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Já não há pachorra para mais esta chateza democrática. Mais slogans, mais cartazes, mais apoios, mais comezainas de solidariedade.Não é que o economista Sr. Silva, mais a sua tribo de Manelas, Marias, Limas e Loureiros, alguma vez represente "o esplendor de Portugal", mas é que estamos fartos de votar sempre CONTRA.
Votei contra o Rio, a Direita e agora é para votar contra o Silva.
Um Presidente de TODOS os Portugueses?
Mais uma asserção retórico-indigente, que na prática diária não quer dizer nada. E ainda menos numa desencantada análise acerca de sistemas políticos, possíveis.
segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
terça-feira, 19 de janeiro de 2010
Hoje, 19 de Janeiro, era o aniversário do EUGÉNIO
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Procura a maravilha.
Onde um beijo sabe
a barcos e bruma.
No brilho redondo
e jovem dos joelhos.
Na noite inclinada
de melancolia.
Procura.
Procura a maravilha.
Eugénio de Andrade
Procura a maravilha.
Onde um beijo sabe
a barcos e bruma.
No brilho redondo
e jovem dos joelhos.
Na noite inclinada
de melancolia.
Procura.
Procura a maravilha.
Eugénio de Andrade
segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
Telhados de Vidro n.º 13, Nov. 2009 - Edições Averno
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Um poema de Manuel de Freitas (n. 1972), incluído nesta última edição. A este poeta se devem, além da sua já muito considerável (e marcante) obra, também esta singular publicação e as edições Averno.
FORTINBRAS SAYS
Que estão nus, não valem nada
os poetas aclamados pela plebe
- o que é, infelizmente verdade.
Que já vai sendo hora de bebermos
juntos um Jim Beam Black
- o que é, de outra maneira, verdade.
Que a canalha crítica, académica,
jornaleira ou mediática muito dificilmente
se consegue furtar ao grande peido geral.
E é verdade, também,
que morreram príncipes e princesas,
que já não há palavras
no reino deserto das palavras.
É tudo tão verdade, Fortinbras,
que nos apetece mentir com dignidade,
espancar sem decoro as bestas que progridem.
Um poema de Manuel de Freitas (n. 1972), incluído nesta última edição. A este poeta se devem, além da sua já muito considerável (e marcante) obra, também esta singular publicação e as edições Averno.
FORTINBRAS SAYS
Que estão nus, não valem nada
os poetas aclamados pela plebe
- o que é, infelizmente verdade.
Que já vai sendo hora de bebermos
juntos um Jim Beam Black
- o que é, de outra maneira, verdade.
Que a canalha crítica, académica,
jornaleira ou mediática muito dificilmente
se consegue furtar ao grande peido geral.
E é verdade, também,
que morreram príncipes e princesas,
que já não há palavras
no reino deserto das palavras.
É tudo tão verdade, Fortinbras,
que nos apetece mentir com dignidade,
espancar sem decoro as bestas que progridem.
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poesia/ novas edições
sexta-feira, 8 de janeiro de 2010
Do blogue "União de Facto"
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Prometo que é a última forma de olhar para isto. Pelo menos hoje.
Em Espanha e noutros locais badalhocos deste mundo, a família está em perigo. O tradicionalismo da sagrada família espanhola está praticamente em extinção, como aliás podemos ver cada vez que atravessamos, a custo, esta maldita fronteira que nos mantém puros, firmes e hirtos. Governo e oposições confrontam-se por lá, diariamente, com este flagelo e centram o seu discurso neste incontornável tema. Nas casas espanholas, é ver os Natais destruídos e as crianças traumatizadas com medo de ir à escola. Dizem-me que é este o cenário após a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Portugal que se cuide, porque sabemos que de Espanha nem bons ventos, nem bons casamentos.
E ainda mais esta forma de olhar para isto
Que eu saiba, o casamento vive dias difíceis de atractividade ao comum dos mortais - a mim, por exemplo - apenas por culpa de quem desde sempre teve o seu exclusivo. Que tal dar oportunidade a outros? Pode ser que o salvem.
Prometo que é a última forma de olhar para isto. Pelo menos hoje.
Em Espanha e noutros locais badalhocos deste mundo, a família está em perigo. O tradicionalismo da sagrada família espanhola está praticamente em extinção, como aliás podemos ver cada vez que atravessamos, a custo, esta maldita fronteira que nos mantém puros, firmes e hirtos. Governo e oposições confrontam-se por lá, diariamente, com este flagelo e centram o seu discurso neste incontornável tema. Nas casas espanholas, é ver os Natais destruídos e as crianças traumatizadas com medo de ir à escola. Dizem-me que é este o cenário após a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Portugal que se cuide, porque sabemos que de Espanha nem bons ventos, nem bons casamentos.
E ainda mais esta forma de olhar para isto
Que eu saiba, o casamento vive dias difíceis de atractividade ao comum dos mortais - a mim, por exemplo - apenas por culpa de quem desde sempre teve o seu exclusivo. Que tal dar oportunidade a outros? Pode ser que o salvem.
segunda-feira, 4 de janeiro de 2010
Camus - o nosso íntimo "estrangeiro"
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ALBERT CAMUS – UMA CRONOLOGIA PELO CINQUENTENÁRIO DA SUA MORTE
Albert Camus – 7 de Novembro de 1913 (Mandovi, Constantine - Argélia) – 4 de Janeiro de 1960 (Villeblevin)
Albert Camus argelino, pelo nascimento, filho de emigrantes, nasceu pobre. A sua mãe, Catherine Sintès era de ascendência espanhola (Baleares) e seu pai, Lucien Camus, de ascendência francesa.
