quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Os violadores "revolucionários" do Cairo

Lara Logan, correspondente da CBS e repórter de ‘60 Minutos’, foi sexualmente agredida quando fazia a cobertura dos festejos na praça Tahrir, no Cairo, após a renúncia do presidente egípcio Hosni Mubarak, na passada sexta-feira.
Logan, 39 anos, casada e mãe de duas crianças, separou-se da sua equipa ao ser rodeada por uma multidão de cerca de 200 pessoas. Na confusão, foi agredida e "sofreu um ataque sexual brutal e ininterrupto", revelou a CBS em comunicado. A agressão durou entre 20 e 30 minutos, tendo a repórter sido salva por um grupo de mulheres e militares. Na manhã seguinte, regressou aos EUA, onde deu entrada no hospital. A jornalista recupera agora em casa.
Márcia Rodrigues, editora de política internacional da RTP e enviada ao Cairo, não ficou surpreendida. "Nessa noite, eu e o Carlos Matias [repórter de imagem] fomos ameaçados. No meio da multidão, dois indivíduos vieram ter connosco dizendo: ‘Go! Go! Go!’ [Vão! Vão! Vão!], ao mesmo tempo que faziam o gesto de cortar a cabeça. Fizemos a reportagem e saímos dali", conta a repórter, que nunca se sentiu tão ameaçada.
"Não sendo um cenário de guerra, nunca pensei que fosse tão perigoso. De tal forma que os jornalistas tiveram de ser retirados do hotel e protegidos por colunas militares, porque os manifestantes disparavam sobre as janelas." Márcia Rodrigues revela que apanhou vários sustos no Egipto. "Eles cercavam-nos, agarravam--nos, tiravam-nos os microfones. Uma vez fiquei presa no meio da multidão, quase a sufocar. Fui salva por um manifestante, que me atirou para o outro lado da cerca. Tive muita sorte." 
(Fonte: Correio da Manhã)

2 comentários:

pilantra disse...

A violação - e não só a sexual - como muito bem sabe, não é um ato revolucionário. Chamar revolucionários aos violadores mesmo entre aspas, é um insulto a qualquer revolução, seja ela sexual ou de mentalidades ou de ciência ou política, ou poética. Oportunistas, reacionários, bandidos e até provocadores existem em todos os locais e situações. No Cairo como em Lisboa e no Porto.
Nós, na sequência do 25 de Abril,
tivemos aquela bizarra e funesta querela da questão «dos soutiens» no parque Eduardo VII - que a pouca honra de umas centenas de labregos ridiculos pretendeu fazer-se passar por defesa dos bons costumes.
E tivemos e consentimos numa violação terrível, de que quase não se fala, que foi a execrável ideia e ação de transformar a sede da PIDE, na António Maria Cardoso, num hotel de charme. Ali se flagelou, violentou, matou, violou, afligiu e perseguiu até saltarem pelas janelas. Dali se mataram a tiro uns jovens que protestavam contra os pides que ainda lá estavam acobertados - jovens que foram os mortos que o 25 de Abril teve em Lisboa.
É justo que se recrimine, é justo que se proteste.
Porém. «por morrer uma andorinha, não se acaba a primavera».

Logros disse...

Nelinha,
Os revolucionários entre aspas, têm a ver com a minha descrença de revoluções em países islâmicos. As poucas que se conhecem, incluindo a do Irão, têm sido sempre para entronizar teocracias arcaicas ou ditaduras militares.
Um excelente artigo da Clara Ferreira Alves na última ÚNICA, do "Expresso", refere que o busílis da questão não é o folclore revolucionário, mas sim a organização posterior de um país em cacos, sem um sistema organizacional que o mantenha.
Quanto à selvática e horrenda imagem de ver duzentos homens(?) a quase matar um ser humano, servindo-se do pénis, é demasiado cruenta, para certas comparações.
Beijocas.