segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Apresentação de "O Segundo Olhar"














Nas fotos, figuram os intervenientes da sessão. A autora: Inês Lourenço, o editor Carlos Alberto Machado, o antologiador José Manuel T. da Silva, o apresentador da obra Fernando Guimarães, a actor que efectuou, as leituras António Durães e a pianista Sofia Lourenço.
Fotos de André Henriques (Ah!PHOTO) e Lauren Maganete.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

terça-feira, 1 de setembro de 2015

RODA DA FORTUNA

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RODA DA FORTUNA

O número dez governa
os meus movimentos. Decénios
e decénios me transformaram...
em leme, nora, moinho,
hélice, chaminé, guindaste
ou num objecto-fantasma
em cenário de abandono. A
geometria divina do círculo
converteu-me no destino dos
homens. Subo e desço
em sucessivos ciclos. A
mutabilidade é o meu eixo
e habito a substância do tempo
que tudo destrói e regenera.

Inês Lourenço (in A ENGANOSA RESPIRAÇÃO DA MANHÃ, 2002

quarta-feira, 1 de julho de 2015

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Quadras Sanjoaninas 2015


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Inda há para a sardinha
Meia dúzia de tostões,
Só querem deixar a espinha
Esse bando de ladrões.

 
Gaspar, Lulus e Pentelhos,
Cavacos, Relvas, Loureiros,
Salgados, Portas, Coelhos,
Lixaram novos e velhos.

 
Num foguete e num balão,
Um milagre se vai dar,
Pois o nosso S. João
Manda os safados ao ar.

 
Assim para o ano que vem,
Ele vai-nos proteger:
E não se verá ninguém
Na lixeira a remexer.

 
Obrigado S. João
Por seres nosso protector.
Lá vamos nós dar a mão
Na fogueira, com amor.

 

(Anónimo)

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Leave the kids alone





Ficaram sozinhos com as redes sociais, a partilharem as maiores humilhações e sevícias entre eles. É tempo de analisar os resultados desta fraude.

sexta-feira, 15 de maio de 2015

sexta-feira, 8 de maio de 2015

sexta-feira, 24 de abril de 2015

OS LIVROS, ONTEM E TODOS OS DIAS


OS LIVROS

Os livros duram séculos e
falam da melodia da chuva,
dos rios e dos mares, das fontes,
dos húmidos beijos dos
amantes, mas também


morrem despedaçados num
qualquer temporal que parte
as vidraças e lhes tolhe as páginas
numa brutal invasão líquida.

E falam do fogo
das paixões, de estrelas
a arder no infinito,
mas o convívio das chamas
é-lhes vedado, apesar
da torpe ignorância
a isso os ter condenado
tantas vezes.

Quantos naufrágios e incêndios
os destruíram, para depois
ressurgirem múltiplos,
audazes amigos tão antigos e
tão novos.



I.L.
in COISAS QUE NUNCA, &etc Lisboa 2010

sexta-feira, 17 de abril de 2015

GÜNTER GRASS


GLÓBULOS VERMELHOS


Mas nua...
e reduzida somente a proporções
fazes-me pena.
Por isso tento mudar-te o joelho de lugar.
Dá-me que pensar a tua espinha côncava.
Não compreendo porque és tão feia
nem porque sou incapaz de deixar de te olhar
para contemplar, por exemplo, o prado verde ou o rio
que são tão naturais
e não possuem clavículas.



Amo-te
como é possível.
Vou compor um ballet
para os teus glóbulos, os brancos
e os vermelhos.
Quando cair o pano
tomar-te-ei o pulso e verei
se o esforço valeu a pena.






PONTUAL


No andar inferior
uma jovem mãe bate
no seu filho
em cada meia-hora.
Por esse facto
vendi o meu relógio
e guio-me somente
pela mão dura
do andar inferior,
os cigarros contados
ao alcance da mão;
o meu tempo está bem medido.




Trad. de Egito Gonçalves
in Cadernos de Poesia HÍFEN nº5, Porto, Março 1990.

quarta-feira, 8 de abril de 2015

RUI CAEIRO

Na minha terra as largadas são, antes de mais, pretexto para um são convívio entre a população e os touros.



