segunda-feira, 29 de junho de 2009

Morte da convulsa pop-star ?



Michael Jackson, essa figura do show-business, convulsiva e bizarramente andrógina, (há outras androginias belas) desapareceu enquanto ser vivo.

Impressionante o coro de lamentações dos fãs, com certeza proporcional à receita pop- musical e cénica, energeticamente electrizante de que foi capaz.

Porventura, as suas características foram ao encontro de tendências e projeçcões das últimas décadas. Menos para aqueles (e muitos milhões devem ser sobre a Terra), para quem não representou absolutamente nada.

Nota: imagem colhida no blogue "Mainstreet".

sexta-feira, 26 de junho de 2009

"Rebeliar-se" ?

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Ó Dr.ª Manuela Ferreira Leite, eu também me "rebelio", contra as suas faltas de concordância verbal, os seus pleonasmos, o seu parco vocabulário e sobretudo contra a indigência de ideias que o seu psitacismo político-partidário põe a nu.

terça-feira, 23 de junho de 2009

QUADRA SANJOANINA


A roda do nosso abraço
Tem um sentido profundo;
Quanto mais se aperta o laço
Tanto mais se alarga o mundo.

(autor desconhecido)

sexta-feira, 19 de junho de 2009

IRÃO...irão?

(imagem copiada de:
http://weber.blogs.sapo.pt/
que gentilmente postou este meu circunstancial comentário)

Young woman
Where is your vote?
Where is the vote of all my life
For your freedom
For our freedom?


domingo, 14 de junho de 2009

Eugénio de Andrade

Também ontem, 13 de Junho, passaram 4 anos desde a partida do Eugénio. Segunda-feira, 15, haverá na Cooperativa Árvore, no Porto, pelas 18 horas, uma evocação da sua obra, com leitura de poemas.

No prato da balança um verso basta
para pesar no outro a minha vida.

sábado, 13 de junho de 2009

Joaquim Manuel Magalhães

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Acordo para o cansaço da manhã
com o cheiro das primeiras vozes
e os motores acesos da casa que principia.
De novo. Sempre principia. Setas
que segregam luz doente, esfarelam
por dentro de quem não queria
acordar nunca, esquecido na rasura
dos lençóis, o empurrão da voraz claridade

Cada próspera cidade tem no seu meio
uma cidade de subnutrição, crianças mortas,
desalojados, desemprego. E em cada cidade
das mais podres há, num aro de metralhadoras,
uma cidade de tecnologia, rara
costura, sobre finança e medo.

(...)

(estrofes iniciais do poema VALVULINA, que abre o livro ALTA NOITE EM ALTA FRAGA)
Relógio D'Água Editores, Lisboa, 2001)


Nota : Um dos maiores poetas portugueses actuais, nascido igualmente a 13 de Junho.
Fernando António Nogueira Pessoa, nascido em Lisboa, às 15 horas do dia 13 de Junho de 1888.
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AUTOPSICOGRAFIA


O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lèem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

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Nota: escolhi este conhecidíssimo poema do ortónimo, pois a verdadeira iluminação do "fazer poético" que ele comunica, ainda não foi entendida, depois de tanto tempo, por muitos que se julgam poetas e por grande massa de leitores e não-leitores que continuam a considerar a escrita poética um retórico ornamento de paixões ou vazadouro inerme de outros "pathos", ou ainda o pretexto servil e pindérico para dourar qualquer rito.

Ainda muito quem cofunda autor com obra. O "Je est un autre" do Rimbaud, a cisão do "ego" freudiana, nos inícios do séc XX, pouco interessam. Os grandes estudos saussureanos sobre a Língua e tudo que daí derivou, nada aproveitam.

Daí a afirmação da ficção, do fingimento pessoano, que magistralmente, neste poema, faz o roteiro da transmigração dolorosa de um possível acontecimento biográfico" para um texto poético. Nesse texto pode quase nada haver de biográfico, pois a dor inicial, ao lexicalizar-se, ao entrar no jogo de "enjambement" do poema, passou do "deveras sente" para o "fingir que é dor".

"Sentir, sinta quem lê", diz o poeta noutro poema. Isto transporta-nos para a "dor lida". O poeta é o seu primeiro leitor. Logo, as tais ""duas que ele teve": a dor de escrever e a dor de se ler, tantas vezes inconformado com o resultado e destruindo o que escreveu.













quarta-feira, 10 de junho de 2009

Luís Vaz de Camões - SEMPRE

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Correm turvas as águas deste rio,
que as do Céu e as do monte as enturbaram;
os campos florecidos se secaram,
intratável se fez o vale, e frio.

Passou o verão, passou o ardente estio,
umas cousas por outras se trocaram;
os fementidos Fados deixaram
do mundo o regimento, ou desvario.

Tem o tempo sua ordem sabida;
o mundo, não; mas anda tão confuso,
que parece que dele Deus se esquece.

Casos, opiniões, natura e uso
fazem que nos pareça desta vida
que não nela mais que o que parece.


Nota: Desaparecido vai para cinco séculos, este Génio, anedoticamente mal conhecido pelos portugueses, continua (como todos os génios) de uma actualidade impressionante.

domingo, 7 de junho de 2009

"Vive la rose!"

(Ramo de rosas enviado pelo meu amigo J. A.)

Retribuo com um poema publicado em livro, mas que se refere a um "antes".
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ANTES
(história para ler ao deitar)


No princípio não era o verbo
mas o antes. Não-lugar onde
nenhum mantimento
era necessário. Mesmo isso
a que chamam palavras, cadeias
servis de contágio e contagem,
não tinha qualquer serventia.

Era muito antes da cisão
da luz e da treva e
da fábula fatal de qualquer
existência. Muito antes da
invenção maligna de Cronos e
de outros princípios divinos. Muito
antes do negro e do branco,
do bem e do mal, do macho
e da fêmea.

Desnecessários eram,
por inúteis: searas e ceifeiros,
rebanhos e pastores, senhores e servos,
possuidores e coisas possuídas. Antes,
muito antes
do amor, do sangue e da sede, antes
da viagem, antes da subida, antes
do declive. Desde sempre
muito antes da morte.

I. L.
in A Disfunção Lírica, & etc, Lisboa, 2007

sexta-feira, 5 de junho de 2009

terça-feira, 2 de junho de 2009

Não só quem nos odeia ou nos inveja

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Não quem nos odeia ou nos inveja
Nos limita e oprime; quem nos ama
Não menos nos limita.
Que os deuses me concedam que, despido
De afectos, tenha a fria liberdade
Dos píncaros sem nada.
Quem quer pouco, tem tudo; quem quer nada
É livre; quem não tem, e não deseja,
Homem, é igual aos deuses.


Ricardo Reis