por cá e pelo restante habitáculo terrestre, os motivos de perplexidade multiplicam-se.
Desenrolam-se os costumeiros fogos florestais, que há quem diga são encomendados pela "indústria dos fogos". As personagens governamentais sãode uma mediocridade e impúdica matreirice, que nos assalta uma espécie de saudade de Sócrates, da sua dignidade e consistência, pirante a torva malevolência que orquestrou a ingénua e ignorante irresponsabilidade de muitos portugueses.
A morte jovem de cantantes pop, corroídos pelas drogas e pelo álcool, começa a ser um lugar-comum; e o facto de lhe serem dedicadas tantas jaculatórias, é já de uma rotineirice tanatológica. O talento lançado na sarjeta dos estupefacientes deveria causar alergia e não panegíricos de comovente lembrança. Os grandes heróis e heroínas deste mundo, são as pessoas que fazem quotidianamente um enorme esforço para existir, por diferentes motivos ( sociais, de saúde, económicos, étnicos, etc ).
O caso do norueguês psicopata, filiado na Extrema Direita e na Maçonaria, pelo menos, demonstra como as Instituições albergam toda a casta de malvados. Não basta reclamar-se "da verdade, fraternidade, humanismo".
A fézada das irmandades não vê mais...
quarta-feira, 27 de julho de 2011
quarta-feira, 13 de julho de 2011
"nihil sub solo novum"
«Quando, em Abril de 1945, a paz pairou sobre a Europa, depois de os Aliados terem derrotado a Alemanha nazi e a Itália fascista, qual era o panorama que se podia ver no Velho Continente e nos EUA?
Na Europa, era tanta a fome na Alemanha, na Áustria, na Itália, como na vitoriosa Grã-Bretanha ou na desocupada França e na mártir Bélgica. A fome estendia-se, também, aos países neutros como Portugal e Espanha. Os circuitos produtivos estavam completamente destruídos e as correntes comerciais eram quase inexistentes. Milhões de desalojados deambulavam de um lado para o outro à procura das suas antigas raízes. Era dantescamente um caos. Em contrapartida, nos EUA, pesem embora as elevadíssimas perdas de vida entre a juventude americana, não havia desemprego, a economia era florescente, as fábricas trabalhavam a bom ritmo e produziam em abundância.
Este cenário era magnífico para os americanos e péssimo para os europeus. Mas o que interessa uma economia florescente se não puder expandir-se? Rigorosamente nada, porque transporta no seu seio o feto da crise. Uma crise que, mais tarde ou mais cedo, estalará em função da retracção que se irá verificar no mercado interno por estar saturado. Assim, interessa expandir-se, abrir-se ao exterior, para continuar a fazer crescer a produção, as vendas, o emprego e o rendimento das famílias e o lucro dos capitais.
Isto mesmo percebeu George Marshall, Secretário de Estado dos EUA, que propôs uma ajuda financeira à Europa, para recuperação da máquina produtiva. Claro que a ajuda saía por um lado, mas o retorno fazia-se por outro, na medida em que o Velho Continente passou a ser um excelente comprador dos produtos americanos. Isso permitiu, de facto, a recuperação europeia, mas uma recuperação dependente dos EUA que se concretizou melhor e mais eficientemente na imediata criação da OTAN ou NATO.
