terça-feira, 28 de setembro de 2010

Ferraris e famintos


Andamos fartos de ouvir falar em OCDE, FMI, G8, agências de rating, dívida pública, défice, etc., etc. E, concomitantemente, na insistência dos "pregadores" de ideologias para a salvação dos "desfavorecidos", que já deram provas da sua ineficácia local e global.
Tudo isto parece ser um fantástico logro civilizacional. Os recursos do Planeta não chegam para sustentar um mundo de fabricantes e consumidores de Ferraris e outras obras-primas extipendiárias do engenho e vaidade humanas, alimentar metrópoles luminescentes de dolce vita e garantir que cada ser, dito da espécie humana, tenha direito a um prato de comida e a alfabetização em qualquer recôndito sítio da Terra.
Este maléfico desequilíbrio civilizacional não tem cura.
O mais que poderá suceder é, se a Natureza antes não pregar qualquer partida tipo degelo dos pólos, que venha a eclodir uma nova revolução, promovida pelos famintos que diariamente tentam emigrar para o mundo da abundância, que entretanto vai fabricando os seus próprios famintos.
Surgirá qualquer novo ismo, cuja implantação libertadora provocará, como é de uso, milhões de vítimas e milhares de presos políticos. Essa libertação gerará novos poderes, novas oligarquias, cerceamento de liberdades individuais, até ser desapeada como acaba sempre por suceder.
Etc., etc. e etc.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

A Nova Poesia Portuguesa





SUB ROSA
- para o Herberto Helder -

Não somos os últimos, pois se
há coisa que o mundo sempre fez bem
foi acabar. De novo e sempre: acabar.

Mas já não trabalhamos com o ouro
e temos um certo pudor tardio
em falar de deus, do amor ou até do corpo.

As metáforas arrefecem, talvez contrariadas.
São casas devolutas, mães risonhas
ou sombrias cujo grito deixámos de escutar.

Do lixo, porém, temos um vasto
e inútil conhecimento. Possa
ele servir de rosa triste aos
que não cantam sequer, por delicadeza.

in A Nova Poesia Portuguesa, de Manuel de Freitas. Edição Poesia Incompleta, Lisboa 2010

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Quatro Primeiras-Damas e vinte e dois filhos


Coabitam na residência oficial do Presidente sul-africano, Jacob Zuma, e entram no orçamento do Estado. Os argumentos multiculturalistas não bastam para apagar o primarismo burlesco e um pouco triste da situação, quando nos lembramos que governado por esta ostensiva e dispendiosa poligamia, existe um povo com baixos índices de subsistência.
Para aquelas pessoas que gostam de se iludir acerca da paridade ou igualdade dos géneros, aqui está um bom exemplo, muito semelhante ao que se passa nos galinheiros e selvas deste mundo:
Expresso, 11.09.2010 - "O Mundo dos Outros", por José Cutileiro
O Presidente Jacob Zuma vai casar com Bongiwe Gloria Ngema que o acompanhou recentemente numa visita oficial à China, lhe dará no começo do ano que vem o seu vigésimo segundo filho e será a quarta primeira-dama da África do Sul (em simultâneo). O vigésimo primeiro nasceu à segunda primeira-dama há menos de três semanas. Alguns outros nasceram fora dos casamentos do pai a namoradas de pouca dura e o Estado não tem obrigações para com eles e respectivas mães - mas tem para com as mulheres legítimas do seu chefe e a prole destas. Serão em breve quatro, embora possam vir a ser mais: Zuma é zulu; os zulus são ciosos dos seus costumes, que incluem um rei - Sua Majestade Goodwill Zwelithine, que reina e tem corte num canto da província do Natal da RAS (...).

terça-feira, 7 de setembro de 2010

A raposa lupina


Imagem: Marita Ferreira
É uma espécie de animal híbrido. Tem as características e a simbologia das duas espécies. "Manha de sete raposas" ou "na boca do lobo", são expressões que nos transportam ao imaginário onde estas criaturas habitam. As raposas assaltam mais galinheiros e os lobos rebanhos. Fazem parte do equilíbrio ecológico, embora seja suposto que as galinhas e as ovelhas não estarão muito de acordo.

Como quase todas as características zoológicas têm correspondência no género humano, tenho para mim que este híbrido animal descreve na perfeição a identidade lusa, isto é, a forma de disfarçar o ímpeto predatório - estralhaçar ovelhinhas com a manha videirinha da ladina raposa, na capoeira doméstica. Assim se passa nos vários sectores da actividade nacional: na política, na justiça, na imprensa, na família, na empresa, no futebol e se calhar até na bloga.

O bichinho tem pelagem de diversas cores nesta simbiose das duas espécias animais. Só que nem sempre a raposa lupina se livra de se transformar, também ela, em galinha de capoeira ou ovelha de rebanho, caçadas por um outro híbrido por inventar.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Outras ligações


Coisas que nunca aparece este mês na lista dos dez livros de poesia e teatro mais vendidos pela Fnac (ver aqui).