terça-feira, 30 de novembro de 2010

Observatório de maridos assassinados


Acham? Claro que este título é uma boutade ao Observatório de Mulheres Assassinadas da UMAR. Com coisas sinistras não se brinca, não é? Mas até apetece.
Mulheres do meu País, amazonas, Marias da Fonte, Padeiras de Aljubarrota, donzelas guerreiras da tradição oral e demais mulheres de armas: dêem-lhes com o que têm à mão - panelas, frigideiras, baldes, computadores, esfregonas, tampas de sanita (que eles deixam sempre levantadas), etc. Então há ou não há igualdade???
Aqui fica o link.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

A retórica rançosa do ritual grevista


No contexto português actual, em que se importa 80% dos bens de consumo, com a consequente subida da dívida e dos juros da agiotagem financeira internacional, organizar greves ditas gerais é comparável a ministrar um laxante a um indivíduo que sofre de diarreia crónica.
Já não se aguentam essas retóricas "proletárias" (cada vez com menos prole), made na extinta URSS, tipo: jornada de luta, povo trabalhador, os patrões malvados que comem o lombo e deixam o osso para os pobrezinhos e assim por diante.
Os denominados piquetes de greve não são mais do que grupos de intimidação organizada, pastoreados pelos gurus sindicalistas, que impedem muita gente de se apresentar nos postos de trabalho, para assim, no final da "jornada de luta", exibirem volumosas percentagens de aderência à greve.
Sei de professores que, dias antes, começaram a ser intimidados por colegas e a receber emails dizendo que os "esperavam no átrio". Ouvi igualmente depoimentos de funcionários que se apresentaram no local de trabalho, mas só porque o porteiro, que tinha as chaves das instalações, estava de greve, não puderam trabalhar, aumentando assim, mais uma vez a percentagem para as estatísticas.
E são estes senhores que denunciam a autocracia, as pressões ilegítimas, a prepotência! Mas, o mais confrangedor, é o irrealismo perante a situação internacional, europeia e portuguesa. Se Portugal não tiver quem lhe fie para aquecer-se no Inverno, meter gasolina nos popós e comprar bens alimentares, quero ver para que caixote do lixo vai esta retórica rançosa e anacrónica. É tempo de se actualizarem.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Herberto Helder, 23 de Novembro de 1930


(...)
li algures que os gregos antigos não escreviam necrológios,
quando alguém morria perguntavam apenas:
tinha paixão?
quando alguém morre também eu quero saber da qualidade da sua paixão:
se tinha paixão pelas coisas gerais,
água,
música,
pelo talento de algumas palavras para se moverem no caos,
pelo corpo salvo dos seus precipícios com destino à glória,
paixão pela paixão,
tinha?
e então indago de mim se eu próprio tenho paixão,
se posso morrer gregamente,
que paixão?
os grandes animais selvagens extinguem-se na terra,
os grandes poemas desaparecem nas grandes línguas que desaparecem,
homens e mulheres perdem a aura
na usura,
na política,
no comércio, na indústria,
dedos conexos, há dedos que se inspiram nos objectos à espera,
trémulos objectos entrando e saindo
dos dez tão poucos dedos para tantos
objectos do mundo
e o que há assim no mundo que responda à pergunta grega,
pode manter-se a paixão com fruta comida ainda viva,
e fazer depois com sal grosso uma canção curtida pelas cicatrizes (...)

- Herberto Herlder, A faca não corta o fogo(Assírio & Alvim, 2008)

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Virilidades vernáculas


(...)chove pra caralho..., o Cristiano Ronaldo joga pra caralho... [...] não há nada a que não se possa juntar um caralho, funcionando este como verdadeira muleta oratória. (...)

Leia a sugestiva referência no blogue Da Literatura, a um artigo do Diário de Notícias.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Opinião



Reina a abundância opinativa em todos os grandes e pequenos púlpitos do País, desde as estações televisivas, à imprensa, aos blogues e aos diversíssimos programas da rádio, fóruns e antenas, em que o bom povo, os políticos, os economistas, os magistrados, etc., dão a sua "opinião".

A questão toda é que, opinar tem uma auréola semântica de respeitabilidade democrática, que não corresponde muitas vezes à formação cívica e intelectual dos enunciantes. Quanto muito será um mero parecer, crença, dúvida ou até uma despudorada má fé.

