terça-feira, 29 de maio de 2012

Cecilia Bartoli

   Nota: Em celebração dos povos latinos, (de que infelizmente, alguns políticos nos querem afastar pelo Acordo Ortográfico) e que estão a ser tão maltratados pelos países endinheirados da Europa. Nem só fabricar Mercedes, Ferraris, armas de guerra e electro-domésticos define o ser humano.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Florbela, Adília & Pessoa


 
 
 
Nota: Neste poema publicado em 2005, fiz comparecer Pessoa, Florbela e Adília Lopes. Esta última no seu conhecido livro "Florbela Espanca
espanca", glosa um soneto da popular autora, onde esta afirma: "Eu quero amar, amar perdidamente", contrapondo um simétrico "Eu quero foder/foder achadamente". A expressão Possessio maris que evoquei para título deste poema é uma epígrafe da "Mensagem" de Fernando Pessoa e significa, em latim, "possesão dos mares". Sabe-se que a "possessão" implica também ser possuído. Pessoa descreve isso muito bem, no poema "Mar Português" do livro citado: "Ó mar salgado, quanto do teu sal/são lágrimas de Portugal!". Esta possessão pode igualmente ser convocada pela paixão amorosa realizada ou não. Lembrei-me de isto hoje, a propósito de alguns comentários no facebook, muito enjoados com a poesia e a figura de uma das nossas mais
conhecidas autoras: Florbela Espanca (1894-1930).


POSSESSIO MARIS


            para Adília Lopes

É tão banal no poema
saber dourar a cópula. Como, ao
amar, resistir à boa humilhação de
babélica e virtuosamente
foder e ser fodido. Assim

tão cruamente seja dita
a bíblica prática do conhecimento
dos corpos livre de intertextos e
arredada da culpa e das pestes
racionais.

As almas sensíveis, minha amiga,
não acham sobre-humano nem
muito estético esse acto de achada
eficácia. Desdenham e enjoam
o látego terminal do gozo. Eternos
nautas em seco, aportam a doutos

ensaios e outras posições
elípticas, esquecidos do genitivo
de posse e das declinações trágico-marítimas
onde nunca ninguém possuiu
sem ser possuído.


I.L.
( in Logros Consentidos, Ed. & etc, 2005
Lisboa, p.18 )

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Telhados de Vidro nº 16 - ABRIL - 2012

POETA COSENDO UM BOTÃO NAS CALÇAS

está encostado a um navio porque tem o navio
na cabeça
cose o botão    poeta   cose
e a linha vai e vem   entre os dentes
linha branca
horizonte em contraste com o bege do algodão
das calças   este poeta está mais de acordo com o mar
que pesa debaixo do navio
do que muitos poetas que andaram
correndo os oceanos   escrevendo imagens salpicadas
de algas   tesouros e peixes   é um poeta
um poste de luz   é um poste de luz
e cose sem dificuldade o botão nas calças


( p. 12)


FERNANDO PESSOA NO MARTINHO DA ARCADA

ele há coisa mais natural do que um poeta amar o ovo estrelado?
é o que ouço dizer
que Pessoa para além de tudo
passando sem pressa de passar na praça maior do Tejo
sentado no café com versos e odores de mar
gostava de ovo estrelado
dizia que era um sol frito
as coisas que um poeta diz

( p. 14)


LIMPA-VIDROS

entre nós e o que queremos dizer há um vidro
ou uma lente com as suas nódoas de humanidade   as dedadas
as marcas do frio   as saraivas   o pó
um verso mais ou menos limpo de imperfeições é
aquele que podemos ler depois de um trabalho com limpa-vidros

( p. 17)


Abel Neves, Averno, Lisboa, 2012.
Direcção:
Inês Dias e Manuel de Freitas.


terça-feira, 15 de maio de 2012

O Cão Celeste



EDITORIAL


Algures entre o jornal e a revista, o Cão Celeste pretende apenas ganir, ladrar com raiva ou paixão, amar ou odiar sem peias aquilo que o mundo quotidianamente lhe dá a ver. De seis em seis meses, os leitores interessados terão notícias nossas. Mas não somos um grupo, não obedecemos a qualquer cartilha literária ou política que possa servir para classificação geral. Este é, antes de mais, um espaço de encontro entre pesoas que ainda consideram urgente o livre exercício da crítica, do pensamento ou da revolta. E é justamente em nome dessa dessa precária liberdade que prescindimos de qualquer apoio exterior, passível de condicionar os nossos gestos. Repudiamos, de modo inequívoco, o acordo ortográfico pretensamente em vigor - e fazemos questão de sublinhar, sempre que possível, essa repulsa. Mas temos outros ódios, claro - e, felizmente, afectos e devoções não menos intensos. Apesar de tudo, e ainda que de longe em longe, a lanterna de Diógenes mantém o seu esquivo e necessário fulgor.

A Direcção

domingo, 13 de maio de 2012

Sofisma cruel e desavergonhado

Então uma pessoa deve ficar muito empolgada por ser despedida do seu emprego?! Deve ser a descoberta luminosa que estas mentes hermenêuticas do governo querem transmitir

Então que tal invocar outros azares, tipo partir uma perna, ser atraiçoado pelo cônjuge ou ficar paraplégico? É sempre uma oportunidade de mudança e de experimentar novos rumos de vida...

Haja um pouco de pudor nas falácias coelheiras, coisa que ele nunca teve, pelos vistos.

irreparavelmente





( visto aqui)

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Au revoir petit Sarko



A França é sempre a França. País de gente como Pascal, Proust, Camus, Sartre, S. de Beauvoir, Rimbaud, Cézanne, etc, etc...

Vive la France!!!

sexta-feira, 4 de maio de 2012

GRITOS



É de uma ironia devastadora ver um ícone artístico do sofrimento e angústia humanos render a um anónimo (humano ?) uma quantia obscena. Faça-se uma consulta rápida à biografia do pintor e às circunstâncias da criação da obra e é caso para nos interrogarmos acerca das reais e actuais finalidades da Arte