sábado, 26 de setembro de 2009

A nossa flor de eleição

Colhida no "mainstreet"

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Prefiro as rosas, meu amor, à pátria,
E antes magnólias amo
Que a glória e a virtude.

Logo que a vida me não canse, deixo
Que a vida por mim passe
Logo que eu fique o mesmo.

Que importa àquele a quem já nada importa
Que um perca e outro vença,
Se a aurora raia sempre,

Se cada ano com a Primavera
As folhas aparecem
E com o Outono cessam?

E o resto, as outras coisas que os humanos
Acrescentam à vida
Que me aumentam na alma?

Nada, salvo o desejo de indif'rença
E a confiança mole
Na hora fugitiva.


Ricardo Reis (Odes)

domingo, 20 de setembro de 2009

Sócrates é fixe

A campanha do PS teve ontem, em Coimbra e hoje, aqui no Porto, dois momentos de forte simbolismo, para além de máquinas partidárias e respectivas jotas; análises que as televisões nos seus flashes informativos, não descodificam.
Um deles foi o tom e abrangência do discurso de Manuel Alegre, falando da "esquerda possível" e desmascarando a real regressão democrática dos queixosos da "asfixia"... Mas, para além das palavras, a sua presença, foi o grande símbolo da antiga solidariedade ideológica, dos tempos da ditadura, uma espécie de regresso do "filho pródigo" à casa-mãe.

No Porto, foi bonito ver a aclamação a Mário Soares, com sonoros "Soares é fixe".E foi ainda mais simbólico ouvir o velho leão, depois de desancar Ferreira Leite de "economista fanática ou irresponsável" (o que despoletou caudalosos apupos da assistência), passar o testemunho, tirando a "coroa" da própria cabeça e incitando a multidão a clamar "Sócrates é fixe".

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Mais, acerca do PORTO, com explicação "tripeira".

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«O topónimo Portucale, síntese de dois vocábulos primitivos (Portus e Cale, referentes a dois aglomerados populacionais fortificados, nas margens norte e sul do rio a que chamaram Douro), tem a sua alusão mais antiga inscrita em moedas visigóticas, Portucale - por extenso, Portucale castrum novum, nome de uma diocese constante em documentos do Concílio de Lugo, em 569 - viria, por abrandamento fonético, a dar origem a Portugal, nome do que é hoje, com as actuais delimitações fronteiriças, o mais velho país da Europa.
(...)
Burgo de resistência, cidade-chave na edificação do reino, matriz, por interposto Infante D. Henrique, da expansão marítima, ninho de ideais voltados para o progresso material e espiritual - foi no Porto operário que, em 1889, se realizou o primeiro congresso socialista e, e em 1890, uma celebração do 1.º de Maio, dois anos após a matança de Chicago - enriquecendo-se em alfobre artístico, berço de guerreiros, navegadores, comerciantes, artistas de todas as artes, o Porto dos Almadas, a "Mui Nobre, Sempre Leal e Invicta Cidade" metamorfoseia-se, na segunda metade do séc. XIX, numa verdadeira metrópole moderna.
(...)
Nos estaleiros do Douro. foi construída, aliás, boa parte da frota que, de Lisboa, rumou a Ceuta, num contributo que não se ficou pelo trabalho e pelo saber dos carpinteiros, calafates e demais artífices ribeirinhos; os porões dos navios encheram-se com carne que os portuenses dispensavam, limitando-se a guardar para si os miúdos, as partes intestinais, enfim, as "tripas das reses". Belo gesto, história ou lenda, que deu como ganho aos portuenses uma honrosa alcunha: tripeiros.»


DIAS, Manuel, Porto Património Cultural da Humanidade - Espaços e Monumentos Clasdsificados pela Unesco, Porto, Norprint, 1999

Sabem por que o PORTO se intitula MUI NOBRE, INVICTA E SEMPRE LEAL CIDADE?

