sexta-feira, 26 de setembro de 2014
Eduardo Lourenço
Do Colonialismo como Nosso Impensado
« (...)
E o regime de Salazar, em particular, "deu origem a uma das mais grotescas mitologias colonialistas de que há memória": a metrópole tinha colónias mas não as podia assumir enquanto tal e os " malabarismos luso-tropicalistas" de Freyre "forneciam a necessária caução científica a esta operação mágica".
Depois, a falta de pensamento dos tempos coloniais ou imperiais foi herdada pelos tempos pós-coloniais, da descolonização: "Num caso e noutro: sem problemas. A não problematização da história portuguesa (com a excepção de Oliveira Martins) é uma das características capitais da consciência nacional, e essa ausência de olhar crítico sobre nós está relacionada justamente com o facto de sermos os prodigiosos autores de uma gesta de colonização que nunca nos pôs problemas. Quando os houve, e graves, foram os outros que no-los puseram." (...)»
DRC
in ípsilon , PÚBLICO, 26 de Setembro de 2014.
quarta-feira, 17 de setembro de 2014
LEI SÁLICA
As mulheres da família sempre
tiveram um jeito quase póstumo
de existir: guardar o lume
em silêncio, comer depois de
servir os outros, morrer primeiro.
Saíam à hora de ponta do destino
para lerem os caminhos perdidos
e coleccionavam a abdicação
em caixinhas de folha, entre bilhetes
caducados ou dentes de infâncias alheias.
Esperavam a vida toda por uma vida
próxima, de alma presa a alfinetes
no vestido preferido para o enterro,
os passos medidos nas suas varandas
a dar para o fim do mundo.
Retomo-lhes às vezes os gestos
neste meu exílio inventado,
mas acaba aqui: vou encher de corpo
a sombra, mesmo que nem tempo
me reste já para a pesar.
Inês Dias
in DA CAPO, Ed. Averno 2014, Lisboa, p.62.
para lerem os caminhos perdidos
e coleccionavam a abdicação
em caixinhas de folha, entre bilhetes
caducados ou dentes de infâncias alheias.
Esperavam a vida toda por uma vida
próxima, de alma presa a alfinetes
no vestido preferido para o enterro,
os passos medidos nas suas varandas
a dar para o fim do mundo.
Retomo-lhes às vezes os gestos
neste meu exílio inventado,
mas acaba aqui: vou encher de corpo
a sombra, mesmo que nem tempo
me reste já para a pesar.
Inês Dias
in DA CAPO, Ed. Averno 2014, Lisboa, p.62.
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terça-feira, 2 de setembro de 2014
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