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'Qual é o objecto mais valioso do mundo?', perguntam a um mestre zen. 'Um gato morto - responde ele - pois ninguém lhe poderá dar um preço'. A poesia é o gato morto no mundo de consumismo, hedonista e mediático, em que vivemos. Não se pode imaginar uma presença mais ausente, uma grandeza mais humilde, um terror mais doce. Ninguém lhe pode pôr um preço e, contudo, não existe nada mais valioso. Só a encontramos nas livrarias se temos a paciência de chegar às últimas filas das prateleiras. (Cartarescu, Mircea. El ojo castaño de nuestro amor)
Mas a poesia é muito mais do que livros abandonados em estantes recônditas, é um verdadeiro sentido. Mais à frente, Cartarescu desenvolve essa mesma ideia: "No entanto, humilhada e dissolvida no tecido social, quase desaparecida como profissão e como arte, a poesia continua a ser omnipresente e ubíqua como o ar que nos envolve. Pois antes de ser uma fórmula e técnica literária, a poesia é um modo de vida é uma maneira de olhar o mundo."
in PARALAXE, Afonso Cruz, JL de 20 de Junho de 2018
*Poeta, ficcionista e ensaísta romeno (Bucareste, 1956)
*Poeta, ficcionista e ensaísta romeno (Bucareste, 1956)