quinta-feira, 11 de agosto de 2011
«Mascarilhas e máscaras»
O legado de Sócrates para a cultura política nacional está aí à disposição de investigadores, jornalistas, intelectuais, fogareiros e meros curiosos para quem a cidadania em Portugal for parte essencial da sua identidade. Para o aproveitar é preciso abdicar dos juízos de valor ideológico e ousar a intenção da objectividade científica. Claro que será completamente legítimo fazer uma crítica a respeito dos pressupostos, modos e resultados da governação socialista sob um prisma ideológico, qualquer que ele seja. Não só legítima, essa análise seria também útil e bondosa – sendo apenas de lamentar que mal se tenha visto, tendo sido substituída pelos assassinatos de carácter no todo, à direita, e em grande parte, à esquerda. Se a oposição ao PS tivesse sido um confronto de ideias, de projectos e de talentos, Sócrates poderia ter à mesma perdido as eleições em 2011, ou logo em 2009, mas nós estaríamos agora muito melhor e os vencedores também. Mas não foi nada disso que se passou, pois não?
A conjugação de um Governo PS com a necessidade histórica de alterar sectores do Estado e da sociedade anquilosados, porque ineficientes ou ineficazes, provocaria sempre homéricas convulsões políticas. Essa reforma seria inevitavelmente catalogada como de direita pelo PCP e BE, recolhendo a anuência silenciosa, ou avulso protesto hipócrita, do PSD e CDS. E assim andámos enquanto não chegaram as crises sucessivas, nacionais e internacionais. Recorde-se que até aos começos de 2008 foram dadas provas de que Sócrates, apesar da maioria absoluta, podia ceder e aceitar derrotas: casos da candidatura de Soares às presidenciais de 2006, do novo aeroporto em Alcochete e da queda de Correia de Campos como exemplos maiores. Todavia, o movimento das placas tectónicas do Cavaquismo era imparável e estava disposto literalmente a tudo. Os mandantes das campanhas negras e das conspirações mediático-judiciais não tinham tempo, e muito menos cabeça, para estarem a desenvolver soluções políticas que fizessem sentido, nem das que lançavam se esperava que tivessem real ligação às aspirações dos portugueses. Tanto em 2009 como em 2011, o PSD andou sem programa eleitoral até quase ao dia das eleições, não tendo ele servido como matéria de discussão pública nem tendo sido factor de preferência eleitoral. O que havia a fazer era outra coisa, uma coisa que se faz há milhares de anos em qualquer sociedade onde pulhas e desesperados disputem o poder. Tratava-se de destruir aquele que os ameaçava fáctica e simbolicamente. E foi isto que fizeram:
- Mancharam o percurso escolar e profissional de Sócrates com insinuações e calúnias do foro moral e legal.
- Mancharam o exercício governativo de Sócrates com insinuações e calúnias do foro criminal.
- Mancharam a reputação de familiares de Sócrates com insinuações e calúnias várias.
- Tentaram criminalizar Sócrates a partir de escutas ilícitas e irrelevantes.
- Exploraram as fragilidades cognitivas da população, e as consequências das crises, para manterem um crescente estado de ódio contra Sócrates, Governo, PS ou qualquer um que lhes manifestasse publicamente o seu apoio.
- Usaram a Presidência da República, e o papel do Presidente da República, para o lançamento de uma conspiração mediática contra o Governo nas vésperas de dois actos eleitorais.
- Usaram as prerrogativas constitucionais do Presidente da República para a perversa transformação do seu papel institucional no de chefe da oposição a exigir a queda do Governo na própria Assembleia da República.
- Mantiveram o Governo minoritário apenas para o desgastar até ao momento que considerassem adequado para novas eleições, ao arrepio dos interesses nacionais.
- Denegriram Portugal internacionalmente ao longo de todo o processo de agravamento da crise das dívidas soberanas e dos mercados de financiamento.
