segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

A árvore de Natal tardia

Aquele canto do corredor continuava ornamentado com o pinheiro artificial, as bolas douradas, os sininhos mais a cena pastoril do estábulo de há dois mil anos. Merda de Festas, que têm de começar pelos adereços e não por uma vontade de comemorar seja o que for. Não era a  primeira vez que chegava ao Carnaval sem desarmar a tenda dos enfeites natalícios.  Arlindo já tinha pensado, várias vezes, em anos anteriores, porque raio não se podia fazer o Natal de quatro em quatro anos como os Jogos olímpicos ou os anos bissextos. Era um descanso para tanta gente e tornaria o evento desejado e não um cumprimento de rituais penosos, que se têm de transmitir às gerações mais novas para poderem acompanhar o rebanho. É certo que quando os miúdos nasceram e havia um choro de recém-nascido em casa, pelo Natal, vinha à cabeça uma espécie de quebranto e de amolecimento, como quando somos pequenos e alguém nos entoa uma canção para adormecer e esconder o mundo cheio de repressões e aprendizagens estúpidas que nos aguarda no dia seguinte. Assim rememorando, Arlindo voltou à cozinha, tirou uma mini do frigorífico e ligou a televisão para ouvir o telejornal e adormecer na cadeira perante as crises e cataclismos globais.

Inês Lourenço

in  ephemeras

1 comentário:

rui apolinário disse...

Não percebo nada de Natais...fui acostumado como os demais. Gosto da música do Fernando Lopes Graça e acho graça à sugestão: os natais serem de quatro em quatro anos... penso que a gente que, como eu, deles nada percebe, sempre se obrigava a entender porquê...tal qual como o porquê dos anos bissextos ou a Festa dos Tabuleiros...em Tomar. O Fernando Lopes Graça também iria concordar com um Natal assim: "sentido" num compasso quaternário (4/4) tocado a quatro mãos (num ou em dois pianos) ou por um quarteto de cordas (se não estivesse pelos ajustes...paciência; pedisse ajuda ao Joly). francisco correia