quarta-feira, 21 de outubro de 2009

"Deus não é boa pessoa"?

Saramago, que nunca foi santo da minha devoção, afunda-se a propósito do seu "Caim", num grotesco e simplório jacobinismo.

O conceito de "pessoa" e "divindade", pelo menos para um Nobel da Literatura, devia merecer alguma lucidez. "Pessoa" é mortal, material, finita; "divindade" é imortal, imaterial, infinita. Falo de conceitos e "topos" culturais e não de "verdades" ou crenças acéfalas..

Que seria da Cultura Ocidental sem os temas bíblicos?
Lembram-se de "Sôbolos Rios" ou de "Sete anos de pastor Jacob servia"? E Dante? E Bach? E o "Requiem" de Mozart? E de tantos outros génios?

Com isto não aprovo Sousas Laras nem outros Torquemadas de pacotilha. Mas a Literatura Portuguesa merecia um Nobel melhor.

4 comentários:

Bruno Gouveia Azeredo disse...

Cara Inês, já leu a Bíblia? Eu ainda não. Comecei à lê-la pq o Tartaruga Genial (Saramago) acusou que ninguém a lia, nem os católicos, e eu apesar de não ser católico praticante (tenho como todos nós os valores impregnados) senti-me obrigado a colmatar essa pecha. O livro está a ser excelente, com um carácter arqueológico que o torna irrestível, mas Deus é efectivamente uma má pessoa: Mata inocentes, provoca genocídios, aplica castigos desmesurados, é rancoroso. Isso são tudo sinais de má pessoa, ou uma pessoa como outra qualquer. Afinal ele fez-se à nossa imagem ou nós nos fizemos à imagem ou vice-versa, já não sei bem. Voltando ao assunto, o que ele está a referir é o Deus Bíblico, o Deus da história dos livros da Bíblia. Efectivamente tem todos os nossos defeitos e pratica todos os nossos crimes. Parece que no novo testamento mata o filho, ouvi dizer. Mas ainda não cheguei lá. Os únicos evangelhos que li foi o Evangelho segundo Jesus Cristo do Tartaruga Genial e a "Ùltima Tentação de Cristo" de Nikos Kazantzakis. Foi na altura tamanha dose (li os dois seguidos) que fiquei alérgico à personagem. Mas é boa altura de lá chegar, sem bem q conto ainda uns meses para ler a Bíblia toda. É sem dúvida devido.

Anónimo disse...

A Bíblia tem 73 livros.
E coisas "eternas", como o "Cântico dos Cânticos" de Salomão ou o Livro dos Salmos. Para não falar de figuras míticas como David, Sansão, Judite, Dallila, etc. Ler é diferente de estudar e utilizar frequentemente, como fazem os evangélicos. Luther King era um pastor evangélico...

Quanto à ideia de divindade, ela existe desde os primórdios, no paganismo, na Tragédia Grega.

O deus do Antigo Testamento, Jeová, difere do do Novo Testamento. Essa transformasção deveu-se a um tal Cristo, que foi condenado à pena capital, por tentar subverter as velhas tradições religiosas e sociais. A pena capital, que hoje é injecção letal, já foi decapitação, fogueira, enforcamento,fuzilamento, enforcamento e...crucifixação.

Em resumo: os humanos, incluindo os Vaticanos e outras hierarquias sociais e religiosas são uns grandes filhos da puta. Deus tem as costas largas ou como diz a Adília Lopes : "Deus é a nossa mulher a dias".

jose albergaria disse...

Cara amiga,
É o Nobel que nos calhou.
Ninguém, além do Comité que o escolheu se pode sentir responsaével de tal efeito.
Uma vez perguntaram à minha muito querida Agustina:
-Então e Saramago?
-É o nosso Nobel e ponto final. Eu escrevo muito melhor que ele.
Abraçop grande,
J.A.

samartaime disse...

Boa coisa esta de termos um Nobel que, pelo menos, irrita todas as circunstâncias!

Queiram ou não, devemos-lhe essa imensa lição de frontalidade e liberdade: não há tabus, para ele.
Tanto recrimina a Bíblia como o seu partido, o PCP. Tanto irrita judeus e cristãos, quanto ateus.
E está sempre disponivel para debater a sua opinião - e não a opinião que dizem ser a dele.

Em contrapartida, o que tenho ouvido aos seus acusadores são exemplos perfeitos da tal «bíblia dos maus costumes e boçalidade» que Saramago se «atreveu» a referir.