quinta-feira, 14 de abril de 2011

O resgate desnecessário

Ilustração de João Fazenda para o New Yorker
Um senhor de nome Robert Fishman, professor de sociologia da Universidade de Yale, que certamente nenhum português conhece, escreveu hoje um artigo no New York Times intitulado: «O resgate desnecessário de Portugal». O senhor, que está longe, percebeu o que muitos dos que estão perto teimam, por razões partidárias, em não perceber, a saber:

1.Portugal teve um forte desempenho económico nos anos 1990 e estava a gerir a sua recuperação da recessão global melhor que vários outros países na Europa, mas foi sujeito a uma pressão injusta e arbitrária dos negociadores de obrigações, especuladores e agencias de 'rating.


2.Estes agentes dos mercados financeiros conseguiram, por razões míopes ou ideológicas levar à demissão de um governo democraticamente eleito e potencialmente "atar as mãos do que se lhe segue.


3.Portugal não tinha subjacente uma crise genuína e foi sim sujeito a ondas sucessivas de ataques por negociadores de obrigações.


4.Distorcendo as percepções de mercado da estabilidade de Portugal, as agências de 'rating' - cujo papel de favorecimento da crise do 'subprime' nos Estados Unidos foi amplamente documentado - minaram quer a sua recuperação económica, quer a liberdade política.


5.Se forem deixadas desreguladas, estas forças de mercado ameaçam eclipsar a capacidade dos governos democráticos para fazer as suas próprias escolhas sobre impostos e gastos.


6.A revolução portuguesa de 1974 inaugurou uma onda de democratização que varreu o globo. É bem possível que 2011 marque o início duma onda de usurpação da democracia por mercados desregulados, com a Itália, Espanha e Bélgica como próximas vítimas potenciais.


Por cá, o presidente da República, «enxovalhado» na campanha eleitoral pelas suas ligações ao BPN e Pedro Passos Coelho a «precisar» de ser primeiro-ministro, no momento mais delicado, ajudaram a este gigantesco festim dos mercados internacionais.

(Por Tomás Vasques - in Hoje há conquilhas, amanhã não sabemos)

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