terça-feira, 26 de outubro de 2010

Da crítica literária


(...) A 'atualidade' literária é o Brest Easton Ellis publicar um romance e andar uns meses pela Europa e pela América a dar entrevistas para o promover. Que escritor nacional - ou poeta que vender 300 exemplares do seu livro - pode competir, nos suplementos generalistas, com esta estrela internacional da nova República das Letras? Há alguns, é verdade, que tudo fazem para ter o mesmo tratamento: os que, à nossa escala, revelam potencialidades para entrar nestas produções espectaculares e aceitam fazê-lo. Este modo agressivo de construir a 'atualidade' literária está hoje presente em todo o lado. As "batalhas literárias" de que falava Benjamim transferiram-se para o mercado. (...)
A par disto, o espaço dedicado à crítica tem vindo a diminuir drasticamente; estamos hoje reduzidos ao modelo da pequena recensão com intuitos de divulgação (a crítica propriamente dita requer um discurso argumentativo que o modelo jornalístico atual não contempla e até evita); a literatura perdeu o espaço e o prestígio que tinha e o 'espaço público' literário é de uma grande exiguidade; as páginas dedicadas à literatura têm de competir no grande campeonato da cultura do espectáculo; o crítico deixou de saber para quem escreve. (...)
- António Guerreiro, Notícias da Crítica, suplemento Actual, Expresso, 23 Outubro 2010

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