sábado, 13 de junho de 2009

Fernando António Nogueira Pessoa, nascido em Lisboa, às 15 horas do dia 13 de Junho de 1888.
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AUTOPSICOGRAFIA


O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lèem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

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Nota: escolhi este conhecidíssimo poema do ortónimo, pois a verdadeira iluminação do "fazer poético" que ele comunica, ainda não foi entendida, depois de tanto tempo, por muitos que se julgam poetas e por grande massa de leitores e não-leitores que continuam a considerar a escrita poética um retórico ornamento de paixões ou vazadouro inerme de outros "pathos", ou ainda o pretexto servil e pindérico para dourar qualquer rito.

Ainda muito quem cofunda autor com obra. O "Je est un autre" do Rimbaud, a cisão do "ego" freudiana, nos inícios do séc XX, pouco interessam. Os grandes estudos saussureanos sobre a Língua e tudo que daí derivou, nada aproveitam.

Daí a afirmação da ficção, do fingimento pessoano, que magistralmente, neste poema, faz o roteiro da transmigração dolorosa de um possível acontecimento biográfico" para um texto poético. Nesse texto pode quase nada haver de biográfico, pois a dor inicial, ao lexicalizar-se, ao entrar no jogo de "enjambement" do poema, passou do "deveras sente" para o "fingir que é dor".

"Sentir, sinta quem lê", diz o poeta noutro poema. Isto transporta-nos para a "dor lida". O poeta é o seu primeiro leitor. Logo, as tais ""duas que ele teve": a dor de escrever e a dor de se ler, tantas vezes inconformado com o resultado e destruindo o que escreveu.













4 comentários:

samartaime disse...

Mas que mania com os poetas!

A Maria Helena Vieira da Silva também nasceu a 13 de Junho, tal e qual como o cabeça de Medusa!

Os poetas são uma cambada sectária e corporativista, está visto!

eh eh eh

logros disse...

Realmente este dia 13 de Junho...

Tem muita razão. A Vieira da Silva que admiro profundamente.
Mas, ainda voltando aos poetas:O W. B. Yeats e o Joaquim Manuel Magalhães.
E também partiram nesta data o Eugénio de Andrade e o António Variações:
"Porque eu só quero ir
Aonde eu não vou"....



Beijo

I.

samartaime disse...

E já foi ver o 10 de Junho no abracadabra? Pois olhe que devia que a surpresa é grande... Aposto que só eu me lembrei do Joly e do Lopes Graça para acompanharem o lusíada Camões

logros disse...

Já fui ver. Um mimo!
Lopes-Graça e Joly Braga Santos. Mais dois "grandes portugueses" que o país desconhece.
Então na Música é uma vergomha; nem Carlos Seixas, nem Domingos Bontempo, nem Viana da Mota, nem Freitas Branco,; todos estes gente de primeira grandeza. a ignorância, miséria e autoritarismo criminoso do antes do 25 de Abril, juntou-se o populismo saloio do pós-25.
Por isso a memória cultural das Artes, anda como se sabe.
Entretanto outros vêm "vender" o seu material e ficam espantados com as cópias das partituras que se perderam no Terramoto de 1755.
Estou a falar, agora de Carlos Seixas.

Até logo.

I.