quinta-feira, 22 de maio de 2014
Thomas Bernhard
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Cada escola enquanto comunidade e enquanto sociedade, cada escola, portanto, tem as suas vítimas e no meu tempo as vítimas eram, no liceu que frequentei, esses dois, o aleijado do arquitecto e o professor de Geografia, toda a baixeza (da sociedade) e toda a crueldade e terribilidade naturais enquanto doença dessa comunidade eram todos os dias descarregadas sobre esses dois, eram sobre esses dois levadas a explodir. Os seus padecimentos devidos à fealdade ou à incapacidade física eram todos os dias ridicularizados pela sociedade enquanto comunidade, que não pode suportar tais padecimentos, e com essa ridicularização tornavam-se um motivo de escárnio com que todos, alunos e professores, se divertiam constantemente, sempre que para isso surgia oportunidade, e também aí, nesse liceu, como em toda a parte quando se reúnem pessoas e sobretudo quando estão juntas em massas tão horríveis como nas escolas, o padecimento de um só ou o padecimento de alguns, como o padecimento do aleijado do arquitecto ou o padecimento do professor de Geografia, tornam-se objecto do seu infame divertimento, que não é senão uma repugnante perversidade.
(...)
in AUTOBIOGRAFIA, Ed. Sistema Solar, Lisboa 2014, pág.115.
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