domingo, 12 de julho de 2009

João Luís Barreto Guimarães

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AS CADEIRAS


À aula de
quarta-feira assistiram 13 alunos e
27 cadeiras. Em resumo: a sala cheia.
Quando a
lição terminou os 13 alunos partiram e
acto contínuo contei 20 casais de cadeiras.
Às aulas que tenho dado nunca faltam
as cadeiras
ficam a ouvir-me atentas
(as costas muito direitas).
É bom de ver que as cadeiras entendem
tudo à primeira
parecem ser mais maduras (mais
pés
assentes na terra).

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O FACTO DA MORTE


Austero sobre o colchão o fato
para levar no esquife
da sua morte. Nem uma nódoa ou mácula. O
fato que lhe pesou na boa-morte de tantos é
esse que o vai levar ao seu
próprio ritual. Atónitos
vamos passando o memento
uns-aos-outros
enquanto a Mãe aturdida à pergunta das gavetas
por uma que camisa com a gravata
que entretanto. Nenhum de nós acredita ainda que
ele morreu. Enquanto estiver vazio aquele
fato da morte
ninguém sequer admite que esteja morto
de facto.



A PARTE PELO TODO,Quasi Edições, VNFamalicão, 2009
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Nota: Tive o gosto de publicar 4 poemas inéditos deste poeta (n. 1967) no n.º 4 dos Cadernos de Poesia - Hífen (Abril-Set 89) cf. blogue, textos do seu primeiro livro Há Violinos na Tribo, que seria publicado, ainda, no mesmo ano; textos que me tinham sido recomendados pelo poeta Fernando Guimarães.

Esta poesia, imagética e formalmente muito depurada, introduz-nos num habitat muito próprio, ao surpreender, nos aparentemente banais episódios do quotidiano, todas as inter-faces para as perguntas radicais da existência.

3 comentários:

Unknown disse...

Belissímo poeta, duas lindas poesias.

jose albergaria disse...

Eu gostei.
Posso surripiar para os "plantar" na minha rua?
Obrigado e com a devida vénia,
J.A.

Belmira disse...

Não conhecia, mas estes poemas são muito bons. Vou procurar o livro.

Abraço
B.