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SHE LIVES BY THE CASTLE
Meu amor - assim começavam
quase sempre os poemas
de que menos conseguia gostar.
Mas é verdade (a verdade
e a retórica nunca se entenderam)
que um bando de gaivotas atravessa
o pouco céu que vai da Sé aos Clérigos.
Tu dormes; nunca estivemos aqui.
A cortina por levantar, de um amarelo
duvidoso, a varanda sobre ruínas,
casas onde morou gente,
telhados abnatidos que me servem
de cinzeiro. Tu dormes,
rosto abertamente escondido
sob lençóis brancos, almofadas
com brasão, espelhos dos anos vinte.
Não sabes, não sabemos, de melhor castelo.
Ignoras devagar os motivos que
em breve nos farão descer do quarto
209, Grande Hotel de Paris,
atentos aos primeiros sinais do nada.
E assim, meu amor, acaba este poema.
Intermezzi, op. 25, Opera Omnia ed., Guimarãers, 2009
Nota: Manuel de Freitas (n. 1972) um poeta marcante da década de 90, ensaista, crítico, editor da Averno, co-director da revista Telhados de Vidro.
Autor cuja obra acompanho desde o início da sua produção poética (2000). Nela encontram-se refractados os grandes caminhos da poesia actual, contendo embora as "analepses" que a explicam, cultural e imageticamente. Numa sábia linguagem propositadamente não ambígua, nem "preciosa", nem "sublime", acompanha-nos nas perplexidades diárias com a densidade de todas as grandes interrogações.
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6 comentários:
Já tinha saudades! Deixei a livralhada lá em cima, que desta vez o carrego foi diferente - para pouco, convenhamos.
Ainda não apareceram os de vidro?
Tá dificil: deve trazer diamantes de elevado quilate. Queria juntar-lhe o Pires Cabral mas nunca mais sai!
Era um bela fugata aqui para a minha desavença comigo.
Pois, amiga, também estou curiosa dos próximos "Telhados". Vou ver se consigo saber algo.
Abraço
I.
Mas este, não é o Freitas de "Os Portas sem Qualidades" e do "Game Over", que não gosta dos cacarejos desses "encontros de poetas" e outras "mesas rombas" que por aí grassam?
Gosto do pouco que li.Vale mais um só poema dele que livros inteiros de blá-blá-blá.
Bjos
B.
Tem todas as condições para ser um grande talento poético: é recensor crítico, editor de livros e de uma revista de poesia.
Prezado Manuel de Freitas, envio-lhe esta mensagem por este meio, uma vez que perdi o contacto que me enviou, e acredito que através deste espaço, a mensagem lhe chegue. Queria dizer que gostei muito do seu livro Boa Morte, mas não vou poder corresponder aos seus desejos, apesar de nada ter contra a homossexualidade, sou aliás contra qualquer tipo de discriminação, seja ela qual for, uma vez que somos todos iguais à face da Terra. Louvo-o inclusivé, a si e ao António Manuel Pina, pela devoção aos pobres e carenciados e às meritórias causas da Ordem Franciscana.
Com os meus desejos de Felicidades,
Luís Boa Morte.
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