Soneto Dominical
Já não me aflige mais a pasmaceira
do domingo. Meus filhos mundo afora
e eu em casa pensando. A vida inteira
ensina-me a ser só. Não é agora
que eu hei-de reclamar. Segunda-feira
há-de chegar. Há-de chegar a hora
em que se apague a chama derradeira;
em que a vida me diga: vá-se embora.
Tudo tão natural. A árvore morta
já não abriga pássaros nos ramos
que, pouco a pouco, vão caindo ao chão.
Amei mal as mulheres. Mais amamos
nós mesmos, nosso ofício. Pouco importa
a vida; este domingo; a solidão.
Ildásio Tavares, 25-01-1940/31-10-2010
Nota: conheci o Ildásio aqui no Porto das diversas vezes que cá veio em trabalho de divulgação poética, nomeadamente na Faculdade de Letras do Porto. Era uma personagem singular, vibrante, de um grande poder comunicacional e de vastos e diversificados saberes. Foi professor de Literatura Portuguesa na Universidade Federal da Bahia e tem uma considerável obra no domínio da poesia, ficção, ensaio, além de ter colaborado com alguns dos nomes maiores da MPB.
1 comentário:
Cara Inês, lindo poema, linda homenagem. Feliz em ver a poesia de meu pai frutificando e viajando o mundo. Fiz uma homenagem a ele, também. Segue o link, abaixo;
http://teatronu.blogspot.com/2010/10/meu-pai-subiu-no-telhado.html
grande abraço
Enviar um comentário