vim agora mesmo do seu bligue.
Mas o que Sena fala por Cam«oes é vedade. Há muitos apócrifos camoneanos.E é certo que Camões era malquisto no Paço e foi despachado para a Índia.O poeta oficial era o Diogo Bernardes. E os ossos dos Jerónimos não são dele...
Abraço
I.
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