quarta-feira, 27 de junho de 2012
sábado, 23 de junho de 2012
quarta-feira, 20 de junho de 2012
Inadmissível ou ilícito?
A hipocrisia semântica que fede nas recentes conclusões da ERC, embora com dois conselheiros votando vencidos no denominado caso Relvas, é lamentável e repelente. Como é que alguma coisa pode não ser admissível para uma comunidade democrática, não sendo ilícita? Quererá dizer que a legislação admite comportamentos inadmissíveis, quando o agente desse comportamento é pela sua importância política um inimputável?
segunda-feira, 18 de junho de 2012
Feliz Aniversário! Com um Abraço de Parabéns, para a Manuela
Para um Amigo Tenho Sempre
Para um amigo tenho sempre um relógio
esquecido em qualquer fundo de algibeira.
Mas esse relógio não marca o tempo inútil.
São restos de tabaco e de ternura rápida.
É um arco-íris de sombra, quente e trémulo.
É um copo de vinho com o meu sangue e o sol.
António Ramos Rosa, in "Viagem Através de uma Nebulosa"
esquecido em qualquer fundo de algibeira.
Mas esse relógio não marca o tempo inútil.
São restos de tabaco e de ternura rápida.
É um arco-íris de sombra, quente e trémulo.
É um copo de vinho com o meu sangue e o sol.
António Ramos Rosa, in "Viagem Através de uma Nebulosa"
sexta-feira, 15 de junho de 2012
Quadra Popular
Já lá vai Abril e Maio,
Já lá vão estes dois meses,
Já lá vai a liberdade
Com que te eu amava às vezes .
Já lá vão estes dois meses,
Já lá vai a liberdade
Com que te eu amava às vezes .
quinta-feira, 14 de junho de 2012
Miguel - Manso
1
Abres o alçapão, pões o braço lá dentro. O que retiras de lá não é o que retiras de lá, mas ocupa um lugar. É um lugar o que retiras do alçapão. Um lugar a menos
3
O livro é uma cegueira veloz no sentido da lentidão. Nada, tudo, outra vez nada. Depende da mão que abandona mas primeiro bane o que bane a estranheza. O livro não se define com desembaraço, é de tear complicado. O dedo que aponta o livro não é o livro. O que o autor e o leitor sim aprendem com o livro: a evidência da escuridão, o indistinto da nitidez
28
No jornal: mulher esteve nove anos morta em casa. Passou quase uma década entre o momento íntimo dessa morte e o maior ou menor espavento civil (e/ou religioso) que a autorizou. A morte, que acontece sempre aos outros, precisa, idealmente, da exibição do seu resíduo: o corpo consumado. Ou então de um vestígio, notícia, um boato que seja. Se ninguém acolheu a morte dessa mulher, então ela só morreu (tornou a existir) de facto, no dia em que a encontraram no chão do seu apartamento. Mais do que uma utopia, ou um hiato (uma hiatopia) o lugar e o tempo onde e em que ela desexistiu (apurados e admitidos postumamente) têm a dimensão do mito. E eis que o vocábulo apartamento atingiu ali a sua literalidade. Mas de nada, para nada, por nada e em tempo nenhum
32
Alinhas letra a letra o letreiro da burla. O textículo em que trabalhas não obedece mais à profusa lei do pôr. E apenas sobrepões por camadas um espanto já aborrecido e sem lugar, de onde retiraste o gesto de ter posto mas nunca o gesto de ter gesto. Nunca o vento de resumir ou o rasto de ampliar
52
Poesia em estado bravio há. É porém o poema, esse organismo mindinho que pertence por degeneração ao corrupto agregado literário, que terá de encontrar a voltagem exacta que permita canalizar a pequena parte - a possível - de todo o potentado. O problema dos poetas começa por ser uma dificuldade de artesanato, de técnica, de oficina. E os cantos mais belos estão ainda à espera de ser cantados (WW)
in Um Lugar a Menos, Os Carimbos de Gent, Lisboa 2012, págs. 11; 13; 44; 50 e 76.
quarta-feira, 13 de junho de 2012
Bernardo Soares
"Ah, quem me salvará de
existir? Não é a morte que quero nem a vida: é aquela outra coisa que brilha no
fundo da ânsia como um diamante possível numa cova a que se não pode
descer (...)"
segunda-feira, 11 de junho de 2012
sexta-feira, 8 de junho de 2012
Carlos Alberto Machado
O FANTASMA DO CAIS
Conheci-o pelos meus seis anos, quando a minha mãe pela primeira vez me levou à Horta, ao Hospital, para uma operação às amígdalas. Lá está ele ainda no cais, costas voltadas para a lancha e para as pessoas que nela entram ou saem. Olha para todo o lado e para nenhum - menos para a lancha. Dir-se-ia que alguém o depositou ali, no lado errado, e depois se esqueceu de o retirar ou de o voltar para o sítio certo.
Faça sol ou chuva, ele lá está, há mais de vinte anos, naquele alheamento de tudo, as pernas levemente afastadas, os braços caídos ao longo do corpo com as palmas das mãos bem voltadas para trás, no rosto uma boca de lábios quase invisíveis onde mora um sorriso entre o idiota e o sarcástico.
Nessa minha primeira viagem o mar estava agitado e a minha mãe, já na Horta, perguntou-me se tinha gostado. Respondi-lhe que sim mas na verdade nem dei pela viagem, a cabeça todo o tempo ocupada a cismar naquela espécie de fantasma do cais da Madalena. Cismei, digo-o hoje, como se soubesse que em cada viagem de lancha o veria sempre ali, sempre na mesma posição e com o seu enigmático sorriso inalterado.
