quinta-feira, 25 de novembro de 2010

A retórica rançosa do ritual grevista


No contexto português actual, em que se importa 80% dos bens de consumo, com a consequente subida da dívida e dos juros da agiotagem financeira internacional, organizar greves ditas gerais é comparável a ministrar um laxante a um indivíduo que sofre de diarreia crónica.
Já não se aguentam essas retóricas "proletárias" (cada vez com menos prole), made na extinta URSS, tipo: jornada de luta, povo trabalhador, os patrões malvados que comem o lombo e deixam o osso para os pobrezinhos e assim por diante.
Os denominados piquetes de greve não são mais do que grupos de intimidação organizada, pastoreados pelos gurus sindicalistas, que impedem muita gente de se apresentar nos postos de trabalho, para assim, no final da "jornada de luta", exibirem volumosas percentagens de aderência à greve.
Sei de professores que, dias antes, começaram a ser intimidados por colegas e a receber emails dizendo que os "esperavam no átrio". Ouvi igualmente depoimentos de funcionários que se apresentaram no local de trabalho, mas só porque o porteiro, que tinha as chaves das instalações, estava de greve, não puderam trabalhar, aumentando assim, mais uma vez a percentagem para as estatísticas.
E são estes senhores que denunciam a autocracia, as pressões ilegítimas, a prepotência! Mas, o mais confrangedor, é o irrealismo perante a situação internacional, europeia e portuguesa. Se Portugal não tiver quem lhe fie para aquecer-se no Inverno, meter gasolina nos popós e comprar bens alimentares, quero ver para que caixote do lixo vai esta retórica rançosa e anacrónica. É tempo de se actualizarem.

4 comentários:

pilantra disse...

A Manuela Ferreira Leite antecipou-se-lhe na originalidade quando invocou, parcamente, a «suspensão temporária da democracia».

A rançosa do ritual grevista,

Nelinha

Logros disse...

Olá Nelinha.
"Parcamente" é de facto um advérbio muito adequado à Dama-de-Latão.
Como sabe, eu não me situo em qualquer sintonia com esses rançosos contabilistas.
A palavra democracia é uma daquelas grandes palavras muito elásticas, tais como o amor, a vida, o espírito, a pátria, etc., e pode encapotar fins muito louváveis, mas também as piores tiranias. Basta lembrarmos-nos da DDR, República Democrática Alemã, com a sua "Stasi".
Mas nada de arrufos com esta sua grande amiga, que apenas anda enfastiada dos chavões.
Beijinhos.

pilantra disse...

Aí nas palavras elásticas esqueceu a alma, a danada da alma mais os seus magníficos estados.

Arrufos? Nada disso - eu gosto é de arrufadas: com manteiga ou com queijinhos frescos de cabra, daqueles que derretem só de a gente olhar.

Quanto às greves, principaçmente gerais, prefiro-as à porrada. Embora haja gente a quem a porrada seria muito bem atribuida - pelo desconto dos pecados.

Quando vão lá mais para cima? Com este frio a Sofia bem pode levar luvas! lol

Bjs

Logros disse...

Quanto à porrada, até estamos de acordo. Por muito que se lastimem, os seres humanos regeneram-se consideravelmente (quase sempre) depois dos grandes desastres.
Quanto à alma, li há pouco esta coisa do Águalusa, de que nunca tinha lido nada, mas que me parece bem esgalhada: "A palavra alma. Parece-me uma palavra muito grande. Já toda a gente abusou dela: poetas medíocres, guerreiros, conspiradores, filósofos, mas ainda assim continua enorme. Risco a alma e mantenho as estrelas. Nas grandes cidades não é possível ver as estrelas."
Obrigada pelas acgegas. Beijo.