Seu pai morreu em 11 de Outubro de 1914, no hospital militar de Saint-Brieuc, depois de ter sido gravemente ferido na Batalha de Marne. A família muda-se para o bairro Belcout, em Argel.
1918-1923 – Camus frequenta a escola comunal de Belcourt tendo chamado a atenção de Louis Germain, seu professor, que admirando as qualidades do seu jovem aluno, apercebendo-se da vontade da família para que abandonasse os estudos, por motivos económicos, intercedeu junto da avó de Camus (a verdadeira matriarca da família) para que lhe fosse permitido prosseguir. A diligência foi bem sucedida e, em 1923, Camus ingressa, como bolseiro, no liceu Bugeaud, em Argel.
1924- 1931 – Frequenta o curso liceal nunca tendo esquecido o seu mestre Louis Germain a quem dedicará os “Discursos da Suécia”, pronunciados em Dezembro de 1957, por ocasião da entrega do prémio Nobel da Literatura. Segue Filosofia, tendo como professor Jean Grenier, um notável escritor, cuja influência se revelará decisiva na formação intelectual e humana de Camus. Em 1931 é obrigado a abandonar a paixão pelo futebol, de que chegou a ser praticante, numa equipa da Universidade de Argel, aos primeiros sinais da tuberculose que o impediu também de fazer as provas de acesso à Faculdade.
1932- 1935 – Prepara a sua licenciatura em filosofia na Universidade de Argel. Publica alguns artigos na Revista Sud. Jean Grenier publica “As Ilhas”. Em 16 de Junho de 1934 casa-se, pelo civil, com Simone Hié. Neste mês obtém o certificado de Psicologia e, em Novembro de 1934, o Certificado de Estudos Literários Clássicos. O ano de 1935 revela-se fecundo: obtém o certificado de Filosofia Geral e História da Filosofia. Começa a escrever “L´Envers et l´Endroit” e em Maio, inicia a escrita dos “Cadernos” e funda o “Teatro do Trabalho”. Compõe, “em colectivo”, a peça “Revolta nas Astúrias” e, por influência de Jean Grenier, no Outono de 1935, adere ao Partido Comunista Argelino.
1936 – Em Abril é proibida a representação de “Revolta nas Astúrias” mas a peça é publicada pela Editora Charlot; em Maio, Camus obtém o Diploma de estudos superiores em filosofia com uma tese intitulada “Metafísica cristã e Neoplatónica, Plotino e Santo Agostinho”; nesse mesmo mês a Frente Popular vence as eleições em França; em 17 de Julho tem início a Guerra Civil Espanhola que o marcou profundamente e na qual toma, declaradamente, o partido dos republicanos. Mais tarde será condecorado pelo governo espanhol republicano, no exílio, numa peculiar cerimónia, em que comparece sozinho; realizou uma viagem, marcante, à Europa Central e separou-se de Simone Hié.
1937 – Edita, em Argel, com uma tiragem reduzida “L´Envers et l´Endroit”; elabora o projecto para “La Mort heureuse” e trabalha na redacção de “Noces”; doente parte para Paris, Marselha e visita o norte de Itália deixando nos Cadernos notáveis apontamentos desta visita; de regresso à Argélia recusou o lugar de professor em Sibi-bel-Abbès (Orão); o “Teatro do Trabalho” passa a chamar-se “Teatro da Equipa”. Em Agosto de 1937 é excluído do Partido Comunista, acusado de “trotskista”. Encontra, pela primeira vez, Francine Faure, sua futura mulher.
1938 – Conclui “Noces”, toma notas para “Calígula” e trabalha, intensamente, na actividade teatral destacando-se uma adaptação da peça “Irmãos Karamazov”, de Dostoievski, na qual interpreta o papel de Ivan Karamazov. Conhece Pascal Pia, redactor-chefe do novo jornal “Alger républicain”, do qual se tornou redactor. Faz a apresentação do primeiro número da Revista “Rivages”.
1939 – Publicou, em Argel, “Noces”, pelas Edições Chalot; a França e a Inglaterra declaram, em 3 de Setembro, guerra à Alemanha e o seu alistamento voluntário no exército foi-lhe recusado por razões de doença. Proibição do “Soir républicain” que havia sucedido ao “Alger républicain”;
1940 – Camus parte, em 14 de Março, para Paris onde se junta a Pascal Pia, assumindo as funções no secretariado da redacção do “Paris-Soir”. No dia 1º de Maio escreve numa carta a Francine: “Je viens de terminer mon roman […] Sans doute, mon travail n´est pas fini”. Tratava-se de “l´Étranger”. Nos inícios de Junho, face à iminência da ocupação de Paris pelos alemães, Camus acompanhou a redacção do “Paris-Soir” para Clermont-Ferrand instalando-se, em Setembro, em Lyon; em Novembro junta-se-lhe Francine Faure e, em 3 de Dezembro, casam em Lyon, tendo como testemunhas Pascal Pia e três tipógrafos do jornal; logo de seguida, no final do ano, é despedido, regressando à Argélia, Orão.
1941 – Este Regresso forçado à Argélia, para junto dos familiares da mulher, em Orão, cidade que detestava, coincidiu com uma época de dificuldades materiais; em 21 de Fevereiro escreve nos “Cadernos”: “Terminé Sisyphe. Les trois Absurdes sont achevés”. Faz circular o manuscrito de “O Estrangeiro”; em Abril, regressa a Argel e, em Novembro, “O Estrangeiro” é aceite pela equipa de leitura da editora “Gallimard”.