O progresso europeu foi tal que, uma dezena de anos após a guerra, vivia-se por cá um boom económico muito significativo. Ao romper a década de 60 do século passado a Europa tinha recuperado e estava a lançar as bases da Comunidade Económica Europeia (CEE). Era o nascer de uma nova temporada. Uma temporada que veio desembocar na União Europeia e na moeda única, o Euro. De repente (duas dezenas de anos em História é um curto lapso de tempo), aquilo que começou por ser um plano para manter os altos padrões de produção e de consumo da economia dos EUA tornou-se numa ameaça série à economia americana. A palavra de ordem, depois da última crise económica dos EUA, foi simples: destrua-se o Euro, destruindo, se necessário for, a Europa. E por onde se inicia essa destruição? Pelos flancos mais frágeis: Grécia, Portugal e Irlanda, passando, depois aos restantes. E até onde se pode e deve ir? Até que a Europa fique, sem nela rebentar uma bomba, tal e qual como estava em 1945, ou seja, com os circuitos económicos todos destruídos. Para quê? Para que os EUA possam, uma vez mais, desenvolver um qualquer programa de auxílio semelhante ao plano Marshall. Um plano que auxilia mais quem o dá do que quem o recebe.
Só não vê quem não quer ver! A História dá as lições… é necessário saber interpretá-las! Esse era (é) o motivo porque nas Academias Militares se ensinava (ensina) História militar, pois, os campos de batalha podem variar e mudar os intervenientes, mas não mudam as táctica nem as estratégias… Alteram-se em função da tecnologia, nada mais! Infelizmente, não há academias para formar os políticos… Assim, poderiam estudar História e saber que nihil sub solo novum.»
Luís Alves de Fraga (*)
(*) É diplomado pela Academia Militar (1965), licenciado em Ciências Político-Sociais pelo ISCSP –UTL – 1977, mestre em Estratégia – ISCSP – 1991 e doutor em História pela Universidade Autónoma de Lisboa – 2009. Antigo professor efectivo titular do Instituto de Altos Estudos da Força Aérea (1981/85), antigo professor efectivo da Academia da Força Aérea (1985/96), é professor auxiliar da Universidade Autónoma de Lisboa desde 1992. É membro do Conselho Científico da Comissão Portuguesa de História Militar.
Na Europa, era tanta a fome na Alemanha, na Áustria, na Itália, como na vitoriosa Grã-Bretanha ou na desocupada França e na mártir Bélgica. A fome estendia-se, também, aos países neutros como Portugal e Espanha. Os circuitos produtivos estavam completamente destruídos e as correntes comerciais eram quase inexistentes. Milhões de desalojados deambulavam de um lado para o outro à procura das suas antigas raízes. Era dantescamente um caos. Em contrapartida, nos EUA, pesem embora as elevadíssimas perdas de vida entre a juventude americana, não havia desemprego, a economia era florescente, as fábricas trabalhavam a bom ritmo e produziam em abundância.
Este cenário era magnífico para os americanos e péssimo para os europeus. Mas o que interessa uma economia florescente se não puder expandir-se? Rigorosamente nada, porque transporta no seu seio o feto da crise. Uma crise que, mais tarde ou mais cedo, estalará em função da retracção que se irá verificar no mercado interno por estar saturado. Assim, interessa expandir-se, abrir-se ao exterior, para continuar a fazer crescer a produção, as vendas, o emprego e o rendimento das famílias e o lucro dos capitais.
Isto mesmo percebeu George Marshall, Secretário de Estado dos EUA, que propôs uma ajuda financeira à Europa, para recuperação da máquina produtiva. Claro que a ajuda saía por um lado, mas o retorno fazia-se por outro, na medida em que o Velho Continente passou a ser um excelente comprador dos produtos americanos. Isso permitiu, de facto, a recuperação europeia, mas uma recuperação dependente dos EUA que se concretizou melhor e mais eficientemente na imediata criação da OTAN ou NATO.