Poucos são, contudo, os que reparam nele e na sua estranheza. Talvez a sua quietude e o seu alheamento imperial criem em torno de si uma espécie de escudo que impede que o vejam. Já adulto, atrevi-me uma ou outra vez a interpelá-lo, pelas horas, pelo lume para o cigarro: nada, apenas um inclinar ligeiro da cabeça e o sorriso que se abre quase imperceptivelmente. Mudo e quedo. Esfíngico. É ele o próprio enigma. Para mim é fascinante existir alguém assim, que apenas existe e não quer significar nada - ou que na sua existência neutra nos faz ver com olhos lavados tudo o que nos rodeia, o velho e o novo. Talvez seja isso. O facto de ele existir ali, daquela maneira, é mais forte que a gritaria e os gestos em excesso da turba. Uma ardósia onde cada um de nós pode escrever o que quiser.
Por isso, é preciso que voltes, velho amigo: sem ti, o cais, as lanchas, as gaivotas, as pessoas, as cargas, tudo, tudo, fica sem sentido, como se não pudessem existir sem ti. Volta, velho amigo, se deste os olhos à morte foi por distracção, e isso remedeia-se.
in estórias açorianas, Companhia das Ilhas, Lajes do Pico, 2012, p 25
quarta-feira, 6 de junho de 2012
Pena de morte por lapidação
Manifestante francesa protesta contra o apedrejamento de mulheres até à morte.
Caríssimas/os,
Mais uma jovem mulher sudanesa, de 20 anos, foi condenada à morte por apedrejamento no passado dia 13 de Maio, pelo tribunal criminal de Ombada, no Sudão, pelo crime de adultério.
O julgamento de Intisar Sharif Abdallah foi feito sem a intervenção de um/a advogado/a, nem de intérprete, apesar de ela não ter um bom conhecimento de árabe, por não ser a sua língua natal. Foi condenada com base nas declarações que prestou após ter sido espancada por um seu irmão.
Está detida juntamente com o seu filho mais novo, de quatro meses de idade. Os seus dois outros filhos estão à guarda da sua família.
Queria pedir-vos para se juntarem à campanha da Amnistia Internacional para exigir a revogação desta sentença de morte, enviando ao Presidente da República do Sudão, Omar Hassan Ahmad al-Bashir - :info@sudan.gov.sd - uma carta idêntica à que junto em anexo.
E, também, que divulguem esta mensagem e a carta junto de todos os vossos contactos.
Para mais informações sobre este caso podem consultar o site: http://deathpenaltynews.blogspot.pt/ /2012/05/urgent-appeal-for-woman-sentenced-to.html
Obrigada.
segunda-feira, 4 de junho de 2012
Sheryl St. Germain
Portadores de Archotes
De olhos injectados, suando whiskey, eles eram os verdadeiros deuses da
noite, e eu gostava de vê-los transportando as preciosas insígnias do fogo,
Eu gostava de vê-los, cambaleantes e trôpegos, mambando, arrastando os
pés, fazendo zig-zags pela rua, exibindo o fogo,
como palavras luminosas ou feridas, chispas de diamante caindo no chão
como suor, archote e portador tão unidos que os próprios portadores
pareciam de fogo.
Penso que os amava porque mesmo quando criança eu sentia que os
poemas que tentava escrever na escuridão do meu quarto eram como isto,
ébrias epifanias de luz
momentos gaguejantes entre os andores do Sonho e do Pesadelo,
creio que os amava porque
eu queria que este fosse o ofício de poeta:
carregar a noite em chamas,
levantando alto os nossos próprios eus
tropeçantes,
espantados,
dançando na rua.
trad. de Maria Andresen e Alexis Levitin
( nº28 Abril de 2011 - Relâmpago, p. 199 )
Nota: Nascida, em New Orleans em 1954 tem diversos livros de poesia publicados, sendo os três últimos:
Let It Be a Dark Roux: New and Selected Poems, poetry
(Pittsburgh: Autumn House Press, 2007)
Swamp Songs: The Making of an Unruly Woman, essays
(Salt Lake City: University of Utah Press, 2003)
The Journals of Scheherazade, poetry (Denton: University
of North Texas Press, 1996)
De olhos injectados, suando whiskey, eles eram os verdadeiros deuses da
noite, e eu gostava de vê-los transportando as preciosas insígnias do fogo,
Eu gostava de vê-los, cambaleantes e trôpegos, mambando, arrastando os
pés, fazendo zig-zags pela rua, exibindo o fogo,
como palavras luminosas ou feridas, chispas de diamante caindo no chão
como suor, archote e portador tão unidos que os próprios portadores
pareciam de fogo.
Penso que os amava porque mesmo quando criança eu sentia que os
poemas que tentava escrever na escuridão do meu quarto eram como isto,
ébrias epifanias de luz
momentos gaguejantes entre os andores do Sonho e do Pesadelo,
creio que os amava porque
eu queria que este fosse o ofício de poeta:
carregar a noite em chamas,
levantando alto os nossos próprios eus
tropeçantes,
espantados,
dançando na rua.
trad. de Maria Andresen e Alexis Levitin
( nº28 Abril de 2011 - Relâmpago, p. 199 )
Nota: Nascida, em New Orleans em 1954 tem diversos livros de poesia publicados, sendo os três últimos:
Let It Be a Dark Roux: New and Selected Poems, poetry
(Pittsburgh: Autumn House Press, 2007)
Swamp Songs: The Making of an Unruly Woman, essays
(Salt Lake City: University of Utah Press, 2003)
The Journals of Scheherazade, poetry (Denton: University
of North Texas Press, 1996)
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