A Língua, na sua maravilhosa plasticidade, confere ao lexema opinião colorações que andam perto desta simples constatação. Senão, veja-se por exemplo os significados que constam do Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora: assentimento parcial; adesão do espírito a um juízo, sem exclusão do receio de errar; convicção; modo de ver pessoal; aquilo a que o espírito adere sem a certeza de se estar na verdade; ideia; crença; concepção; sentimento; parecer emitido; voto dado sobre um assunto; presunção; pensamento geral ou atitude em relação a questões políticas, morais, filosóficas, religiosas; o que se pensa à nossa volta.

Parafraseando uma antiga canção de Sérgio Godinho, cuidado com as opiniões.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Poesia e música no Museu Soares dos Reis

Já houve uma outra sessão, também por iniciativa da SPA, no passado dia 3, intitulada "Um abraço a António Rebordão Navarro", com a participação de José Jorge Letria, João Lourenço, Helder Pacheco, António Durães e a mesma colaboração musical.

domingo, 7 de novembro de 2010

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Sakineh Mohammadi Ashtiani


Enquanto houver no Mundo sistemas judiciais que permitam que uma mulher seja condenada à morte por presumível adultério por processos arcaicos de grande sofrimento e opróbio público, enquanto os homens ao abrigo do guarda-chuva politicamente correcto do multiculturalismo, continuam a ter oficialmente, várias esposas e haréns, TODAS as mulheres do Planeta se devem considerar uma espécie sub-humana. Essa gente farisaica e microcéfala, de ambos os sexos, que fala muito de paridade e de já ser desnecessário lutar por isso, devia parar, para pensar.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Dilma


Eleita presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, proferiu algumas comoventes palavras, entre as quais: "Os pais e as mães olhem nos olhos das meninas e digam: as mulheres podem!", afirmação que muito me alegra ouvir formulada em língua portuguesa. Lamentavelmente, na pátria originária desse idioma, o modelo feminino que ainda consegue candidatar-se à mesa do poder é assim uma espécie bafienta e freirática, cheia de conservadorismo pífio, agarrada a valores caducos e mesquinhos. Senhoras que sempre usaram tailleurs de mulheres bem comportadas e cabelos pindéricos, que só se vestem de vermelho se for por causa do Benfica. Dois exemplos que bem ilustram este estereótipo serão Manuela Ferreira Leite e Maria Cavaco Silva, cada uma na sua versão actualizada da Mocidade Portuguesa feminina. Mas, não nos ficaremos por aí. Há numerosas damas, tias avilescas e outras que tais, frequentadoras de paróquias da Lapa a Boliqueime, que engrossam largamente as fileiras desse esterótipo.
Pais e mães, olhem nos olhos das meninas e digam: as mulheres podem!

Ildásio Tavares



Soneto Dominical

Já não me aflige mais a pasmaceira
do domingo. Meus filhos mundo afora
e eu em casa pensando. A vida inteira
ensina-me a ser só. Não é agora

que eu hei-de reclamar. Segunda-feira
há-de chegar. Há-de chegar a hora
em que se apague a chama derradeira;
em que a vida me diga: vá-se embora.

Tudo tão natural. A árvore morta
já não abriga pássaros nos ramos
que, pouco a pouco, vão caindo ao chão.

Amei mal as mulheres. Mais amamos
nós mesmos, nosso ofício. Pouco importa
a vida; este domingo; a solidão.


Ildásio Tavares, 25-01-1940/31-10-2010




Nota: conheci o Ildásio aqui no Porto das diversas vezes que cá veio em trabalho de divulgação poética, nomeadamente na Faculdade de Letras do Porto. Era uma personagem singular, vibrante, de um grande poder comunicacional e de vastos e diversificados saberes. Foi professor de Literatura Portuguesa na Universidade Federal da Bahia e tem uma considerável obra no domínio da poesia, ficção, ensaio, além de ter colaborado com alguns dos nomes maiores da MPB.

Visita ao Eugénio


("Terra, se um dia lhe tocares / O corpo adormecido / Põe folhas verdes onde pões silêncio / Sê leve para quem o foi contigo")
Fui ontem visitar o Eugénio. Não estava ninguém. Um verso garantia, na pedra, "não há morte".