Quem fez isto pertence à elite da direita triunfante (que também há uma direita derrotada, mas jamais vencida), não é a arraia-miúda dos jornais e da Internet. São portugueses como todos os outros, sim, embora com um conjunto de vantagens sociais que o centro e a esquerda não possuem. Naturalmente, velam pelos seus interesses, a sua riqueza, a sua família, o seu futuro. Não há nada de errado no que fazem, incluindo o modo como o fazem. Porque eles fazem tão-somente aquilo que sabem fazer, eles são isto: conspiradores furiosos, venenosos, tinhosos. Foi assim que subiram, uns, é assim que se mantêm, outros. E conhecem-se de ginjeira, por isso vivem num mundo de invejas, ressentimentos e vinganças.
Ora, toda esta gigantesca operação, um misto de ataque à outrance por parte de soberbos egos oligárquicos com maquinações de pormenor e longo fôlego planeadas no Palácio de Belém, não teria alcançado o seu objectivo não fosse a preciosa colaboração do BE e PCP, a que se juntou uma parte importante do PS. Estes puros da esquerda pura consideraram, alucinados, que era igual ter o País nas mãos do PS ou do PSD. E embora não se imaginassem a governar, pois ainda não estão totalmente desmiolados, só um objectivo os entusiasmava: derrubar Sócrates. A distorção da sua verrina era proporcional ao facciosismo que os cristalizava numa posição de mera resistência e boicote. Eles próprios não queriam negociar nada com o PS ou com Portugal, por isso faziam do adversário uma figura caricatural e monstruosa que lhes garantia a coerência mental da praxis.
A sucessão de transformações reformistas que se faziam desde 2005 no intento de provocar o menor dano social, e outras que eram investimentos fundamentais para a requalificação da sociedade e seus tecidos produtivos, nunca obtiveram qualquer reconhecimento por parte do BE e PCP. Pois é… se reconhecessem que o PS não era igual ao PSD, se aceitassem a possibilidade de aumentar a justiça social através de uma governação ao centro que atendesse ao maior número de cidadãos e seus díspares interesses, se admitissem que quem votou em Sócrates pela segunda vez não votou na direita mas contra ela, lá se ia a máscara que esconde um rosto de olhos vazos.
in Aspirina B
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4 comentários:
Estou aqui à rasca sem saber se isto é um panegirico, se uma hagiografia, se um encómio.
Valha-me o inefável santo ambrósio mais a imarcescivel corte celestial!
(não atire o sapato que eu já dei de frosques)
Amiga,
A performance governativa actual, mais os seus performers, justificam plenamente a argumentação do post. Esses da claustrofobia democrática e das transparências, os das verdades, das obras faraónicas, etc, são os urubus trafulhas que já se previa. Só a ingenuidade ideológica ou a desinformação costumeira do bom povo, mais a comilisse de uns tantos, nos trouxeram a isto. Vão aldrabar a mãezinha deles, mais os 40% de tugas que se abstiveram de votar.
Já reparou que na era Sócrates todos os telejornais de Verão começavam com os fogos? Agora nem se sabe quem é o Ministro da Admnistração iNTERNA..."
beijo grato
I.
O ministro da AI, se não estou em erro é o tipo que liderava os parlamentares dos laranjas e que tem voz de capelão das Beiras.Não sei como se chama.
Eu estou-me borrifando para quem lá está. O que me interessa é a honestidade e a competência deles.
E que a honestidade seja clara e a competência se faça sentir a curto, médio e longo prazo.
O que me interessa é «a política do preço da batata», que é com essa que tenho de viver todos os dias.
E não me venham com crises, surpresas e buracos.
Estou farta de mestres a puxar a brasa à sua sardinha que não sabem puxar a brasa âs sardinhas públicas, de meninos de coro de penitenciária declarados inimputáveis, de querubins imaculados peritos em serralho, etc..
Não me contem histórias de paradigmas nem me cantem trovas filosóficas, que eu já tenho entretenimento suficiente.
Façam o que lhes compete. Não sabem: ou zarpam, ou alguém os despacha.
Tão simples quanto isto.
No mais, não me interessa a vida deles.
A vida deles não interessa nada, realmente, até porque são figuras muito desinteressantes.
Mas o pior é que eles estão a mexer drasticamente com a nossa. Esta gentinha está a pôr Portugal inabitável. E o Sócrates é que era malandro e mentiroso...
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