1942 – Sofre uma recaída da tuberculose e, a meio de Agosto, muda-se para as terras altas de Auvergne; em Maio, é publicado pela Gallimard, “l´Étranger”, acabado de imprimir em 21 de Abril a que se segue, em Outubro, a publicação, pela mesma editora, de “Le Mythe de Sisyph”. Escreve “La Peste”; a 8 de Novembro as tropas aliadas desembarcam em Marrocos e Argélia o que originou a sua separação da mulher, que havia regressado à Argélia no mês anterior, reencontrando-se somente após a Libertação.
1943 – 1944 – Estabelece contacto com o movimento clandestino da Resistência “Combat” e torna-se leitor da Gallimard; encontra-se com Claude Bourdet, do Comité Nacional da Resistência, assumindo funções, cada vez mais importantes, no jornal “Combat” que o levaram a assumir, no início de 1944, a direcção do Jornal; a 6 de Junho as tropas aliadas desembarcam na Normandia e em Junho “Le malentendu” sobe à cena, sob direcção de Marcel Herrand. O seu empenhamento no teatro, de que tanto gostava, proporciona a paixão pela actriz Maria Casarès com a qual manterá um longo relacionamento amoroso; em 21 de Agosto é editado o primeiro número legal do jornal “Combat” com um editorial assinado, pela primeira vez, com o nome de Camus intitulado: “Le Combat continue …”; 25 de Agosto é o dia da libertação de Paris e Camus intitula o seu editorial de “La Nuit de la Vérité”; a partir de 31 de Agosto escreveu no “Combat” uma série de notáveis artigos acerca da liberdade de imprensa.
1945 – No pós-guerra Camus desenvolveu uma intensa actividade jornalística e política; uma das suas mais relevantes tomadas de posição refere-se ao lançamento da primeira bomba atómica sobre Hiroshima, em 6 de Agosto, tendo, dois dias depois, publicado um editorial referindo “as terríveis perspectivas que se abrem à humanidade”; a 5 de Setembro nascem os seus filhos gémeos, Catherine e Jean. Representação de “Calígula” no teatro Hébertot e publicação, pela Gallimard de “Lettres à un ami allemand”, em memória de René Leynaud.
1946 – Em Março/Junho viaja para os Estados Unidos e Canadá; pelo Outono nasce uma mútua, e profunda, amizade com René Char (“Char que eu amo como a um irmão”- a Pierre Berger), que, para Camus, era mais do que um poeta, um resistente, o Capitão Alexandre da Resistência, chefe do “maquis”; em Novembro escreveu uma série de oito artigos para o “Combat”: “Nem vítimas nem carrascos”. Reescreve “La Peste”.
1947 – A 3 de Junho Camus abandona o jornal “Combat” cuja redacção se havia dividido a propósito da criação por De Gaulle do RPF ("Rassemblement du Peuple Français”); no dia 10 do mesmo mês é publicada “La Peste”, edição da Gallimard; é o seu primeiro grande sucesso editorial tendo vendidos, entre Julho e Setembro, 96 000 exemplares, obtendo o “Prémio dos Críticos”.
1948 – Em Janeiro termina a redacção de “l´Étad de siège” no qual trabalhará ainda em Julho; em Outubro esta peça sobe à cena, com encenação de Jean-Louis Barrault, tendo constituído um tremendo fracasso tanto da crítica como do público.
1949- 1951 – Em Julho/Agosto de 1949 Camus realiza uma longa viagem à América do Sul, para proferir uma série de Conferências, de onde regressou gravemente doente; durante a viagem concluiu a peça “Les Justes” que, em Dezembro, sobe à cena, com encenação de Paul Oettly, tendo Serge Reggiani e Maria Casarés nos principais papéis. Segundo as suas próprias palavras tratou-se de um semi-sucesso. No ano de 1950, além da publicação de “Actuelles, Chroniques 1944-1948”, Camus recupera da doença. Em 1951 terminou a redacção de “L´Homme Révolté”, publicado em Outubro, pela Gallimard, desencadeando uma forte polémica que ganhará expressão no ano seguinte.
1952 – Alguns dias antes da saída do livro Camus disse a Oliver Todd, seu biógrafo: “Apertemos as mãos. Porque daqui a alguns dias não haverá muita gente para me apertar a mão”. Camus sabia que a liberdade de pensamento nem sempre é bem aceite. Em “L´Homme Révolté” Camus realiza um esforço sério para compreender o seu tempo ousando condenar a barbárie nazi, mas também o “Goulag”, contra a opinião dos seus amigos da esquerda sob hegemonia do Partido Comunista. Em Maio, na revista “Temps Modernes”, Francis Jeanson, a mando de Sartre, publica um artigo violento, e insultuoso, contra o ensaio de Camus que responde, dirigindo-se ao director da revista, ou seja, o próprio Sartre, levando ao corte de relações entre ambos. Em Dezembro Camus publica “Post-sciptum” texto no qual procura explicar as razões que o levaram a escrever “L´Homme Révolté”. Recusa-se a colaborar com a UNESCO em protesto contra a admissão da Espanha franquista na organização.
