terça-feira, 31 de janeiro de 2012
Too Much Love...
Neste 31 de Janeiro, não me apetece recordar a intentona republicana cá do burgo (1891). Já o fiz noutros anos, mas com esta friagem de Janeiro, que parece que vai piorar, prefiro aquecer-me com a bela canção de Freddie Mercury. Não se morre só pelo amor da liberdade...
terça-feira, 24 de janeiro de 2012
Diogo Vaz Pinto
A alguns gritos de distância
I
A dois gritos e meio de distância
a surdez que se mancha
das cores que me sobraram. Sinto
com a voz, e esta só me dói quando fica
presa às coisas numa evasão
descritiva, palavras abertas
como lâminas sonhando junto
aos pulsos.
A sul disto não encontro mais nada,
só a boca escancarada do silêncio, suja
aos cantos de ideias que
se despenharam, e nós,
dois ou três ou mais, escrevendo
enquanto lhe apodrecemos
na garganta.
Sob sóis apagados, flores que bebem
no escuros, escutando, cheirando
estas mãos e aquilo que lhes dou, e nada
disto é ainda poesia, mau hálito tão-só.
Um eflúvio de frias imagens rente
ao torpor destes lábios. Já o sabes,
agora anda – faz-me o favor –
desvia-te que me aborrece ter que
arrastar também esses dois olhos.
II
A sós, levei-me a uma praça onde o vento,
como tudo, me foi desfavorável, mas gostei
(e como) de deixar correr um grosso fio
de urina na minha sombra. Sentei-me depois,
abri o caderno e a noite, descalça,
passou-lhe por cima, toda mal pintada,
descabelada, rindo-se
sozinha e provocando a clientela
como os seus truques de puta eterna.
Nas calças desmanchava-se de novo
o sexo, lembrança vadia cuspindo-se
e puxando para trás, para a oleosa névoa
de um bar: estofos furados, o leve
desgaste nas mesas e os nomes
arranhados nos braços de um vazio
melodioso.
Canções que chegam muito tarde,
e se servem da carne de quem
nem talvez conheça outro descanso.
Um mal-estar cheio de gente encostada,
querendo deixar a vida
à primeira rima que facilite
um ponto final neste português
que tão devagar se suicida.
In Nervo, Edições Averno, Lisboa, 2011.
Nota - Citação que antecede o poema acima:
más allá de qualquier
zona prohibida hay un espejo
para nuestra triste transparencia
ALEJANDRA PIZARNIK
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novas edições (poemas)
quinta-feira, 19 de janeiro de 2012
Eugénio de Andrade (19 de Janeiro de 1923 - 13 de Junho de 2005)
Sobre o Caminho
Nada
nem o branco fogo do trigo
nem as agulhas cravadas na pupila dos pássaros
te dirão a palavra
Não interrogues não perguntes
entre a razão e a turbulência da neve
não há diferença
Não colecciones dejectos o teu destino és tu
Despe-te
não há outro caminho
Eugénio de Andrade, in Véspera da Água
Nota: Todos os anos me lembro deste aniversário. Todos os novembros vou lá pôr uma orquídea, das que nascem no meu terraço.
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Eugénio de Andrade
terça-feira, 17 de janeiro de 2012
Dedicado à senhora Merkel
Uma ária da Carmen cantada por uma nativa grega. Tudo assuntos das agências de rating pigs.
terça-feira, 10 de janeiro de 2012
Irmandades
Estas agremiações, seja qual for a sua inspiração, reflectem sempre uma identidade mais ou menos iluminada e que pressupõe deter a Verdade. Já sabemos que essa verdade maiúscula não existe. Existem diversas verdades, segundo as perspectivas e as temporalidades a que se referem. Claro que para os teístas dessas irmandades dá muito jeito agarrarem-se a esse mito da verdade única, porque não sabem viver com a dúvida, com a sua precariedade humana e acreditam numa entidade divina, seja Deus, Jeová, Alá, ou o Grande Arquitecto do Universo. Nós, os que não nos arrogamos detentores de “iluminações”, somos chamados de profanos, infiéis, etc.
Um anacronismo mofento exala-se dessas crenças e rituais cujo secretismo tinha razão de ser em tempos de impérios, guilhotinas e decapitações. Hoje, encobre mal a voracidade de estar nos lugares onde transitam pessoas ligadas ao poder e ao dinheiro. No caso dos discípulos do “Arquitecto” há inúmeras contradições, logo nos objectivos mais ou menos teístas: como é que se pode ser livre-pensador, pedreiro-livre, livre examinista, etc., e ao mesmo tempo pertencer a uma “obediência”? Como se pode defender e socorrer um irmão, quando há manifesto conflito de interesses e de cargos sociais? Por isso, irmandades só as genéticas e, muitas vezes, nem isso. Lembremo-nos daquela historinha de Caim e Abel.
sexta-feira, 6 de janeiro de 2012
"Duma austera, apagada e vil tristeza"
RAMALHO, António, 1858-1916
Camões lendo os Lusíadas a D. Sebastião
Em recente releitura do Canto X dos Lusíadas, impressionaram-me certas similitudes do tempo de Luís Vaz com o que actualmente vivemos. Senão vejamos: à perda da independência em 1580, seguiu-se o reinado de três Filipes. Também são três os indivíduos estrangeiros que constituem a famigerada Troika e não sei se nos vão dar ordens a soldo da agiotagem mercantil durante 60 anos. Da mesma forma, é dolorosamente irónico o paralelismo das "austeridades". E, ultrapassados os tais penosos 60 anos, 1640, encontro outra similitude: também há para aí Miguéis que precisavam ser defenestrados.
Regressando às palavras do poeta:
"Não mais, Musa, não mais, que a Lira tenho
Destemperada e a voz enrouquecida,
E não do canto, mas de ver que venho
Cantar a gente surda e endurecida.
O favor com que mais se acende o engenho
Não no dá a pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
Duma austera, apagada e vil tristeza".
(Lusíadas Canto X, Est. 145)
quarta-feira, 4 de janeiro de 2012
Quartas Mal Ditas
João Luís Barreto Guimarães estará presente, hoje, nas Quartas Mal Ditas do Clube Literário do Porto, Rua Nova da Alfândega, 22.
Leituras pelo colectivo das QmD, colaboração musical da pianista Sofia Lourenço, coordenação e guião de Anthero Monteiro.
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