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«D. Afonso V, em alvará de 22 de Fevereiro de 1454, concedeu à cidade do Porto o tratamento de "Leal Cidade" e por alvará de 6 de Julho de 1459 o de "Nossa Mui Nobre e Sempre Leal Cidade". Será D. Maria II quem acrescentará o elogio "Invicta", em razão da resistência ao exército miguelista nos anos de 1832 a 1833.»

BASTOS, Carlos (org), Nova Monografia do Porto, Porto, C.ª Portuguesa Editora, 1938

(referências a esta cidade, desde os tempos visigóticos, para o próximo post)

domingo, 13 de setembro de 2009

Pérolas de (in)cultura

Manuela Ferreira Leite é uma catástrofe a todos os níveis.
(Programa "Eixo do Mal", SIC-N)
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Mais um triste espectáculo. Mais umas gafes leitistas para animar a campanha: desde a hostilidade parola e cavernícola ao nosso vizinhp ibérico, inmadmissível num membro da CE, até aquela de "matar os pais para ser orfão".

Ouvi hoje, na SIC, que a dita senhora fez a Instrução Primária em casa. Que só foi para aulas no Secundário. Que o pai não a deixou ir para Medicina (devia ser impróprio para raparigas, desse tempo...) e que a obrigou a ir para Economia.
Deve ter sido uma criança e uma jovem muito infeliz e marcada por rígida educação. Isso vê-se.
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esta imagem perlífera foi colhida no SIMplex.




sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Jorge de Sena

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"SER UM GRANDE POETA"



Ser um grande poeta
morto e nacional
é atrair as moscas
como idiotas e
os idiotas como
moscas.

Ser um poeta medíocre
vivo e universal
é atrair os catedráticos
de literatura como
idiotas e moscas.

Ser um poeta apenas
nem vivo nem morto
ou nacional ou universal
é atrair apenas os poetas
como moscas idiotas.

Moralidade: não há saída.



Jorge de Sena

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Nota: Hoje, não o Jorge de Sena, mas apenas as suas ossadas regressaram a solo português.
Fez-me impressão ver primeiras-damas cavaquensis e outros ex-libris do "comedimento" mental pelintra e da aurea mediocritas, a fazerem "guarda-de-honra", à cerimónia.
Restam-nos os versos, onde esse dissídio é patente.
Vou postar outros poemas deste génio do séc. XX.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Indecente!

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Que a velha catatua fale em "asfixia " ou prisão de ventre, para disfarçar o vácuo e conservadorismo de ideias ou a voracidade das privatizações, ainda se entende; agora o sr. Jerónimo, herdeiro de uma nobre tradição de luta clandestina contra garrotes ditatoriais, pôr-se a ajudar à missa, é repugnante.

Sócrates instituiu debates quinzenais no Parlamento, como nenhum PM tinha feito antes, abrindo-se aos desafios da Oposição. Bateu-se pela Lei da IVG. E foi o único PM que o fez, nesta nação pindérica, que produz catatuas F. Leite e hipócritas encartados, ditos de esquerda.
Só um grande democrata o poderia ter feito, como efectivamente fez.

domingo, 6 de setembro de 2009

Soneto para uma Dama-de-Latão

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Nem sábia, nem formosa, nem segura
Enche o pote de apetites a estadista,
Esta dama trasladada de usura
De farisaicos trejeitos de sacristas.

Nem Luís Vaz, nem Antero, nem Pessoa,
Sena ou Sophia alguma vez pensaram
Que uma Velha-do-Restelo seja a boa
Sucessão dos tempos que passaram.

Nem de ouros, nem de copas, nem valetes
Chegam ao Ás que quer e que promete
Na sua torva e lassa confusão.

Tanta lata para tão pouco dom:
O de compor falhados balancetes,
Ó oxidada Dama-de-Latão.

(enviado por autor anónimo)

sábado, 5 de setembro de 2009

POEMA

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Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura


Mário Cesariny