terça-feira, 22 de outubro de 2013

Poemas com gatos ( I )

















FELINUS

A Maria Tobias era preta
e branca. Na parte branca era
Tobias e era Maria na preta. Morou
connosco cinco anos. No sexto, numa
quinta-feira santa pôs-se a dormir
depois de um longo jejum. Ficaram-nos
nas mãos festas desabitadas e os poucos
haveres: uma malga, uma manta, um bebedouro,
que não lográmos enviar
para a nova morada.

I.L.
in COISAS QUE NUNCA, & etc, Lisboa 2010, Pág.31.




PRÉSTIMO

Um gato não serve realmente
para nada, vão quase seis séculos
desde o tempo das caravelas
onde embarcou com os marítimos para
extermínio dos roedores que
infestavam o porão das naus. Agora
só o dorso oferece às carícias
ou ao regaço o peso
do pequeno corpo, ronronando
a grata beleza de existir.

I.L.
in ASSINAR A PELE, Antologia de Poesia Contemporânea Sobre Gatos,
Org. de João Luís Barreto Guimarães, Ed. Assírio & Alvim, Lisboa 2001, Pág. 96.
 

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