terça-feira, 7 de dezembro de 2010

O homem inacabado

Anedota japonesa

Peixes mecânicos nadam,
raros, no aquário em Osaka.

Seu terno de vidro quebrou
no armário de espanto.

Um corvo com bico de aço
volta a furar seu cérebro.

As vísceras de Mishima
pulam debaixo da cama.

Nenhum cão na imensa Tóquio
ganirá por sua solidão.


Desajeito

O home inacabado
não tem posição
que lhe traga conforto
na cama.
Luta a noite toda
com o colchão
sem que seu corpo
torto possa encontrar
abrigo.
O pensamento
do homem inacabado
gira em falso
como as rodas de um carro
encravado na lama.

in O homem inacabado, de Donizete Galvão, Portal Editora, São Paulo, 2010

1 comentário:

Pilantra disse...

Vá lá mais dois do Donizete:


Sim, One

O que sinto , a língua não fala.
Há uma dor que não tem nome.
Musgo de abismo que o sopro
da voz alcança e macera.
Don't let me be misunderstood.
I don't want to be alone.

***

Almanaque da Pedra

Roupa branca no quarador:
enxágue-a com pedra anil.

Afta no canto da boca:
mate-a com pedra-ume.

Água de bica na talha:
jogue-lhe pedra de enxofre.

Faca com corte cego:
amole-a com pedra branca.

Dedo de prosa com craca:
raspe-o com pedra-pomes.