terça-feira, 19 de abril de 2011

Intoxicadores


Medina Carreira, esse sénior tão cultuado por certa opinião pública, teve o desplante de, há uns dias, exibir um gráfico numa estação de TV, onde demonstrava que durante a ditadura salazarista, a nossa dívida pública não existia.
Como é possível esquecer os concomitantes tempos de penúria e miséria social, com criancinhas piolhosas e descalças? Frequentei uma escola primária no centro do Porto, e tive colegas que iam descalças para as aulas, e a quem a professora tinha de pôr pó contra os parasitas na cabeça.
O panelão da sopa e um pãozinho era o que a servente (que hoje se chama auxiliar de acção educativa) dava ao almoço a grande parte das alunas. Só meia dúzia de miúdas, mais remediadas, iam almoçar a casa.
Quanto ao ambiente rural, nem é bom falar. Vnham para as cidades exércitos de meninas de nove anos, para criadas de servir, que ainda mal chegavam ao fogão e só tinham livre a tarde de domingo. Isto para não falar no assédio dos patrões e outros homens da casa. Sim, que isto de pedofilia não começou com a Casa Pia.
Logo, confrange-me ver esse respeitável economista não levar em linha de conta o ambiente social, a miséria mais negra, a repressão da dignidade dos pequenos, a História, a Sociologia, a Política. Afinal, ao serviço de quem e de quê está a economia? Duma mentalidade de balancete ou de caixa registadora?
Outra personagem que já enfada na Quadratura do Círculo, a apelidar de "homem perigoso" o PM, é o famigerado ficcionista Pacheco Pereira. E di-lo com um ar odiento, de quem fala de Hitler ou de Gengis Khan. Se não fosse tão ridículo, seria quase humorístico.
Será que, realmente, o PM é efectivamente perigoso para a mediocridade sem remédio das pessoas que povoam o partido orangista?

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