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Ó lasciva taberna e vós companheiros,
Frequentadores do nono pilar após os gémeos embarretados (*),
Acaso pensais que só vós tendes pilas,
Que só vós podeis fornicar qualquer rapariga
E que os outros fedem a bode?
Só porque vos sentais em fila, cem ou duzentos imbecis,
Pensais, acaso, que eu não ousaria,
De uma só vez, meter o que é meu pela boca de duzentos sentados?
Mas pensai: com efeito, sobre todos vós
Na fachada da taberna escreverei obscenidades,
Pois a rapariga, a que fugiu do meu enlaço,
Por mim amada quanto nenhuma antes fora,
Pela qual travei grandes batalhas,
Tomou aí assento. Nobres e ricos,
Todos vós a cortejais, o que é, todavia, indigno,
Todos vós sois tacanhos e devassos de vielas;
E tu mais do que os outros, ó modelo dos cabeludos,
Filho da Celtibéria fértil em coelhos,
Inácio, a quem nobilitou a densa barba
E o dente esfregado com urina ibérica.
(*) Referência ao templo de Castor e Polux, representados com barretes cónicos.
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In «Poemas de Amor - Antologia Poértica Latina (I a.C. a III)», Ed. Relógio D'Água, Lisboa, 2009
selecção e trad. comebtada de
Inês de Ornellas e Castro e Maria Mafalda de Oliveira Viana
Nota:
Eis um poema do celebérrimo poeta latino Catulo, que demonstra claramente a não inclusão do Latim na panóplia da religiosidade crística. Foi, efectivamente, o cristianismo que se assenhoriou desta bela língua pagã e do paganismo, para difundir as suas "verdades". Assim, todos os "inteligentes" que, no PREC, por pura iliteracia, se apressaram a varrer a disciplina de Latim do ensino secundário, por ser coisa facista e de padrecas, deviam estar na fila dos duzentos a que alude o poema.