1953 – Camus desenvolve intensa actividade no campo teatral e toma posições públicas de protesto contra a prisão, na Argentina, de Victoria Ocampo, contra a intervenção da União Soviética em Berlim Leste e contra a repressão, pela polícia de Paris, de manifestantes da África do Norte; a Gallimard publica o volume “Actuelles II (1948-1953)” e surge nos Cadernos a referência ao esboço do que viria a ser a sua última obra, “Le Premier Homme”. Sua mulher Francine dá sinais de sofrer de uma grave depressão.
1954 – O estado depressivo de Francine agrava-se e Camus vive um período de grande cansaço e desilusão; a Gallimard publica “L´Été”, na colecção “Les Essais”; profere intervenções públicas a favor de sete tunisinos condenados à morte; a 7 de Maio escreve nos Cadernos: “Queda de Dien Bien Phu. Como em 40, sentimento partilhado de vergonha e de fúria”; em Setembro Francine apresenta melhoras; viagens à Holanda e Itália, para uma série de conferências, enquanto eclode, na Argélia, a luta armada de libertação.
1955 – Em Fevereiro viajou para a Argélia, visitando as regiões atingidas por um violento tremor de terra no ano anterior enquanto a crise política argelina se agrava tendo sido instaurado, por Edgar Faure, Presidente do Conselho, o “estado de urgência”; em Abril/Maio realiza um sonho antigo: a viagem à Grécia onde profere uma série de conferências. Em Julho/Agosto, visitou, de novo, a Itália; em Julho escreveu, no “L´Express”, dois longos artigos – “Terrorisme et répression” e “L´Avenir algérien” – acerca da situação argelina – apelando à realização de uma conferência com vista a alcançar uma solução política, uma “espécie de nação mista, na qual franceses e árabes viveriam livremente e em igualdade de direitos em solo argelino”; entretanto a situação política agravou-se na Argélia e, no 1º de Outubro, escreve “Lettre à un militant algérien” e outros artigos, acerca da situação argelina, nos quais defende uma conciliação entre os interesses em presença afirmando que “a Argélia não é a França” mas que nela vivem um milhão de franceses; a escalada da guerra na Argélia tornara-se insuportável para Camus que viveu a “infelicidade argelina como uma tragédia pessoal “. Apoia a Frente Republicana e o programa eleitoral de Mendes-France. Em Novembro publica no “Le Monde libertaire”: “L´Espagne et la Donquichottisme”.
1956 – Numa última tentativa de conciliação no conflito argelino, que se agravava dia a dia, Camus viaja para a Argélia onde lança, perante uma assembleia tensa e conturbada, um dramático apelo em prol de uma trégua que poupasse os civis: “ (…) porque mesmo o mais decidido entre vós conserva no meio da confusão da luta um recanto do seu coração, no qual, eu sei bem, não se conforma com o assassínio e o ódio e sonha com uma Argélia feliz. É a esse recanto em cada um de vós, franceses e árabes, que nós apelamos”. Olivier Todd, no final da sua biografia, “Albert Camus, una vie”, Gallimard (1996), escreve que “face ao problema argelino, Camus foi legalista e moralista … ele queria para a Argélia o que alguns, com Nadine Gordimer à cabeça, sonharam para a África do Sul: a coexistência na igualdade de direitos; dois povos numa só nação e um estado de direito multirracial”. Mas tal sonho tornara-se irrealizável na Argélia. Em Maio a Gallimard publica “La chute”; em 2 de Julho assinou um texto de protesto contra a repressão em Poznan (Polónia); em 4 de Novembro as tropas soviéticas entram em Budapeste esmagando a insurreição húngara; responde ao apelo dos escritores húngaros e pede à ONU que mande retirar as tropas da URSS da Hungria: “Pour une démarche commune à l´ONU des intellectuels européens” (“Franc-Tireur”).
1957 – Em Março discursa na Sala Wagram contra a intervenção na Hungria (“Kadar a eu son jour de peur”) e publica, pela Gallimard, “ L´Exil et le Royaume”. Mas este é o ano do Nobel da Literatura que lhe foi atribuído, em 16 de Outubro, “pelo conjunto de uma obra que lança luz sobre os problemas que se colocam, nos nossos dias, à consciência do homem”. A reacção de Camus à notícia ficou registada nos Cadernos, no dia 17 de Outubro, com uma pungente referência à sua infância pobre lembrando a mãe: “Nobel. Étrange sentiment d´accablement et de mélancolie. À 20 ans, pauvre, et nu, j´ai connu la vrais gloire. Ma mère. » Mas, logo no dia 19, nos Cadernos, o « reverso da medalha » : «Effrayé par tout ce qui m´arrive et que je n´ai pas demandé. Et pour tout arranger attaques si basses que j´en ai le cœur serré ». René Char, por sua vez, de coração aberto, exulta, numa carta dirigida a Camus: “J´espère, je crois que l´on ne nous dit pas ce qui ne sera pas. Donc cette assurance dans la presse m´incite déjà sans réserve à me réjouir et à trouver ce jeudi 17 octobre 1957 le meilleur, le plus éclairé, oui le meilleur jour depuis longtemps pour moi entre tant de jours désespérants. Je vous pris d´accepter, en souvenir d´aujourd´hui, cette petite boîte qui me sauva la vie jadis dans le maquis et que j´ai conservée comme une relique vraiment intime. »
No outono publicou, pela Calmann-Lévy, « Reflexões acerca da pena capital » e na Suécia, a partir de 9 de Dezembro, proferiu, além do discurso de recepção do Prémio Nobel, duas conferências, em Estocolmo e Upsala na primeira das quais, interpelado por um jovem argelino, profere uma célebre, e polémica, frase: «Je crois à la justice, mais je défendrai ma mère avant la justice ».
