quarta-feira, 27 de abril de 2011

Sem Sócrates?

Eu também queria uma Presidência da República sem Cavaco, uma Oposição sem Coelhos, Relvas, encomendadores de submarinos sem mísseis, esquerdas com verdete, etc.
Afinal, Sócrates não foi eleito democraticamente? E agora também vai servindo de mestre de cerimónias para os credores da Nação, enquanto lhe mandam biqueiros todos os dias, esses lazarentos candidatos ao poder que precipitaram a queda do Governo.
Se querem PS sem Sócrates, também quero Belém sem Cavaco, PSD sem Coelho, PP sem Portas, PC sem Jerónimo e Bloco sem Louçã. Ou não foram estes senhores eleitos democraticamente, como Sócrates?

Mudar de vida



A identidade portuguesa desta música de Carlos Paredes impõe-se aos nossos ouvidos com uma nostálgica inquietude. A nossa identidade envolve o conflito entre a ânsia de mudança, ultrapassagem de limites e a necessidade videirinha e matreira de segurança e lucro, sem qualquer perspectiva de ideal a atingir. O 25 de Abril foi a eclosão de um desses períodos de mudança, de ultrapassagem de limites, de actualização com os tempos modernos. As vozes que desvalorizam esta data e esta mudança sofrem, infelizmente, de um total embotamento mental, desinformação analfabeta ou aproveitamento duvidoso de prebendas de questionável licitude. Isto para já não falar naquele grande "clássico" dos chamados "espoliados".
Viva o 25 de Abril!

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Paixão segundo São Mateus, J.S. Bach


O coro final de "A Paixão Segundo São Mateus" de J. S. Bach, pelo coro e orquestra d0Collegium Vocale de Gent, sob a direcção de Philippe Herreweghe

terça-feira, 19 de abril de 2011

Intoxicadores


Medina Carreira, esse sénior tão cultuado por certa opinião pública, teve o desplante de, há uns dias, exibir um gráfico numa estação de TV, onde demonstrava que durante a ditadura salazarista, a nossa dívida pública não existia.
Como é possível esquecer os concomitantes tempos de penúria e miséria social, com criancinhas piolhosas e descalças? Frequentei uma escola primária no centro do Porto, e tive colegas que iam descalças para as aulas, e a quem a professora tinha de pôr pó contra os parasitas na cabeça.
O panelão da sopa e um pãozinho era o que a servente (que hoje se chama auxiliar de acção educativa) dava ao almoço a grande parte das alunas. Só meia dúzia de miúdas, mais remediadas, iam almoçar a casa.
Quanto ao ambiente rural, nem é bom falar. Vnham para as cidades exércitos de meninas de nove anos, para criadas de servir, que ainda mal chegavam ao fogão e só tinham livre a tarde de domingo. Isto para não falar no assédio dos patrões e outros homens da casa. Sim, que isto de pedofilia não começou com a Casa Pia.
Logo, confrange-me ver esse respeitável economista não levar em linha de conta o ambiente social, a miséria mais negra, a repressão da dignidade dos pequenos, a História, a Sociologia, a Política. Afinal, ao serviço de quem e de quê está a economia? Duma mentalidade de balancete ou de caixa registadora?
Outra personagem que já enfada na Quadratura do Círculo, a apelidar de "homem perigoso" o PM, é o famigerado ficcionista Pacheco Pereira. E di-lo com um ar odiento, de quem fala de Hitler ou de Gengis Khan. Se não fosse tão ridículo, seria quase humorístico.
Será que, realmente, o PM é efectivamente perigoso para a mediocridade sem remédio das pessoas que povoam o partido orangista?

quinta-feira, 14 de abril de 2011

O resgate desnecessário

Ilustração de João Fazenda para o New Yorker
Um senhor de nome Robert Fishman, professor de sociologia da Universidade de Yale, que certamente nenhum português conhece, escreveu hoje um artigo no New York Times intitulado: «O resgate desnecessário de Portugal». O senhor, que está longe, percebeu o que muitos dos que estão perto teimam, por razões partidárias, em não perceber, a saber:

1.Portugal teve um forte desempenho económico nos anos 1990 e estava a gerir a sua recuperação da recessão global melhor que vários outros países na Europa, mas foi sujeito a uma pressão injusta e arbitrária dos negociadores de obrigações, especuladores e agencias de 'rating.


2.Estes agentes dos mercados financeiros conseguiram, por razões míopes ou ideológicas levar à demissão de um governo democraticamente eleito e potencialmente "atar as mãos do que se lhe segue.


3.Portugal não tinha subjacente uma crise genuína e foi sim sujeito a ondas sucessivas de ataques por negociadores de obrigações.