Uma vez assisti à seguinte cena: um jovem está a ser perseguido por um dos touros e refugia-se atrás de um banco de pedra a meio da praça. Fica ele de um lado do banco, o touro do outro, os dois assim se fitando e desafiando. Imóveis, arquejantes ambos. Não chegava a um metro a distância que separava a cabeça do rapaz e a do corpulento animal. O rapaz enfrent...ava com uma inesperada serenidade as chispas ou o ódio que os olhos do touro despediam. Estiveram assim durante uma eternidade, isto é, um ou dois minutos, cada um como que encantado pelo outro. Em volta, a multidão seguia a cena conservando um silêncio religioso. Foi o touro a dar o pontapé de saída, ou antes, a cornada no banco que lhe esfanicou a parte de cima. O jovem mal teve tempo para dar um salto atrás, assim evitando ser atingido: pelos cornos do touro, ou por um calhau de mármore proveniente da desintegração do banco. Foi, sem dúvida, um magnífico "tête à tête".
E tudo acabou bem.




Em Vila Viçosa um banco de mármore substitui-se com facilidade.



in DEUS E OUTROS ANIMAIS, Averno 2015.

terça-feira, 31 de março de 2015

quinta-feira, 12 de março de 2015

CATÁLOGO DE PÁSSAROS DE O. MESSIAEN

Exactamente setenta e sete pássaros diferentes
repartidos por sete livros de música
Não chega só uma vida para contar a plumagem
as películas esvoaçantes do breu real
ou os saltos coloridos de espessuras entre galhos
Volteiam de transparência em transparência
trespassam o dia, bicam o nó da sombra


Aguardamos sob o peso do sol, névoas até aos ossos
preenchemos depois as noites com cifras de aérea
                                                               gravidade
humilde exercício, transposição luminosa
É o mundo todo visível, questão de paciência
invisível totalmente, olhos recomeçados?


Pequenos factos radiantes
corações de tempos demasiado vivos
registos sobreagudos, coisas de atenta surdez
Sobrevoam os intervalos mais discretos da terra
alheios ao peregrino, humano sobressalto
anjos ou penas pesadas da neve


Já nos visitavam nas coutadas da Silésia
pedradas, tiros, valas comuns em Stalag VIII A
A cotovia dos campos, o papa-figos dourado
maçarico real, chasco preto, melro azul



José Manuel Teixeira Silva
in "Música de Anónimo", Companhia das Ilhas, Lajes do Pico 2015





segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Cão Celeste nº 6


(…)
 
Depois de ti, Fernando.
Depois de ti vieram outros praticantes menores, sempre menores do que tu, e sem arca que se visse. E não mais correndo os mesmos riscos. E não mais adeptos de uma obscuridade assim heróica como a tua.
Desses, o mais relevante parece ser o grande Buda Agá-Agá.
Agora, já idoso e de pantufas calçadas, na sua casa de Cascais. Aguardando, aborrecendo-se. E quase nada escrevendo. Já um tanto perdido também ele, mas ainda sensível aos cantos de sereia da meninice e do esoterismo.
Mas não há comparação possível contigo, Fernando, que foste, para além de ti e do mistério de ti, do mistério que sempre se é, a tua especialíssima e enorme circunstância.
 
Tu foste mais longe, mais além, mais fundo e mais profundo: na realização e na perdição, na sinceridade e na mistificação. Na imobilidade e no voo. No sonho, na dispersão, na despersonalização.
Rimbaud, é da legenda, perdeu as botas na Abissínia. Pior do que isso, perdeu a perna, perdeu a saúde e a vida. Tu, Fernando, foi em ti que te perdeste.
A cada um o seu deserto.
Tu limitaste-te a sumir por Lisboa, nessas tuas ruas da Baixa.
E tanto te perdeste que pelos vistos ainda lá estás, ou por lá andas ainda.
Visível ou invisível, sumiste até não seres ninguém.
Até seres ninguém.
 
Rui Caeiro In Poema para o Fernando seguido de algumas falripas de prosa também para o Fernando.  Cão Celeste nº 6. Lisboa, Novembro de 2014.