1958 – Com o dinheiro do Prémio Nobel compra uma casa em Lourmarin. Sua mãe recusa sair da Argélia e Camus decide abster-se de qualquer intervenção directa no conflito argelino. Em Janeiro publica, pela Gallimard, « Discours de Suède” e, em Junho, “Actuelles III, Chroniques algériennes (1939-1958) ”. Em Março/Abril visita a Argélia e, em Junho, doente, visita a Grécia. Trabalha na adaptação de “Possédés”, segundo Dostoievski, que sobe à cena, em Janeiro do ano de 1959, com encenação do próprio Camus;
1959 - No mês de Março, nova visita à Argélia, para ver a mãe, recentemente operada; começa a escrever, finalmente, “Le Premier Homme” ao qual dedica todo o ano; apresentação de “Possédés” em Veneza, assim como em França e noutros países; em 14 de Dezembro tem o seu derradeiro encontro público, com estudantes estrangeiros em Aix-en-Provence”, no qual em resposta à pergunta: “Êtes-vous un intellectuel de gauche?” – responde: “ Je ne suis pas sûr d´être un intellectuel. Quant au reste, je suis pour la gauche, malgré moi, et malgré elle”.
1960 – No dia 3 de Janeiro Camus parte da sua casa de Lourmarin, onde havia passado o fim de ano, de regresso a Paris, no Facel conduzido por Michel Gallimard. Francine Camus faz a viagem de comboio na qual deveria ter sido acompanhada por Camus; no dia seguinte, no prosseguimento da viagem, o carro despistou-se, numa longa recta, em Villeblevin, perto de Montereau, embatendo num plátano, provocando a morte imediata de Camus e, cinco dias mais tarde, a de Michel Gallimard. Na pasta de couro de Camus encontravam-se além de diversos objectos pessoais, o manuscrito de “Le Premier Homme”, cento e quarenta e quatro páginas que sua mulher, Francine, havia de dactilografar e sua filha, Catherine, fixou em texto, publicado pela Gallimard, na primavera de 1994.
Albert Camus está sepultado em Lourmarin.
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Principais fontes : Cronologia de Pierre-Louis Rey (Œuvres complètes I – Gallimard) ; Camus - de Brigitte Sandig (Círculo de Leitores) ; Camus ou les promesses de la vie – de Daniel Rondeau (Mengès); Camus - de Maria Luisa Borralho (Rés).
Nota: Colhido no blogue
http://www.iraofundoevoltar.blogspot.com/
de Eduardo Graça
ALBERT CAMUS – UMA CRONOLOGIA PELO CINQUENTENÁRIO DA SUA MORTE
Albert Camus – 7 de Novembro de 1913 (Mandovi, Constantine - Argélia) – 4 de Janeiro de 1960 (Villeblevin)
Albert Camus argelino, pelo nascimento, filho de emigrantes, nasceu pobre. A sua mãe, Catherine Sintès era de ascendência espanhola (Baleares) e seu pai, Lucien Camus, de ascendência francesa.
Seu pai morreu em 11 de Outubro de 1914, no hospital militar de Saint-Brieuc, depois de ter sido gravemente ferido na Batalha de Marne. A família muda-se para o bairro Belcout, em Argel.
1918-1923 – Camus frequenta a escola comunal de Belcourt tendo chamado a atenção de Louis Germain, seu professor, que admirando as qualidades do seu jovem aluno, apercebendo-se da vontade da família para que abandonasse os estudos, por motivos económicos, intercedeu junto da avó de Camus (a verdadeira matriarca da família) para que lhe fosse permitido prosseguir. A diligência foi bem sucedida e, em 1923, Camus ingressa, como bolseiro, no liceu Bugeaud, em Argel.
1924- 1931 – Frequenta o curso liceal nunca tendo esquecido o seu mestre Louis Germain a quem dedicará os “Discursos da Suécia”, pronunciados em Dezembro de 1957, por ocasião da entrega do prémio Nobel da Literatura. Segue Filosofia, tendo como professor Jean Grenier, um notável escritor, cuja influência se revelará decisiva na formação intelectual e humana de Camus. Em 1931 é obrigado a abandonar a paixão pelo futebol, de que chegou a ser praticante, numa equipa da Universidade de Argel, aos primeiros sinais da tuberculose que o impediu também de fazer as provas de acesso à Faculdade.
1932- 1935 – Prepara a sua licenciatura em filosofia na Universidade de Argel. Publica alguns artigos na Revista Sud. Jean Grenier publica “As Ilhas”. Em 16 de Junho de 1934 casa-se, pelo civil, com Simone Hié. Neste mês obtém o certificado de Psicologia e, em Novembro de 1934, o Certificado de Estudos Literários Clássicos. O ano de 1935 revela-se fecundo: obtém o certificado de Filosofia Geral e História da Filosofia. Começa a escrever “L´Envers et l´Endroit” e em Maio, inicia a escrita dos “Cadernos” e funda o “Teatro do Trabalho”. Compõe, “em colectivo”, a peça “Revolta nas Astúrias” e, por influência de Jean Grenier, no Outono de 1935, adere ao Partido Comunista Argelino.
