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SENHORA VERMEER
À senhora Vermeer coube-lhe a sorte
de não caber nos quadros
de Vermeer, seu marido.
Não possuía o traço do anil
ou do ouro
que lhe caíam do regaço
como única declaração de posse
das jóias e do marido
que não era jóia nenhuma
como dizia a criada
que sabia como se cozinhavam as coisas
à rapariga do brinco
que ele pintou para sua desgraça.
A senhora Vermeer não ficou na História de Arte
só na das histéricas lágrimas
e inúteis poses
desvairada e borratada
na sua pintura.
MADAME MOUTON
Passo a partir de agora,
caro leitor,
a escrever poemas com direito a admissão:
só serão aceites os sarcásticos.
És testemunha e, por isso, selas a ouro,
leitor,
esta promessa de tempos escassos e cínicos.
(Quem disse que os meus poemas eram bucólicos,
quem me colou o selo e me expediu para a província?)
Porque a poesia,
Edward, dear,
não me abriga da morte,
é no máximo um cárcere frio
onde nem tu, meu amor, entras
ponho-te um prato de amor de fora
para que te consoles aos fins-de-semana e dias festivos.
Que não seja uma feijoada fria
ou qualquer outro tipo de vingança
porque da janela do meu cárcere
não avisto mar nem Tabacaria.
E para ser franca, leitor,
nem por ti anseio
ou por ti, meu amor 'outra vez'
nem por Pavia ou Roma 'ao contrário'
que não se fizeram num dia.
in Telhados de Vidro n.º 11, Novembro 2008, Averno, Lisboa
Direcção: Inês Dias e Manuel de Freitas
Arranjo gráfico: Pedro Serpa (sobre grafismo de Olímpio Ferreira)
Fotografia: Inês Dias (Copenhaga, 2007)
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2 comentários:
Amiga
Gosto de passar por aqui, porque tem sempre algo de que aprecio... Tenha um bom Domingo! Boas Festas! António
Obrigada António.
Retribuo os seus votos.
Deixei comentário no "cá te espero".
Ab.
I.
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