O progresso europeu foi tal que, uma dezena de anos após a guerra, vivia-se por cá um boom económico muito significativo. Ao romper a década de 60 do século passado a Europa tinha recuperado e estava a lançar as bases da Comunidade Económica Europeia (CEE). Era o nascer de uma nova temporada. Uma temporada que veio desembocar na União Europeia e na moeda única, o Euro. De repente (duas dezenas de anos em História é um curto lapso de tempo), aquilo que começou por ser um plano para manter os altos padrões de produção e de consumo da economia dos EUA tornou-se numa ameaça série à economia americana. A palavra de ordem, depois da última crise económica dos EUA, foi simples: destrua-se o Euro, destruindo, se necessário for, a Europa. E por onde se inicia essa destruição? Pelos flancos mais frágeis: Grécia, Portugal e Irlanda, passando, depois aos restantes. E até onde se pode e deve ir? Até que a Europa fique, sem nela rebentar uma bomba, tal e qual como estava em 1945, ou seja, com os circuitos económicos todos destruídos. Para quê? Para que os EUA possam, uma vez mais, desenvolver um qualquer programa de auxílio semelhante ao plano Marshall. Um plano que auxilia mais quem o dá do que quem o recebe.
Só não vê quem não quer ver! A História dá as lições… é necessário saber interpretá-las! Esse era (é) o motivo porque nas Academias Militares se ensinava (ensina) História militar, pois, os campos de batalha podem variar e mudar os intervenientes, mas não mudam as táctica nem as estratégias… Alteram-se em função da tecnologia, nada mais! Infelizmente, não há academias para formar os políticos… Assim, poderiam estudar História e saber que nihil sub solo novum.»
Luís Alves de Fraga (*)
(*) É diplomado pela Academia Militar (1965), licenciado em Ciências Político-Sociais pelo ISCSP –UTL – 1977, mestre em Estratégia – ISCSP – 1991 e doutor em História pela Universidade Autónoma de Lisboa – 2009. Antigo professor efectivo titular do Instituto de Altos Estudos da Força Aérea (1981/85), antigo professor efectivo da Academia da Força Aérea (1985/96), é professor auxiliar da Universidade Autónoma de Lisboa desde 1992. É membro do Conselho Científico da Comissão Portuguesa de História Militar.
domingo, 3 de julho de 2011
Ana Paula Inácio
O poeta carreirista
está sempre a morrer nos poemas
de cancro do pulmão ou cirrose hepática
mas na verdade cuida da sua obra (e do respectivo autor)
data-a e arquiva-a minuciosamente
trava mesmo amizade com uma bibliotecária
que o auxilia em braile
não vá acontecer-lhe
como o Camilo
frequenta o ginásio,
masca Trident Senses
e milita nos partidos certos.
O poeta carreirista já nasceu poeta
foi bem orientado desde pequeno
inscrevendo-se na Associação Portuguesa de Autores
mesmo sem obra publicada
não fosse alguém roubar-lhe a ideia
dorme com um olho aberto outro fechado
- nos poemas lê-se insónia –
e namora rapariga letrada
embora aos 35 sofra uma crise de orientação sexual
e aos 40 tente uma escrita erótica mais abrangente
a manquejar Sena e a farejar alguns espanhóis.
O poeta carreirista não bebe cerveja
mas vinho tinto do Alentejo
abre às vezes excepções e acompanha-a com
tremoços ou caracóis.
O poeta carreirista vai a tudo
rádio, TV e revistas,
coquetterie fina
e instala-se, de preferência, na capital.
Acrobacias
sentados em Trafalgar Square
no intervalo de amigos
com o tempo entre mãos
treinávamos o inglês
num inquérito de revista
com Francis Bacon na capa
que perguntava:
qual dos membros
- superiores ou inferiores –
preferíamos perder
(esta ablação em língua estrangeira
torna-se indolor, quase anestesiada)
respondeste: os braços
as pernas conservá-las-ia
como a liberdade de poder andar
respondi: as pernas
não queria ver-me
impedida de abraçar.
Assim juntando as nossas
perdas
eu abraço-me a ti
e peço-te anda, mostra-me o mundo
e quando nos cansarmos
abraçar-me-ás, então, com as pernas
e eu
andarei com os braços.
ANA PAULA INÁCIO
in «2010 - 2011»
Edições AVERNO, 2011.
Etiquetas:
poesia/ novas edições
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