1936 – Em Abril é proibida a representação de “Revolta nas Astúrias” mas a peça é publicada pela Editora Charlot; em Maio, Camus obtém o Diploma de estudos superiores em filosofia com uma tese intitulada “Metafísica cristã e Neoplatónica, Plotino e Santo Agostinho”; nesse mesmo mês a Frente Popular vence as eleições em França; em 17 de Julho tem início a Guerra Civil Espanhola que o marcou profundamente e na qual toma, declaradamente, o partido dos republicanos. Mais tarde será condecorado pelo governo espanhol republicano, no exílio, numa peculiar cerimónia, em que comparece sozinho; realizou uma viagem, marcante, à Europa Central e separou-se de Simone Hié.
1937 – Edita, em Argel, com uma tiragem reduzida “L´Envers et l´Endroit”; elabora o projecto para “La Mort heureuse” e trabalha na redacção de “Noces”; doente parte para Paris, Marselha e visita o norte de Itália deixando nos Cadernos notáveis apontamentos desta visita; de regresso à Argélia recusou o lugar de professor em Sibi-bel-Abbès (Orão); o “Teatro do Trabalho” passa a chamar-se “Teatro da Equipa”. Em Agosto de 1937 é excluído do Partido Comunista, acusado de “trotskista”. Encontra, pela primeira vez, Francine Faure, sua futura mulher.
1938 – Conclui “Noces”, toma notas para “Calígula” e trabalha, intensamente, na actividade teatral destacando-se uma adaptação da peça “Irmãos Karamazov”, de Dostoievski, na qual interpreta o papel de Ivan Karamazov. Conhece Pascal Pia, redactor-chefe do novo jornal “Alger républicain”, do qual se tornou redactor. Faz a apresentação do primeiro número da Revista “Rivages”.
1939 – Publicou, em Argel, “Noces”, pelas Edições Chalot; a França e a Inglaterra declaram, em 3 de Setembro, guerra à Alemanha e o seu alistamento voluntário no exército foi-lhe recusado por razões de doença. Proibição do “Soir républicain” que havia sucedido ao “Alger républicain”;
1940 – Camus parte, em 14 de Março, para Paris onde se junta a Pascal Pia, assumindo as funções no secretariado da redacção do “Paris-Soir”. No dia 1º de Maio escreve numa carta a Francine: “Je viens de terminer mon roman […] Sans doute, mon travail n´est pas fini”. Tratava-se de “l´Étranger”. Nos inícios de Junho, face à iminência da ocupação de Paris pelos alemães, Camus acompanhou a redacção do “Paris-Soir” para Clermont-Ferrand instalando-se, em Setembro, em Lyon; em Novembro junta-se-lhe Francine Faure e, em 3 de Dezembro, casam em Lyon, tendo como testemunhas Pascal Pia e três tipógrafos do jornal; logo de seguida, no final do ano, é despedido, regressando à Argélia, Orão.
1941 – Este Regresso forçado à Argélia, para junto dos familiares da mulher, em Orão, cidade que detestava, coincidiu com uma época de dificuldades materiais; em 21 de Fevereiro escreve nos “Cadernos”: “Terminé Sisyphe. Les trois Absurdes sont achevés”. Faz circular o manuscrito de “O Estrangeiro”; em Abril, regressa a Argel e, em Novembro, “O Estrangeiro” é aceite pela equipa de leitura da editora “Gallimard”.
1942 – Sofre uma recaída da tuberculose e, a meio de Agosto, muda-se para as terras altas de Auvergne; em Maio, é publicado pela Gallimard, “l´Étranger”, acabado de imprimir em 21 de Abril a que se segue, em Outubro, a publicação, pela mesma editora, de “Le Mythe de Sisyph”. Escreve “La Peste”; a 8 de Novembro as tropas aliadas desembarcam em Marrocos e Argélia o que originou a sua separação da mulher, que havia regressado à Argélia no mês anterior, reencontrando-se somente após a Libertação.
1943 – 1944 – Estabelece contacto com o movimento clandestino da Resistência “Combat” e torna-se leitor da Gallimard; encontra-se com Claude Bourdet, do Comité Nacional da Resistência, assumindo funções, cada vez mais importantes, no jornal “Combat” que o levaram a assumir, no início de 1944, a direcção do Jornal; a 6 de Junho as tropas aliadas desembarcam na Normandia e em Junho “Le malentendu” sobe à cena, sob direcção de Marcel Herrand. O seu empenhamento no teatro, de que tanto gostava, proporciona a paixão pela actriz Maria Casarès com a qual manterá um longo relacionamento amoroso; em 21 de Agosto é editado o primeiro número legal do jornal “Combat” com um editorial assinado, pela primeira vez, com o nome de Camus intitulado: “Le Combat continue …”; 25 de Agosto é o dia da libertação de Paris e Camus intitula o seu editorial de “La Nuit de la Vérité”; a partir de 31 de Agosto escreveu no “Combat” uma série de notáveis artigos acerca da liberdade de imprensa.
1945 – No pós-guerra Camus desenvolveu uma intensa actividade jornalística e política; uma das suas mais relevantes tomadas de posição refere-se ao lançamento da primeira bomba atómica sobre Hiroshima, em 6 de Agosto, tendo, dois dias depois, publicado um editorial referindo “as terríveis perspectivas que se abrem à humanidade”; a 5 de Setembro nascem os seus filhos gémeos, Catherine e Jean. Representação de “Calígula” no teatro Hébertot e publicação, pela Gallimard de “Lettres à un ami allemand”, em memória de René Leynaud.