4.Distorcendo as percepções de mercado da estabilidade de Portugal, as agências de 'rating' - cujo papel de favorecimento da crise do 'subprime' nos Estados Unidos foi amplamente documentado - minaram quer a sua recuperação económica, quer a liberdade política.


5.Se forem deixadas desreguladas, estas forças de mercado ameaçam eclipsar a capacidade dos governos democráticos para fazer as suas próprias escolhas sobre impostos e gastos.


6.A revolução portuguesa de 1974 inaugurou uma onda de democratização que varreu o globo. É bem possível que 2011 marque o início duma onda de usurpação da democracia por mercados desregulados, com a Itália, Espanha e Bélgica como próximas vítimas potenciais.


Por cá, o presidente da República, «enxovalhado» na campanha eleitoral pelas suas ligações ao BPN e Pedro Passos Coelho a «precisar» de ser primeiro-ministro, no momento mais delicado, ajudaram a este gigantesco festim dos mercados internacionais.

(Por Tomás Vasques - in Hoje há conquilhas, amanhã não sabemos)

Três poemas de um leitor de logros

Ah! o equilíbrio correcto
das rectas o redondo
repouso das elipses
e das hipérboles e
em geral das formas puras
que realizam a matéria
no olhar mas não resolvem
o real, querias! Pródigos
que as simetrias mais
amais que a vida, esta
que contém o que há
para amar: Deus
vos seja avaro em júbilo
e perdulário em penas.

* * *

Um mendigo

A tristeza e a dor
que vivo e não dizem
estas palavras-letras
S O L I D Ã O
não são para vender
são para mostrar
como quem abre
cuidadosamente
a camisa e aponta
a chaga no peito
não cicatrizada
e espera que lhe digam
está quase curada
não te preocupes.

* * *

Como um cão me esgueiro
para comer; escondoa comida dos outros
e também das gaivotas;
olho de esguelha, furtivo
e como com as mãos;
não tenho ilusões nem
alegria tão pouco
tristeza. Dividido
em várias partes sentado
de costas para o mar
sacio o corpo o que posso.
Pesados são os dias
escavadores de rugas.


Paulo Almeida
(do blogue Limiar limite: http://limiardolimite.blogspot.com/)

segunda-feira, 11 de abril de 2011

De l'imagination au pouvoir

Então o campeão do bom-senso e do balancete, no auge dos bolsos rotos do país, vem falar de imaginação? E logo aos financiadores/cobradores da UE? É caso para dizer que o humor à portuguesa está mais na vida real e nos Silvas, do que em qualquer enciclopédia de anedotas.

Acto de ler

Acto de ler

O acto de ler reabre feridas. Nos livros
em que isso acontece, com frequência,
poderia oa menos haver um aviso na capa;
assim como se faz com as carteiras de tabaco,
embora se saiba que poucos deixam
de fumar
por isso.

- Teresa Jardim
in Resumo, a poesia em 2011, Ed. Assírio e Alvim/FNAC, Lisboa, Março 2011, pp 156

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Acabou o boneco-da-porrada

Uma das coisas boas que trouxe a crise política foi a dissolução da Assembleia da República. Já não se aguentava com o misérrimo espectáculo de ver cinco formações partidárias em concordata repetitiva, a atirarem-se, tantas vezes por razões contraditórias, contra um Governo minoritário. Essa desproporção era algo indegesta para quem não cultivao gozo sádico de bater no mais fraco. Não me interessa se era Sócrates, Aristóteles ou o Rato Mickey; o que eu pergunto é se o funcionamento democrático que se inventou, dizem, para respeitar as minorias, não encontra maneira mais ética para não flagelar essa outra minoria da AR.
Claro que Sócrates, com a intrepidez e o poder comunicacional indesmentíveis que se lhe conhecem, instituiu os debates quinzenais (coisa para que os seus antecessores não tiveram pedalada), o que só acirrou a inveja e o ressentimento dos seus opositores. Infelizmente, em Portugal, não se pode dar nas vistas por boas razões, mas sim por "qualidades" de vão de escada.
Esperermos que a próxima composição do Parlamento, agora com FMI a dar as ordens, como tantos almejavam, nos poupe a esse deprimente cenário de minorias flageladas.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Arranjem outro palhaço

Então, chumbaram o chamado PEC4 ao Governo, e agora querem que o homem vá de chapéu na mão e tijelinha de esmolas pedir socorro, sem dar garantias em troca? Que vá lá o senhor Silva, os Relvas, os Pachecos Pereiras e outros grupos folclóricos agarrados a cartilhas com data de validade expirada.
Fizeram merda? Agora cheguem-se à frente.
Arranjem outro palhaço!

segunda-feira, 4 de abril de 2011