1946 – Em Março/Junho viaja para os Estados Unidos e Canadá; pelo Outono nasce uma mútua, e profunda, amizade com René Char (“Char que eu amo como a um irmão”- a Pierre Berger), que, para Camus, era mais do que um poeta, um resistente, o Capitão Alexandre da Resistência, chefe do “maquis”; em Novembro escreveu uma série de oito artigos para o “Combat”: “Nem vítimas nem carrascos”. Reescreve “La Peste”.
1947 – A 3 de Junho Camus abandona o jornal “Combat” cuja redacção se havia dividido a propósito da criação por De Gaulle do RPF ("Rassemblement du Peuple Français”); no dia 10 do mesmo mês é publicada “La Peste”, edição da Gallimard; é o seu primeiro grande sucesso editorial tendo vendidos, entre Julho e Setembro, 96 000 exemplares, obtendo o “Prémio dos Críticos”.
1948 – Em Janeiro termina a redacção de “l´Étad de siège” no qual trabalhará ainda em Julho; em Outubro esta peça sobe à cena, com encenação de Jean-Louis Barrault, tendo constituído um tremendo fracasso tanto da crítica como do público.
1949- 1951 – Em Julho/Agosto de 1949 Camus realiza uma longa viagem à América do Sul, para proferir uma série de Conferências, de onde regressou gravemente doente; durante a viagem concluiu a peça “Les Justes” que, em Dezembro, sobe à cena, com encenação de Paul Oettly, tendo Serge Reggiani e Maria Casarés nos principais papéis. Segundo as suas próprias palavras tratou-se de um semi-sucesso. No ano de 1950, além da publicação de “Actuelles, Chroniques 1944-1948”, Camus recupera da doença. Em 1951 terminou a redacção de “L´Homme Révolté”, publicado em Outubro, pela Gallimard, desencadeando uma forte polémica que ganhará expressão no ano seguinte.
1952 – Alguns dias antes da saída do livro Camus disse a Oliver Todd, seu biógrafo: “Apertemos as mãos. Porque daqui a alguns dias não haverá muita gente para me apertar a mão”. Camus sabia que a liberdade de pensamento nem sempre é bem aceite. Em “L´Homme Révolté” Camus realiza um esforço sério para compreender o seu tempo ousando condenar a barbárie nazi, mas também o “Goulag”, contra a opinião dos seus amigos da esquerda sob hegemonia do Partido Comunista. Em Maio, na revista “Temps Modernes”, Francis Jeanson, a mando de Sartre, publica um artigo violento, e insultuoso, contra o ensaio de Camus que responde, dirigindo-se ao director da revista, ou seja, o próprio Sartre, levando ao corte de relações entre ambos. Em Dezembro Camus publica “Post-sciptum” texto no qual procura explicar as razões que o levaram a escrever “L´Homme Révolté”. Recusa-se a colaborar com a UNESCO em protesto contra a admissão da Espanha franquista na organização.
1953 – Camus desenvolve intensa actividade no campo teatral e toma posições públicas de protesto contra a prisão, na Argentina, de Victoria Ocampo, contra a intervenção da União Soviética em Berlim Leste e contra a repressão, pela polícia de Paris, de manifestantes da África do Norte; a Gallimard publica o volume “Actuelles II (1948-1953)” e surge nos Cadernos a referência ao esboço do que viria a ser a sua última obra, “Le Premier Homme”. Sua mulher Francine dá sinais de sofrer de uma grave depressão.
1954 – O estado depressivo de Francine agrava-se e Camus vive um período de grande cansaço e desilusão; a Gallimard publica “L´Été”, na colecção “Les Essais”; profere intervenções públicas a favor de sete tunisinos condenados à morte; a 7 de Maio escreve nos Cadernos: “Queda de Dien Bien Phu. Como em 40, sentimento partilhado de vergonha e de fúria”; em Setembro Francine apresenta melhoras; viagens à Holanda e Itália, para uma série de conferências, enquanto eclode, na Argélia, a luta armada de libertação.
1955 – Em Fevereiro viajou para a Argélia, visitando as regiões atingidas por um violento tremor de terra no ano anterior enquanto a crise política argelina se agrava tendo sido instaurado, por Edgar Faure, Presidente do Conselho, o “estado de urgência”; em Abril/Maio realiza um sonho antigo: a viagem à Grécia onde profere uma série de conferências. Em Julho/Agosto, visitou, de novo, a Itália; em Julho escreveu, no “L´Express”, dois longos artigos – “Terrorisme et répression” e “L´Avenir algérien” – acerca da situação argelina – apelando à realização de uma conferência com vista a alcançar uma solução política, uma “espécie de nação mista, na qual franceses e árabes viveriam livremente e em igualdade de direitos em solo argelino”; entretanto a situação política agravou-se na Argélia e, no 1º de Outubro, escreve “Lettre à un militant algérien” e outros artigos, acerca da situação argelina, nos quais defende uma conciliação entre os interesses em presença afirmando que “a Argélia não é a França” mas que nela vivem um milhão de franceses; a escalada da guerra na Argélia tornara-se insuportável para Camus que viveu a “infelicidade argelina como uma tragédia pessoal “. Apoia a Frente Republicana e o programa eleitoral de Mendes-France. Em Novembro publica no “Le Monde libertaire”: “L´Espagne et la Donquichottisme”.
1956 – Numa última tentativa de conciliação no conflito argelino, que se agravava dia a dia, Camus viaja para a Argélia onde lança, perante uma assembleia tensa e conturbada, um dramático apelo em prol de uma trégua que poupasse os civis: “ (…) porque mesmo o mais decidido entre vós conserva no meio da confusão da luta um recanto do seu coração, no qual, eu sei bem, não se conforma com o assassínio e o ódio e sonha com uma Argélia feliz. É a esse recanto em cada um de vós, franceses e árabes, que nós apelamos”. Olivier Todd, no final da sua biografia, “Albert Camus, una vie”, Gallimard (1996), escreve que “face ao problema argelino, Camus foi legalista e moralista … ele queria para a Argélia o que alguns, com Nadine Gordimer à cabeça, sonharam para a África do Sul: a coexistência na igualdade de direitos; dois povos numa só nação e um estado de direito multirracial”. Mas tal sonho tornara-se irrealizável na Argélia. Em Maio a Gallimard publica “La chute”; em 2 de Julho assinou um texto de protesto contra a repressão em Poznan (Polónia); em 4 de Novembro as tropas soviéticas entram em Budapeste esmagando a insurreição húngara; responde ao apelo dos escritores húngaros e pede à ONU que mande retirar as tropas da URSS da Hungria: “Pour une démarche commune à l´ONU des intellectuels européens” (“Franc-Tireur”).
1957 – Em Março discursa na Sala Wagram contra a intervenção na Hungria (“Kadar a eu son jour de peur”) e publica, pela Gallimard, “ L´Exil et le Royaume”. Mas este é o ano do Nobel da Literatura que lhe foi atribuído, em 16 de Outubro, “pelo conjunto de uma obra que lança luz sobre os problemas que se colocam, nos nossos dias, à consciência do homem”. A reacção de Camus à notícia ficou registada nos Cadernos, no dia 17 de Outubro, com uma pungente referência à sua infância pobre lembrando a mãe: “Nobel. Étrange sentiment d´accablement et de mélancolie. À 20 ans, pauvre, et nu, j´ai connu la vrais gloire. Ma mère. » Mas, logo no dia 19, nos Cadernos, o « reverso da medalha » : «Effrayé par tout ce qui m´arrive et que je n´ai pas demandé. Et pour tout arranger attaques si basses que j´en ai le cœur serré ». René Char, por sua vez, de coração aberto, exulta, numa carta dirigida a Camus: “J´espère, je crois que l´on ne nous dit pas ce qui ne sera pas. Donc cette assurance dans la presse m´incite déjà sans réserve à me réjouir et à trouver ce jeudi 17 octobre 1957 le meilleur, le plus éclairé, oui le meilleur jour depuis longtemps pour moi entre tant de jours désespérants. Je vous pris d´accepter, en souvenir d´aujourd´hui, cette petite boîte qui me sauva la vie jadis dans le maquis et que j´ai conservée comme une relique vraiment intime. »
No outono publicou, pela Calmann-Lévy, « Reflexões acerca da pena capital » e na Suécia, a partir de 9 de Dezembro, proferiu, além do discurso de recepção do Prémio Nobel, duas conferências, em Estocolmo e Upsala na primeira das quais, interpelado por um jovem argelino, profere uma célebre, e polémica, frase: «Je crois à la justice, mais je défendrai ma mère avant la justice ».
1958 – Com o dinheiro do Prémio Nobel compra uma casa em Lourmarin. Sua mãe recusa sair da Argélia e Camus decide abster-se de qualquer intervenção directa no conflito argelino. Em Janeiro publica, pela Gallimard, « Discours de Suède” e, em Junho, “Actuelles III, Chroniques algériennes (1939-1958) ”. Em Março/Abril visita a Argélia e, em Junho, doente, visita a Grécia. Trabalha na adaptação de “Possédés”, segundo Dostoievski, que sobe à cena, em Janeiro do ano de 1959, com encenação do próprio Camus;
1959 - No mês de Março, nova visita à Argélia, para ver a mãe, recentemente operada; começa a escrever, finalmente, “Le Premier Homme” ao qual dedica todo o ano; apresentação de “Possédés” em Veneza, assim como em França e noutros países; em 14 de Dezembro tem o seu derradeiro encontro público, com estudantes estrangeiros em Aix-en-Provence”, no qual em resposta à pergunta: “Êtes-vous un intellectuel de gauche?” – responde: “ Je ne suis pas sûr d´être un intellectuel. Quant au reste, je suis pour la gauche, malgré moi, et malgré elle”.
1960 – No dia 3 de Janeiro Camus parte da sua casa de Lourmarin, onde havia passado o fim de ano, de regresso a Paris, no Facel conduzido por Michel Gallimard. Francine Camus faz a viagem de comboio na qual deveria ter sido acompanhada por Camus; no dia seguinte, no prosseguimento da viagem, o carro despistou-se, numa longa recta, em Villeblevin, perto de Montereau, embatendo num plátano, provocando a morte imediata de Camus e, cinco dias mais tarde, a de Michel Gallimard. Na pasta de couro de Camus encontravam-se além de diversos objectos pessoais, o manuscrito de “Le Premier Homme”, cento e quarenta e quatro páginas que sua mulher, Francine, havia de dactilografar e sua filha, Catherine, fixou em texto, publicado pela Gallimard, na primavera de 1994.
Albert Camus está sepultado em Lourmarin.
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Principais fontes : Cronologia de Pierre-Louis Rey (Œuvres complètes I – Gallimard) ; Camus - de Brigitte Sandig (Círculo de Leitores) ; Camus ou les promesses de la vie – de Daniel Rondeau (Mengès); Camus - de Maria Luisa Borralho (Rés).
Nota: Colhido no blogue
http://www.iraofundoevoltar.blogspot.com/
de Eduardo Graça
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